segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Daquilo que somos e do almejamos


Igualdade, conhecimento, ética, trabalho, dinheiro (algo mais cobiçado e necessário), responsabilidade social, liberdade, cidadania, respeito, progresso, paz, amor, reflexão, ação, decepção, alegria, …, poderia ficar horas escrevendo palavras soltas, do qual os seus sentidos são diversos. Pra ser sincero, são palavras que vieram assim que abri o editor de texto. Não me vieram para tratar de algo específico, mas por pensar na complicada “natureza” humana – se é que podemos assim falar. Segundo Dostoiévski “nada que é humano causa estranheza”, isso é ele que diz, mas não tem como não estranhar tanta coisa que se vê e que se ouve por aí. Claro! Das desigualdades, das injustiças, mas diria que este estranhamento já é cliché. Em um país como o nosso isto é absolutamente visível. Penso nas “estranhezas” mais sutis, mínimas. Ninguém que está fora consegue ler e/ou perceber. É a terceira ou quarta dimensão que nos coloca frente a frente com àquilo que somos – em todos os seus aspectos. É o momento que todas as palavras citadas no inicio perdem o seu sentido conceitual e não conseguimos enxergar além de nós mesmo. Ficamos cegos e nos fechamos em nossos interesses e em nossos mundos. Naquele velho sentido de que não podemos parar em hipótese alguma e é, justamente, neste momento que somos capazes de falar das coisas mais surpreendentes porque só conseguimos vê o que nos interessa.
Não é a toa que grande parte da obra do genial Dostoiévski gira em torno desta “estranheza”, numa relação de amor e ódio, impossíveis e confusas, ao mesmo tempo. É algo que surpreende – talvez daí a genialidade deste autor em conhecer os meandros perigosos da alma humana – que muitas vezes possamos encontrar o conflito quando se espera o contrário, mas é, também, surpreendente perceber a falta de caráter em gestos humanos que do lado de fora soa como um gesto sublime de bondade. Portanto, a imersão da vida não está apenas na ação, mas nos seus sentidos mais profundos. Está naquilo que jamais confessamos para o outro e que muitas vezes negamos para nós mesmos. Daí a necessidade que temos de justificar e, pra ser mais racional muitas vezes quantificar (algumas vezes expressando até valores).
Está, igualmente, nesta dualidade um sentido profundo de existência – algumas vezes de resistência – é quando nos deixamos guiar pelo espírito público, quando construímos ideias (ou ideais) e nos pautamos por eles. Daí surgem todas as palavras empregadas lá no inicio. Mas vejo que este é passo mais importante, porque é daí que somos capazes de criar um vínculo mínimo de humanidade, na construção de uma linguagem comum e, principalmente, de civilidade. Vamos por meio de todos esses princípios abandonando o lado mais “estranho” para nos dedicarmos a algo mais e mais forte do que a nossa própria constituição. Somos formados e formadores. Conseguimos com esse “espírito” de civilidade enxergar uma humanidade e fazer com que o nosso local possa transcender nossa medíocre existência (por mais extraordinário que alguém possa ser), nos colocando numa condição de iguais, do qual a necessidade primeira é olhar o outro numa projeção daquilo que desejamos melhor para nós (pelo menos este é o ideal).
Acredito que este é o grande desafio. Encarar o que há de mais subliminar sem perder-se nesta mistura das intenções com a ação. Isso é uma lógica que nos obriga a tentar ver o que há por trás das cortinas deste grande palco que é a sociedade, a não ser que desejemos ser expectadores, assistindo a encenações, sentadinhos em nossas poltronas, com nossas justificativas e com medo de conduzirmos nossa própria história. Portanto, não é o sucesso ou fracasso que devamos encarar, nem a velha dualidade entre o bem e o mal, mas o que somos e daquilo que poderia nos surpreender, do que nos causa “estranheza”. Pra tudo isso, viver e seguir nossas convicções é a melhor saída.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O que não vemos em nossos espelhos


Quais as questões centrais e/ou, pelo menos, a que todos deveriam estar certos que não deveriam nunca ser questionadas? Ou mudadas? Ou serem apontadas como o grande ideal? Muitos poderiam indicar um monte de coisas. Eu, também, posso. Todos podem, mas não vejo isso como um elemento central, por uma questão simples: a diversidade de propostas e princípios nos daria algumas horas de leitura - se é que fosse possível concluir todos. Isso não é ruim, muito pelo contrário. No entanto a questão é abrangente e complexa do qual – repito – não me atrevo a uma única resposta.
Quem sabe liberdade de pensamento. Mas, liberdade de pensamento não deve ser nunca motivo para ofensas. Todos em alguns momentos, em nome dessa suposta liberdade chega a falar coisas que não se deve, mas isto não é liberdade de pensamento, mas ausência de algo que organize e sistematize o pensamento.
A luta por grandes ideais? Quais? Os da direita ou da esquerda? Quem é da direita diz que a esquerda é o mal; quem é da esquerda diz que a direita é o mal. Cada um com seus teóricos, suas teorias e suas verdades. Estenda-se isso a quase tudo. Pessoas vão tomando posições de acordo com suas conveniências e a justificando da melhor forma possível. O ápice de tudo isso é a guerra, a violência, as intolerâncias das mais diversas ordens.
Como não sou um cosmopolita e minha visão de mundo está restrita ao meu microscópico mundo e a ignorância intelectual, não tenho respostas prontas a essas questões. Apenas impressões. Minhas impressões indicam que há sociedade (ou pelo menos grupos sociais) que aprenderam a lidar melhor com essas diferenças, mesmo que sejam poços de contradições.
Basta que comparemos perspectivas de vida em algumas sociedades, ou até mesmo entre nós – entre classes e grupos sociais. A constituição e o peso desses valores tende a ser bastante proporcional às oportunidades e aos universos que estão inseridos. Acredito que nos falta essa coragem em assumirmos nossos locais, nossas reais condições de vida, nossa história, aquilo que gostaríamos de ser. Talvez fossemos menos hipócritas, mentirosos, autoritários e, tantas outras mazelas que apontamos no outro, mas que infelizmente, está em todos nós: homens e mulheres corroídos pela própria vaidade, igual a Dorian Gray, de Oscar Wilde.

Vivemos um modelo de sociedade que preza em demasia aos papeis sociais, as conveniências institucionais, sem dá muito importância as questões que podem formar o homem (e mulher) em todas as suas dimensões. Em função disso, metodologicamente, nos isolamos numa repetição doentia que nos faz repetir velhos dilemas, velhos problemas. A novidade seria a possibilidade de não explicação e a incerteza que poderia nos levar à construção daquilo que não conhecemos. A sensação de que algo diferente acontece e, que todos admirem com espanto o futuro por construir.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Admirável Mundo Velho


Muitas vezes nos deparamos entre críticas e lamúrias que o Brasil está pior e que vivemos uma crise sem precedentes. O que pretendo colocar são perspectivas pessoais e pautadas no censo comum, portanto, não ouso fazer análises ao nível dos cientistas políticos. Não quero afirmar que vivemos uma crise, porque minha impressão é que ela ainda não começou, portanto, fica difícil apontar a dimensão das questões sociais e políticas que vivemos no momento. Vários segmentos vivem momentos difíceis, mas é preciso cuidado para não cairmos em desculpas que não refletem e/ou não tem nexo com as questões macro estruturais. Seja em momentos de crise ou em bonanças há sempre pessoas que aproveitam na satisfação de questões pessoais. No caso brasileiro, no qual cada um quer ser mais esperto, ou só pensam em salvar a própria pele. Nosso senso de pensar o coletivo nunca foi dos melhores, basta ver como nos mantemos passivos diante de problemas que afetam a todos. Vemos e, muitas vezes vivemos, mas fingimos que não é conosco. A prática é jogar pra o coletivo aquilo que é de nossa responsabilidade, portanto, dizermos que os males e/ou aquilo que não funciona é culpa de entes que está fora de nossa persona. Diante disso, realmente, não sei se estamos em crise – olha que digo isso, num momento que teria todas as condições de afirmar o contrário. Repito, não sei, porque todos os nossos índices de desenvolvimento social sofreram ao longo dos anos, pouquíssimas mudanças. Crise? Quais foram as melhorias no campo da saúde? Quais foram as melhorias no campo da educação? (E, que fique bem claro que não estou falando em número, mas em qualidade, em mudanças nas mentalidades das pessoas, em práticas efetivas que transformam um país) Quais foram as mudanças no campo da segurança pública? Quais foram as melhorias no campo de uma atuação preventiva e protetiva de jovens e adultos na construção de alternativas de outras perspectivas de vida? Reafirmo com meu senso comum- , mas que nenhum doutor (leia-se deus da sabedoria) ou militante político me faria mudar de convicção -, não estamos em crise porque nunca saímos dela, porque tudo que vivemos ao longo de bons anos, quando se vendia a mentira que eramos maiores que a Inglaterra – e, só sendo ingênuo para acreditar – não passou de uma bela peça de marketing justifica por números, que como sempre dizem muito pouco sobre o que as pessoas são e como vivem.
Estamos, lentamente, acordando, até que nos empurre goela a baixo um outro sonífero sobre o nome e/ou a sigla salvadora do país, apresentadas em cenários azuis em propagandas coloridas da televisão e/ou que tenha o discurso prolixo de algum intelectual em sua função pública e, politicamente, correta por ser esquerda e amar tudo que lhe lembre a libertação dos pobres, em fotografias, em frases de efeito sem nenhuma graça e – pior! - fora de contexto. Podem, igualmente, nos empurrar com outros remedinhos que nos lembro o velho dilema do bem e do mal, numa dialética tão infantil quanto a crença do futuro do comunismo. Mas, antes que retornemos ao sono, não custa lembrar que o “Admirável mundo novo” de Huxley não é mera ficção. Vivemos um mundo totalitário sustentado pelas mentiras e por gestos mecânicos (porquê não programados). Somos seres produzidos em série, somos números, somos gastos e, quando não servimos somos descartados – assim como fazemos com todas as porcaria que compramos e jogamos fora, mas o pior e mais trágico é somos programados para acreditar que a causa de tudo isso está em nós, que por alguma razão deixamos de prestar e, por medo (em especial dos mais fracos e menos esclarecidos) e, covardia (isto vem sempre dos ditos mais esclarecidos) fugimos e bajulamos nossos programadores ou nos escondemos em nossos lixos diários a nos entorpecer e a acreditar em todas as bobagens que nos jogam em cores e frases de efeito. Então? Como podemos está em crise, se ainda não cruzamos fronteiras cruciais de nosso tão sonhado desenvolvimento. Qual a crise se ainda não somos modernos? Qual a crise se ainda somos escravos de sistemas governados por tiranos, que nos abraça e nos beija para dizer o quanto não somos?
Claro que tudo isso são aspectos do senso comum, do meu senso comum, reflexões daquilo que muitos poderiam classificar como sendo o meu fracasso. Que o classifiquem, mas não esqueçam que entre tanta coisa que temos, uma das melhores na modernidade é a possibilidade de podermos comparar, sem precisarmos estarmos in loco. Por isso, não vejo crise, mas a face mais dura que sempre nos recusamos a aceitar. Aquilo que, realmente, somos. Neste sentido, acordar significar temos a coragem de mudar, sem o velho pieguismo, que serve apenas para justificar ainda mais situações que nos põem em nossa posição de covardes. No dia que de fato ocorrer uma crise não será de nenhuma natureza da que assistimos ou daqueles que se usam para fuder os outros. No dia que vivermos uma crise, será no dia que resolvermos, de fato, acordarmos e buscarmos – enquanto projeto da polis – a construção de um bem único, no qual a injustiça cometida com o desconhecido é a injustiça que se comete contra todas. A verdadeira crise – se algum dia ela acontecer (porque não acredito) será no momento em que os poderosos terão que ceder a seus interesses, em função daquilo que teoricamente está posto para todos. Para além disto, prefiro o “Admirável mundo novo”, de Huxley tem me dito muito mais, do que todo esse barulho.


terça-feira, 24 de novembro de 2015

Projetando sobre as não vivências

 Uma hora da manhã. Acordado por paixão, diria. Lendo àquilo que considero interessante, mesmo diante do desapontamento que é viver em condições precárias e com poucas perspectivas. Pensando sobre esse tempo, de grandes dificuldades. Imaginando que minhas crenças e meus sonhos parecem está muito mais próximos do passado que nunca vivi, do que do futuro que me aguarda – embora, pretenda projetá-los na frente. Na minha mesa sob a luz da luminária um pequeno livro, de um dos intelectuais que tenho admirado por sua perspectiva de pensar o mundo. Longe dos preconceitos academicistas e de todas os dogmas do que chamam ciência, penso que Wrigth Mills, ainda hoje, está a frente do que preconizava como sendo a atividade intelectual como um artesanato.
O princípio me convence, por um critério simples: não me vejo em círculos de intelectuais conversando difícil, teorizando sobre tudo e sobre todos e, tirando conclusões que só cabem para eles mesmos. Por que não escrever simples e para todos? Por que não escrever sobre algo que esteja ao alcance de todos? Eu não sei fazer isso, mas acredito e almejo. Daí buscar como um discípulo, busca no verdadeiro mestre – aquele do ofício e/ou do artesanato -, lições sobre sua arte, buscando – com liberdade – seu próprio jeito de desenvolver sua arte.
Essa não é uma tarefa fácil. Muito mais fácil é ser acadêmico no decoreba de regrinhas, métodos e todo um modo de pensar - que só pode ser 'àquele', se não você não é aceito – do que propriamente, se descobrir num modo próprio de ser na escrita, na literatura. Um artesão e seu artesanato. Falo da literatura e dos campos da escrita, mas pode ser, facilmente, empregado em todos os campos de atuação. Basta compararmos os melhores profissionais em todas as áreas de atuação. Há coisas que só determinadas pessoas têm e, por mais conhecimento que outros venham a ter na tentativa de se comparar não alcançam. Isso acontece com àquele garçom pelo qual todos querem ser atendidos por ele, ou o médico(a) que todos procuram por uma série de qualidades que estão muito além de um metiê profissional. E aqueles empresários notáveis que começaram do nada e se transformaram em referências de sucesso para muitos, em contrastes com àqueles que se julgavam de sucesso e espantam os demais pelo fracasso? Enfim, essa lista sobe o fazer, saber fazer, segundo Mills, também, está muito associada a um aspecto fundamental de nossa existência: a construção de nosso ser.
Se tenho convicção que estou propenso à ser engenheiro, não adianta enveredar para filosofia só porque poderia dentro de um cálculo achar que me daria melhor. Isso pode parecer simples, mas só aparência. Numa sociedade que tudo se converte em número e/ou em algo que tem que apresentar uma função esse é um princípio cada vez mais deixado de lado (aplica-se isto a todas as áreas), portanto, pensar naquilo que se faz como uma arte – independente do campo que atuamos e vivemos – é um gesto que não cabe a racionalização do mundo que vivemos. Talvez, por isso, que não vejamos tantas novidades e fiquemos em práticas conformadas por regrinhas (no meu caso, acadêmicas). O que seria esta falta de criatividade, se não o olhar pragmático e de coisas rápidas, de um tempo superficial com nenhum espaço à imaginação e ao novo?

É por conta dessas questões que penso viver num tempo desconexo de minhas crenças, daí o meu flerte com o artesanato.  

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

29 de outubro: Dia Nacional do Livro


Hoje, 29 de outubro, é Dia Nacional do Livro. O que poderia ser motivo de orgulho para nós, reflete apenas com data a ser lembrada, mas não comemorada como um país de leitores. Aliás, neste requisito somos um dos mais atrasados da América Latina. Apenas para que ninguém venha me importunar sobre a veracidade dos fatos, informo que não estou falando de impressões visuais, mas de dados – a exemplo da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” que em uma de suas pesquisas (2012) constatou, por exemplo, que 85% das pessoas entrevistadas preferem assistir TV do que ler um livro. Essa é uma pequena informação que diz muito pouco, o problema é bem mais grave e complexo, no entanto, quero deixar de lado as informações científicas para quem foi escolhido por Deus para ser portador destas informações.
Prefiro falar como leitor e alguém que, por sorte, desde muito cedo teve contato com a leitura e os livros. Falo a partir de algumas dezenas de livros já lidos e relidos. Neste sentido, penso que falar do dia Nacional do Livro tem um papel muito mais simbólico sobre o valor do livro. Vejo como lamentável quando escuto pessoas se queixarem que tem que ler um livro para fazer algum trabalho acadêmico. Colocam a leitura como um castigo ou algo penoso. Pior é constatar que não há o menor interesse pela prática da leitura, na grande maioria visto como um ato de obrigação. No meu curso de graduação cheguei a conhecer alguns que terminaram o curso apenas lendo xerox (na grande maioria fragmentos de textos). Na prática liam o estritamente necessário. Ah! Mas deixa ir mais longe: conheci até doutorandos que só liam àquilo que seus sábios orientadores mandavam. Liam estritamente (porque não dizer estreitamente). Diria que de tudo isso não é ruim. Pior é não ler, pior é não ter livros, mas sinceramente, estes nunca me convenceram de nada, porque lê é algo bem mais complexo, sempre li por prazer e quando por obrigação na busca do quanto a leitura poderá me ser útil. Não leio para satisfazer o ego de terceiros. Para quem faz isso o vocabulário cabe apenas em um tipo bem especifico de dicionário (diga-se de passagem, que não serve para o mundo).
Muitos podem pensar que isto não tem sentido nenhum, porque o importante é que a doutoranda leu e se deu bem, ou mesmo as sumidades do mundo intelectual, que só são o que são porque tem muitos livros e forma pessoas com esses livros. Diria que isso não é mérito é obrigação. O outro lado é o fato de estarmos bem abaixo dos níveis de leituras não é culpa dos preços dos livros, nem é culpa (apenas) dos políticos. Sobre isso lembro uma vez que um doutor ficou tirando uma com minha cara porque estava lendo Jack Kerouac (Os subterrâneos). Não me intimidei com a ironia, aliás só reforçou minha convicção do o fato de não termos leitores se deve em alguma proporção a uma elite que esnoba de leitores que gostam, por exemplo, de Paulo Coelho. São vistos por esses grandes intelectuais de gabinete como ignorantes que consomem uma literatura de massa. O Pior de tudo: criticam sem nunca terem lido, naquela velha política: “não li, não gostei”.
Outro fator que impede a expansão da leitura no Brasil são as poucas bibliotecas públicas e as que temos são pouco atraentes ao grande público. Além de serem excessivamente burocratizados (à brasileira) e com horários reduzidos. Bibliotecas deveriam funcionar 24 horas. Prova disso são os exemplos de bibliotecas e/ou locais de empréstimos de livros, com grande procura de todos os segmentos e idades. Lembro do bom exemplo que tivemos no metrô do Recife “Biblioteca nos Trilhos”, infelizmente não existe mais, mas que na época era bem frequentada. O mais notável é que por ser um sistema de empréstimo, as pessoas cumpriam os prazos. Quando se dá o incentivo as pessoas respondem positivamente, procuram. Como formar uma nação de leitores se os livros estão inacessíveis? Ou acessíveis a segmentos e a classe sociais especificas? Mas ai vem a grande questão: TODAS as elites (digo todas as elites) desse país querem de fato emancipar as pessoas? Querem fazer as pessoas pensarem ou ensiná-las a pensar? O melhor que vi de alguns foi o adestramento, mas a pensar … nada!
Ler abre nossos horizontes, nos possibilita ver além dos muros de nossa existência. Quando lemos descobrimos novas possibilidades, que não conseguiríamos enxergar apenas com nossa visão limitada de mundo. Ler nos ensina a viver em meio as dificuldades, mas principalmente, ajuda a nos libertar do que nos prende, nos oprime. Talvez seja por isso que as pessoas tutelam tanto o que deve ou não ser lido. Alguns tem medo inclusive.
Ler não me deu o que pretendo ter de bens materiais, no entanto, me ajuda a entender melhor o mundo. Me ensinou que as possibilidades não está apenas numa visão maniqueísta e interesseira dos poderosos e/ou daquelas pessoas que nos controlam. Cansado, doente, algumas vezes com fome, mas quando abro um livro percebo que resta ainda uma possibilidade, que a vida não é apenas o que vivo, mas o quanto sou capaz de me projetar naquilo que estou lendo.

ainda sobre leitura:
http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2015/04/70-dos-brasileiros-nao-leram-em-2014-diz-pesquisa-da-fecomercio-rj.html

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O capacete não nos dá o credenciamento de ultrapassarmos os limites



Ontem vi uma cena que me deixou com frio na espinha, infelizmente, algo que tem sido a muitos anos advertido, mas que por pressões de setores financeiros nem sempre tem sido fácil estabelecer um controle e uma política de prevenção. São os acidentes de motos. Como motociclista e algo que me incomoda, em especial numa cidade como a nossa que além de motociclistas mal preparados contam com uma série de problemas estruturais, como irregularidades no asfalto (não é só buraco que dá queda), péssimas condições de sinalizações. Outro fator muito grave – infelizmente, não posso provar empiricamente – é que grande parte dos motociclistas não entenderam a dimensão do que é montar numa motocicleta - independente das cilindradas, que pra mim funciona como se fossem categorias de motos diferentes. A primeira coisa que devemos ter em mente é o risco do acidente. Digo mais: o risco da morte e, não precisa que alguém bata, basta um erro, um momento desconcentrado a sessenta, oitenta quilômetros por horas. Pequenos erros que são fatais e, mesmo que não mate, qualquer acidente de moto doí bastante, machuca fisicamente e psicologicamente.
Mesmo com todos os risco o que mais se assiste são atos de imperícia e de total descaso sobre a responsabilidade do que é pilotar uma motocicleta. Neste sentido, quero chamar atenção ao que chamei “pilotar motocicleta”. Pilotar requer alguns cuidados e técnicas específicas, coisas simples que vai desde o ajuste correto dos retrovisores – para evitar ao máximo os chamados pontos cegos -, calibragem dos pneus de acordo com o peso, ajustes do freio f acordo com seu estilo de pilotagem e dicas como: nunca execute um movimento se não estiver certo que os demais condutores e pilotos o o tenham visto, ou a clássica “deixe claro o movimento que pretende fazer e faça apenas se perceber que o outro lhe notou”. Claro que há muito mais coisas a serem tratadas, mas não quero dá aulas de pilotagem, até porque necessito delas. Quero apenas reforçar que devemos ter conhecimentos mínimos, porém, o que vejo é uma legião de pessoas despreparadas, mal-educadas se machucando e machucando outras.
Por isso, todas as vezes que vejo um motociclista no chão penso que algo precisa ser feito. Não é possível que pessoas se habilitem apenas fazendo aquele oito ridículo e pronto. As aulas teóricas nas autoescolas, também, dizem muito pouco porque está mais voltada à automóveis (carros). A motocicleta envolve um estilo especifico de condução e deveria ser tratado como tal e, no caso brasileiro, com rigor na sua licença.
Mas voltando a cena, ainda não consegui entender como um moto consegue ficar debaixo de um carro na contramão – no caso, entendi que a moto estava na contramão no momento da colisão. Como característica comum aos acidentes de moto, em cruzamento - por isso, vale a dica nos cruzamentos: reduzir a velocidade e, se possível colocar o pé no chão (ou seja, dá uma paradinha e olhar pros lados). Ao ver o estrago do carro e a quantidade de sangue do lado, senti uma dormência nos ombros. Encostei a moto metro depois, desliguei o motor e reclinei o corpo sobre o tanque. Um senhor que passava ao lado, notando perguntou se estava bem. Desci, tirei o capacete para respirar melhor. O medo só me inibiria de voltar e ligar a motocicleta, por isso, fui até o local do acidente. Por sorte o rapaz já estava sendo atendido e o serviço médico a caminho. Tomei uma água, respirei fundo e segui para meus pequenos afazeres. Um pouco incomodado com as imprudências alheias, também, chateado e desiludido com tantas outras coisas.
Não sei porque acho que os acidentes de moto se assemelham aos acidentes de categorias automobilísticas, por uma razão muito simples. Os motociclistas, de forma errada, insistem pilotar sempre no limite do equipamento. Essa prática tende a levar a resultados inesperados, isto porque temos que considerar a própria falha mecânica, sempre possível. É preciso ensinar e repetir exaustivamente sobre os perigos de se pilotar uma motocicleta – inclusive enfatizando-se o risco da morte. Como piloto (e condutor) faço questão de esta sempre atento a este inconveniente. Somos piloto, mas o capacete não nos dá o credenciamento de ultrapassarmos os limites.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Não vejo a hora de “Agosto” terminar


Mesmo não fazendo parte do grande grupo de sacerdotes do conhecimento, escolhidos por entes divinos para opinar sobre algo; aproveito – ainda – o pouco de liberdade que resta para dar meus pitacos pitorescos, sempre que me vem a mente alguma coisa “publicável”. Primeiramente, farei uma transcrição do livro 'Agosto', de Rubem Fonseca. Bem interessante a história do livro. Trata de uma série de escândalos que envolveu o governo Vargas em 1954. Acontecimentos que antecederam a interrupção de seu governo, por sua escolha trágica. Segue o trecho que me chamou atenção:

Luiz Magalhães não foi encontrado pelos encarregados do inquérito. Manhães, porém, foi preso e levado para a base do Galeão, onde prestou depoimento. Manhães declarou que fora hóspede do Catete no início do governo Vargas, mas que se afastara do palácio depois de um negócio de compra e venda de algodão, que havia feito com financiamento do Banco do Brasil, em sociedade com Roberto Alves, ex-secretário do presidente. Perguntado quanto ganhara nessa transação, disse que não podia precisar, pois já se passara algum tempo desde que o negócio se realizara. Para sorte dos investigadores, o homem com quem Manhães trabalhava em Marília, São Paulo, foi ao Galeão, acompanhado de um advogado, com o fim de tentar liberar o preso. O patrão de Manhães, o japonês Iassuro Matsubara, foi imediatamente preso pelos militares. Arquimedes Manhães declarou que Matsubara financiava a campanha de candidatos à Câmara e ao Senado. Para a campanha de Roberto Alves a deputado federal pelo Estado de São Paulo, Matsubara contribuíra com quinhentos mil cruzeiros. Esse dinheiro teria sido desviado por Gregório para ser entregue a Climério em sua fuga. Em troca das contribuições que fazia, Matsubara recebia financiamentos e regalias especiais do Banco do Brasil e de outras repartições da administração pública, além de favorecimentos de governadores estaduais para a compra de terras em São Paulo e Mato Grosso” (Rubem Fonseca, in: Agosto, pág 297-98,1990).

O que acho interessante é que, quase toda a istória, parece uma reprise de escândalos políticos. Alguém que financia e que obtém favores junto a empresas estatais. O ex-secretário que está envolvido em negócios privados, que pode ter relação de eleitos. Sintomas de problemas antigos que hora está mais “leve”, ora mais grave. É obvio que os acontecimentos presentes têm que durar um pouquinho mais. Não se fala da construção de um país e, para que todos discordem de mim digo mais: nenhum lado fala de construção de um país. O que parece sempre se impor são os interesse privados e/ou corporativos. Afinal, quem está preocupado com as pessoas que morrerão nos hospitais, porque temos - mais uma vez na história deste país – que pagar as contas de erros que não são os nossos.
Enquanto isso vejo alguns intelectuais (não me incomodo de ser queimado como herege) todos bonzinhos e sempre tão românticos com suas visões sobre as necessidades dos pobres, de punhos fechados (quase sempre o esquerdo!)justificando os fins pelos meios e os meios pelos fins, colocando em segundo plano a coerência ou se justificando por suas grandes teorias metafísicas, de que a verdade é aquilo que se justifica para o bem do povo; de um povo que veem apenas pelas janelas dos seus carros ou de suspiros de suas mountain bikes de finais de semana mais saudáveis. Falam do golpe. Eu também falo do golpe, em especial do golpe que sofro dos tos dias, caracterizado pela falta de respeito em todos os espaços sociais, no qual as ditas classes em seu ápice de esclarecimento insistem em chamar (veladamente) de burros todos àqueles que pensam diferente.

'Agosto' é ficção, mas o que não é ficção nesta sociedade hipócrita que usa da meritocracia para justificar muitas vezes a própria incompetência? Deixa voltar pro meu livro é o melhor que faço. Aliás! Não vejo a hora de “Agosto” terminar.

sábado, 3 de outubro de 2015

Para que servem os holofotes, senão para mudar de foco?


Esses dias pensei bastante sobre a censura. Muita gente associa a sistemas que não são democráticos. Logo a contar por nós, que não somos democráticos. Mas não é por isso, que tomarei a posição de afirmar que vivemos sobre censura. Os covardes que ficam calados, porque temem, ou porque são covardes mesmo, não vivem censura. Os que falam o que é conveniente as estrutura do poder, também, não vivem censura. Mas o que é censura. Primeiramente, não trato sobre a perspectiva da lei, muito embora os seus sentidos apontem para ela. Como um curioso sem futuro, tomo como referência os seus sinônimos, que apesar da variância, todos apontam para um estado de que algo dito afronta uma ordem e/ou perspectiva. Não quero relacionar diretamente com liberdade de expressão, por associada a outra coisa, por sinal bem mais trágica em nosso contexto. Denoto ao estranhamento e ao banimento – como consequência – de todos que passam pelo constrangimento da censura.
Muitos podem pensar que os censurados são os escritores, blogueiros, artistas de um modo geral. Na verdade os holofotes da censura brilham mais sobre eles, mas não está restrito ao seleto grupo. Portanto, não quero me referi ao seleto grupo. Penso no aspecto da censura que tende a dominar o cotidiano na sua forma mais simples. Não se trata, apenas do politicamente correto, mas é fato que hoje falar o que pensa é tão ou mais perigoso que tempos passados. Duvidam? O que é o silêncio que assistimos de pessoas ditas esclarecidas, senão o medo da censura? Mas não pensem que virá um inquisidor e perguntar sobre todos os sentidos de suas palavras (embora não faltem pessoas para isso). A censura pode está presente num jogo sútil de palavras, gestos e modos de organização que impedem as pessoas de se expressarem naquilo que elas são. De se manterem verdadeiras e dignas em sua existência enquanto pessoa. É este medo que hoje tende a legitimar condições sub-humanas, sob alegação que nada é possível para além do que vem como estrutura.
As pessoas nos seus bairros, nas suas comunidades, muitas vezes no seio da própria família se veem censuradas, com o medo das consequências sobre si e os seus. O silêncio de bairros violentos, pode ser um exemplo, mas pode ser, também, o medo em propor e defender aquilo que acreditam e/ou mesmo afirmarem aquilo que acreditam. A censura pode vir do receio que as pessoas tem de se colocarem em campos de diferenças, das crenças, dos valores, enfim, de expressão daquilo que as pessoas sentem, mas o medo da ira alheia, da perda e até mesmo de consequências no plano das sociabilidades, convida a todos a um gesto de não expressão. E pasmem! Nunca fomos tão democráticos nos planos institucionais e ao mesmo tempo assumimos, tacitamente, a censura como um plano que legitima o vazio jogo das conveniências. E se por acaso, algum tolo venha a achar que a censura é coisa de artistas, saibam que paira apenas os holofotes que desviam o foco da verdadeira censura.
Mas não disse que o era censura – pelo menos como a formulo, neste momento. Primeiramente, censura é um estado de opressão. Se existe o respeito as diferenças - por mais duro que as vezes possa parecer -, não existe censura. Se os papeis sociais e as estruturas de poder (me refiro a ideia de micropoder) estão bem definidas, o dissenso seria a dádiva e não a maldição a ser combatida. Quando não a censura, há, igualmente, menos gente dissimulada, menos lacaios. É por isso que onde há o medo, há, também, traição. As pessoas não estão seguras de si e, por medo de se revelarem, cedem facilmente a pressão. Mas o que é a censura, senão todas as vezes que escuto que devo ficar calado, ou nas vezes que não fico calado e vejo pessoas caladas – muitas vezes imoveis para não dá a pinta que podem está concordando comigo.
Talvez aos bonzinhos e caladinhos estejam certos. A censura é algo que nos abate profundamente, por vezes, nos chega a nos colocar de joelhos. O vazio, o silêncio e a solidão é a característica dos censurados, mas o tempo, também, pode ser a recompensa daqueles que não se vendem e nem se rendem ao vazio jogo das conveniências. Por isso, penso que ainda não somos um povo livre e nossa desarticulação provem de uma suposta neutralidade, mas principalmente, do medo, de um eterno estágio de vigilância em sermos “bonzinhos”, fingindo que vivemos num mundo de “bonzinhos”, mas sem darem-se conta que a percepção do mundo, deve ser, igualmente, a soma daquilo que somos. Isso é difícil porque implica viver com a diferença, daí - talvez – seja melhor censurar do que partir para o bom jogo do convencimento, que diga-se de passagem não existe quando a censura é a regra.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Sinopse (Conto)


Após dez anos de conflitos não havia mais o que recuperar. Já não se sente o cheiro, apenas o frio da derrota. Pouco importa está vivo. O gosto amargo na boca em decorrência dos gases das bombas, as mãos ressecadas pelo calor das armas e por uma grande fome que já assolava o país desde o primeiro ano de guerra. Alguns até sabiam que tinham casa, ou pelo menos escombros. Outros queriam atravessar o rio e recomeçarem a vida. De algum modo. Nas ruas zumbis caminhavam de um canto a outro. Todos queriam um cemitério, porque a fumaça que saia dos escombros era o maior sinal do fracasso de todos os sonhos construídos. Já não havia nada a ser pervertido. A guerra é a maior perversão do homem. Pode ser o ápice de sua inteligência, mas o fracasso de sua condição.
Sem lágrimas e lamurias. Sem risos de reencontros. Em todos apenas a certeza que precisavam retirar os escombros e reconstruir o país. Claro que não seria a mesma terra. Demoraria pelo menos três gerações e, pelo menos duas gerações sumindo com suas memórias que todo um povo voltasse a sorrir. Apenas alguns poucos amantes da história poderiam voltar ao tempo e reconstruir o que deveria ser esquecido. Helena sempre obcecada pelo passado, que por vezes se confundia com seus personagens. Para ela, recontar a história seria viver duas vezes, sem o ar da novidade, mas as possibilidades de viver sentimentos inexplicáveis. Suas maquetes davam o exemplo disso. Do outro lado da cidade um marginal que não acreditava do presente, que desconhecia o riso, assim como achava tolo todos que o fizessem. A vida era seu maior azar e entre a insuportável existência, buscava na vida de desgraçados jogados na rua uma razão para contar o outro lado que todos negam. O quanto somos miseráveis e egoístas. Nos negamos porque nossa consciência entorpece com o estigma do que chamamos de fé. Assim era Pedro, que se por acaso, seu nome vem de pedra, ele fazia questão de prova em vida que Pedro não é pedra, mas escombros, de uma família destruída e autodestrutiva.
Mas o que seria possível entre o improvável: Helena e Pedro? Alguma coisa próximo ao nada está por acontecer. Escombros e morte se reencontram na construção de algo novo …
Essa é a ideia de montar uma história ante-histórico.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Sobre Polis, Política e o cuidado de tod@s

Por mais que as pessoas não gostem de política, as crises sociais, os problemas que envolvem pessoas, comunidades e instituições dependem diretamente de um ato que delibera pela política. Há outros aspectos que reforçam sua importância. Quando algum gestor público eleito com o voto da população descumpre promessas, atua no sentido de não proteger os direitos de quem os representa. Determina ações desconexas da realidade e das reais necessidades daqueles que precisam do Estado. Não faltam exemplos, basta pensarmos que a escolha de alguém que não pense nas questões da saúde como sendo primordiais à população, pode facilmente elencar prioridades que, certamente, tendem a refletir sobre vidas – que num momento de extrema fragilidade – se veem as condições mínimas à um atendimento humano.
Vejo como lamentável quando as pessoas dizem não gostar da política. Primeiro não se dão conta que estão abrindo mão da própria liberdade. Normalmente, escolhem por escolher e não pensa nas implicações. Lembro que em uma das eleições municipais, esperando ônibus para votar duas mulheres se reclamavam por terem de sair de casa no domingo. Acredito que estão certas; um dia é pouco para escolher alguém que pode prejudicar com nossas vidas. O problema foi à solução que elas encontraram:
“Oxê, vou votar naquele “G” que está na frente, assim não tem que ir de novo.” Faziam referência ao segundo turno, ou melhor, como evitá-lo.
“É mermo. Vou fazer isso.”
Parece que de fato conseguiram evitar o incomodo de sair de casa novamente.  Não estranharia, se por acaso, na mesma parada de ônibus encontrasse as mesmas pessoas desta vez falando o quanto nossos representantes políticos deixam a desejar. Não estranharia os xingamentos vazios, e as palavras repetidas - como papagaio – tantas vezes repetidas pelos meios de comunicação, numa autoafirmação do “não gosto de política”. Certamente, se perguntadas se gostam da cidade em que vivem, responderiam com um grande SIM. Pena que seja tão vazio quanto a bela justificativa usada para “não sair de casa no domingo”.
Se me perguntasse se gosto de política, tentaria fugir da velha dicotomia entre bem x mal, certo x errado, falso x verdadeiro. Dicotomias atrofiam o pensamento e não nos permite ver para além dos muros de nossa existência. Ficaria entre, um recurso necessário, tão importante como alimentar-se, vestir-se, amar e, tantas outras coisas vitais, mas que se desprezarmos a política, desprezamos o mais essencial: o cuidado de nossa casa - leia-se, de nossa cidade, do nosso bairro, de nossa rua. Ao que vai faltando na política irá se refletindo em todas essas coisas vitais, que acabo de mencionar.  Afinal, o que esta crise senão o desprezo pela política? E suas consequências, senão uma ausência de tudo que lhe tira a dignidade?

Independente das posições ideológicas, vejo como fundamental não perdermos essa dimensão do necessário, aliás, Pólis – cidade – Política  - cuidar da cidade. Claro que há outras dimensões, no entanto, desprezar o seu princípio é desprezar a nós mesmos.  

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Entre livros, cortiço e um cachorro-quente


Minhas palavras soam como tendenciosas neste momento, mas sou fanático pela literatura. Dostoiévski, Émile Zola, Gustav Flaubert, Jack Kerouac, Machado de Assis, Jorge Amado, Gabriel García Marques, Vargas Llosa e tantos outros que poderia estender uma lista de páginas. Todos escritores geniais. Escritores, que a sua maneira, fizeram arte e, para além da arte, refletiram do modo particular e profundo o mundo que gostariam e o mundo real. Um jogo de palavras difícil e para poucos. Teve épocas que tentei, mas percebi o quanto são geniais. Lembro dos trinta dias que passei mergulhado na leitura de Tolstói e Dostoiévski, perceber o quanto a arte é capaz de nos levar à uma outra dimensão da existência. Na ocasião estava de férias do trabalho e no domingo que antecedia o retorno de minha volta a única coisa pensava era “como é possível?” Não bastasse esses dois autores viscerais, numa semana intercalo com a leitura de Madame Bovary, de Gustav Flaubert.
Mas tem os autores nacionais. Falar de Machado de Assis é cliché. Já li de alguns críticos que se fosse russo ou americano ganharia status de universal. Posso está falando uma grande bobagens, mas Machado é universal, porque trata de temas universais. Mas não posso esquecer de José de Alencar e, muito menos, de Aluísio de Azevedo. A primeira vez que li “O Cortiço” morava num cortiço. Naquele momento nem um tratado de ciências humanas era mais importante do que aquele livro. Na precariedade da vida, ainda mais perdido do que hoje, lia o Cortiço enquanto comia um cachorro-quente, de frente ao Centro de Filosofia. Enquanto Carlos prepara do dog, folheava as páginas de trás pra frente, numa retrospectiva de cenas entre o imaginado real e o real imaginado, no ir e vir de estudantes de classe média preocupados com “A grande revolução”, enquanto comia minha única refeição e procurava, estranhamente, entender a “natureza” de um escritor. Naquele momento Aluísio de Azedo.
As dúvidas ficaram. O livro guardo com carinho especial, com manchas de um passado, Lembro até a hora. Meio-dia. Sol quente. Movimento intenso de ônibus e as mesmas discussões como fazer a “grande revolução”? Eu só queria entender o cortiço, literalmente. Talvez, porque essas coisas nunca foram para mim. Até hoje sou muito ignorante para isso. Esse pessoal que pensa na “grande mudança” é “descolado”, inteligente, cultos e sabem o que é melhor para o povo. No auge dos meus 64 quilos pretendia ter apenas um pouco da força do Jerônimo, porque o Rio Doce/CDU nunca foi moleza. Graças a Deus foi coisa rápida.
Mas outras leitura vieram, igualmente, em outros tempos diferentes, a exemplo de Hemingway. Neste autor a sofisticação do ponto. Nunca aprendi direito. Da sofisticação do ponto passei para a prolixidade dos longos parágrafos de Jack Kerouac. Graças a Deus só cheguei a lê este autor depois - vamos dizer – velho, aliás velho para o que este maldito escritor nos conduzir. Acho que é devido a Kerouac que gosto de viajar de motocicleta, parar em alguma lanchonete de beira de estrada e tentar trocar nem que seja duas palavras com outra pessoa. A sensação de desconfiança deve ter sido a mesma que os malditos beatniks viviam. Andar sozinho na estrada sem olhar pra trás, apenas pra frente. A velocidade não é importante. Importa o ritmo. Após Keouac o jazz é o ritmo. Imprimir a mesma constância entre o ritmo da música e do motor. O improviso perfeito, seguro porque é harmônico. Já perceberam que motociclistas barulhentos são os piores? Não há ritmo.
Não poderia esquecer Milan Kundera em “A insustentável Leveza” e a “Imortalidade”. Na ocasião trabalhava como auxiliar de pesquisa e um grupo de doutorandos passava no corredor do departamento onde trabalhava, e como sempre, entre às 12h30 e 14h sentava no banco para lê. Nesse dia viram que minha leitura não era manual de revolução ou qualquer tratado contra o capitalismo, tratava-se de Milan Kundera. Encarei os risos e deboches com indiferença, ao mesmo tempo que lia em Kundera na sua crítica aos intelectóides de esquerda, sempre tão carentes de espelhos, na busca de uma pseudo imortalidade. Até hoje vejo como um livro importante. A Imortalidade me fez pensar no princípio “uno-e-terno” de Deus. Em Kundera aprendi que todo sintoma de autoritarismo e ironia é sintoma grave de fraqueza e medo eterno do esquecimento. E com quantos desses não temos que conviver ao longo da vida?
Como disse lá no começo: é tendencioso meu argumento pela literatura. Ao tratar disto quero apenas mostrar uma perspectiva entre tantas possíveis, em especial em tempos tão carente de arte – aqui incluo todas as artes – no qual a criatividade tem se rendido ao pragmatismo do tempo e do dinheiro. Diga-se de passagem sintomas de muitos de nossos problemas sociais, políticos e econômicos do qual passamos., mas deixa isso pra lá porque é outra história. Fui!! 





terça-feira, 15 de setembro de 2015

Caindo parado. Não é mera semelhança


Um coisa tenho aprendido ao longo de minha caminhada: nada é por acaso. Ou melhor, o acaso não existe. Penso nisso, no momento que tendo escrever essas palavras entre dores nos braços, na coluna e uma leve luxação quatro dedos abaixo do joelho, que pulsa num ardor pouco comum. Poderia ser pior, verdade! Mas como nada é por acaso, depois que a adrenalina baixou fiquei pensando como? Como? Parei e, sem entender, minha street 150 cc tombava para o lado direito. Busquei apoio duas vezes, mas sem força só me restou deixar a moto deitar. Por alguns segundo pensei que faria parte pandemia de acidentes de moto. Com o motor quente sobre minha perna direita, sem força e sem entender o que acontecia procurava me levantar. As botas ajudam bastante, do contrário teria virado o pé. Fui ajudado por um senhor que cuidou de levantar a moto e me levantar. Não tinha força alguma,a não ser um enorme peso do qual não tinha controle. Graças a Deus apenas dores pelo movimento. Recuperado arrastei a moto para a calçada. Distração deixa a chave na ignição e a parte elétrica ligada. Algumas mensagens para dizer o quanto me atrasaria.
Mas, como nada é por acaso, pensava nas razões da queda. De modo mais imediato diria que um “apagão”. Talvez, o mesmo apagão que vivo, tombando sem movimento. As vezes penso que estou caindo, do mesmo que a moto, caindo sem movimento num apagão que beira o existencial. Como nada é por acaso, não custa pensar um pouco nestas coisas, recuperar-se das dores e seguir pilotando com a devida atenção, com a mãos em punho firme. Do mesmo modo, a viver. Com cuidado para não cair parado. Rezando pelo fim desse apagão.
Ah! Só pra não esquecer: não costumo levar as coisas na dita “maciota”. Prefiro pagar o preço da seriedade do que levar as coisas na dita “maciota”, ou seja, cair parado evitar, sempre que possível.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Vivendo na democracia do silêncio


“... a sociedade alienada não tem consciência de seu próprio existir. Um profissional alienado é um ser inautêntico. Seu pensar não está comprometido consigo mesmo, não é responsável. O ser alienado não olha para a realidade com critério pessoal, mas com olhos alheios” Paulo Freire, in: Educação e Mudança.


 
Nos últimos meses ouvimos, seja pelos meios de comunicação ou por fontes mais informais, que passamos por uma crise, que ao contrário de outras envolvem as dimensões econômicas, sociais e, mais recentemente, ética. A pergunta que me faço é a seguinte: será? Não sou louco, nem ingênuo para acreditar que tudo não passa de uma trama da mídia golpista (tem gente que acredita!). Afinal, 20 bilhões a menos no orçamento público não é coisa de mídia golpista. A questão que pretendo trazer não é essa. Quando falava, em passado recente, que o se constituía como progresso não era progresso, alguns chegaram a me insultar. Por coincidência (ou não) os críticos e agressores hoje me evitam. Por que será? Foi justamente daí que me veio esse termo: “democracia do silêncio”.
Apesar de todo barulho das mídias (incluindo as redes sociais) vivemos num absoluto e absurdo silêncio. Mas não é o silêncio depois da grande catarse. Ao sentimento de que algo está errado, o silêncio. Assim como vejo silêncio dos que me insultaram, ou silêncio dos espertos, ou silêncio da grande massa que vive como se estivem em outro mundo. “Democracia do silêncio”, apenas interrompida por tolos, como esse que agora escreve, ou interrompida por nossas autoridades, constituídas por um saber notório de alguma coisa.
Reforçando a ideia do tolo que rompe silêncio tão democrático, aquele mesmo silêncio advertido que diz, “olha não fala isso, porque você pode se dá mal”, também, não vejo crise pelo simples fato de nunca termos vivido condição diferente do que encontramos hoje como realidade. Simplesmente, porque nada de concreto foi construído ao longo de história. Podem discordar e me chamar de louco, mas recomendo que leiam - do modo mais básico – um pouco de história do Brasil, podem começar por Sérgio Buarque com a ideia do “Homem Cordial”, que ao contrário do que muitos pensam, não é a ideia do homem alegre e gentil – e por isso passivo. A crítica é o principio de que “o homem cordial” é àquele preocupado com os próprios interesses, que para não desagradar os interesses dos outros e nem o seu, usa dos artifícios mais “gentis” para expressar uma coisa que escuto bastante: “cada um que faça o seu, porque eu faço o meu”. Daí que tão democraticamente e harmoniosamente vivemos a democracia do silêncio.
Não me estendo muito, mas com certeza, vamos falar muito, sobre um monte de coisas nesta semana, mas não devemos nos preocupar porque as coisas mais essenciais se preservaram no silêncio e, mesmo que alguém, ousadamente, pretenda quebrá-lo alguém de bem, defensor dos bons costumes, cuidará logo de preservá-lo, e assim, como uma família feliz seguiremos nesse mundo de meu Deus, democraticamente no silêncio.

 

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

“Eu faço a minha parte e pronto”


Essas últimas semanas não estou numa boa fase criativa. Ao contrário de
muitos, não vou alegar este vazio de conteúdo a um ente (de outro mundo) chamado crise. Creio que seja muito fácil atribuir àquilo que não conseguimos fazer, quando na verdade, muitas vezes o que está em jogo é aquilo que não conseguimos ser. Embora não possamos negar que fatores externos devam ser considerados. Quando ouvimos falar em crise na Grécia, de fato, o que se tem como contexto não é cenário ideal. Problemas existem.
A questão que pretendo expor e, portanto, muito mais de uma percepção individual do que propriamente, resultado de teorias e/ou pesquisas. Nestes últimos meses não tenho visto muito sentido nos aspectos da criação, da renovação, da cultura e da arte. Algumas frases de efeito e concepções daquilo que as pessoas não são tem impacto. O que pensar quanto alguém diz:
“Eu faço a minha parte e pronto”
Tem essa:
“Sei não” - normalmente, dita quando questionado e/ou quando se pede opinião sobre algo.
A mais recente não foi bem uma frase, mas uma suposta relação entre teoria, viagem e maconha, como se trabalhar com o pensamento, com as palavras e a construção da realidade fosse algo de “drogados”. Engraçado que com tanta objetividade e coisas práticas as pessoas continuem rodado em volta do próprio rabo como um cão doido. “Eu faço a minha parte e pronto” e, vejo deste mesmo sujeito que se julga acima de qualquer informação e conhecimento um comportamento e uma postura do mundo que mostra exatamente o contrário: as atitudes desconexas (porque não afirmar indignas) demonstram a falta de conhecimento ao que de fato ele deveria fazer. Por isso que tão fácil creditar crises, insucessos e entidades abstratas, por que “estamos fazendo nossa parte”.
Como estou sem ideias e e desconexos em argumentos reconsidero um pouco do que aprendi reforçando valores, para que não seja mais a um a dizer “eu faço a minha parte e pronto”. Para mim nada mais hostil. Viver em sociedade, gostando ou não, requer um pacto (ou contrato) bem maior do que a mediocridade de nossas certezas. Acredito que a falta de criatividade é passageira, tenho lutado contra, em especial, para não deixar me abater diante de um modelo de sociabilidade que não e sociedade e, que está a séculos de distância de produzir algo bom.

“Creio que quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino” Marguerite Yourcenar

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Algumas ideias, sem ideias. No dia que não consegui terminar esta crônica


Ultimamente tenho procurado me desligar de algumas coisas, buscando referências para reinventar-me. Num cenário no qual todos apresentam poucas perspectivas. É a velha inevitabilidade das coisas, determinismo infundado, muitas vezes até justificado pelo que chamam de conhecimento científico. As vezes a sombra e quando não, te apresentam para que sinta medo para que a união de covardes aumentem na mesma proporção. Pior ainda, quando se liga a televisão e vem o mesmo blá, blá, o barulho e a confusão de imagens que nos mantém informados, mas no tira as possibilidades de conhecimento e de caminhos possíveis.
Pensei nessas questões enquanto pedalava. Nos primeiros metros impressionava a quantidade de poeira que cobria a velha bike. Num exercício de força buscava pensar do que seria esses tempos modernos, difíceis e inevitáveis. Depois de quinze minutos você perceber que está vivo, que sua atividade mental fica até mais rápida, esqueço até de coisas mais desagradáveis e se coloca a dar mais uma volta, duas, três, em 45 minutos quero apenas voltar pra casa, porque o tempo “vago ele não existe”. Ainda faltam outras 30 páginas para escrever, o romance que já planejo escrever.
Claro que não dá pra esquecer de algumas coisas que são objetivas: o mundo da vida é bem objetivo. Nossas correspondências lembra isso todos os meses. Bom! Mas não é apenas isso. A reinvenção da vida exige criatividade para podermos acreditar naquilo que não vemos e não almejamos. Particularmente, penso numa perspectiva que vinha apresentando recentemente, que vi de autor americano: a sociedade como cenário e o mundo da vida como sociodrama. Nesta perspectiva temos que ter a noção exata daquilo que somos e do nosso papel. Isso é fundamental porque não faltam péssimos atores querendo estragar a cena de deteriorar nosso papel social.

… vou parar por aqui, porque acabo de receber um e-mail de um desses péssimos atores, que esnobam sua burrice na mesma proporção de sua pedância. Assim é complicado escrever ...

segunda-feira, 27 de julho de 2015

E daí? Uma difícil resposta


Apesar de muitos nutrirem um sentimento de repulsa pela política e políticos fica cada vez mais evidente que este sentimento tende mais a nos prejudicar do que propriamente nos colocar numa zona de conforto. Se não bastasse esse modo por vezes fútil de lhe dar com a coisa pública, quase sempre ouvirmos aos berros ecos de inflexões que não chegam a corresponder a realidade. Inclusive muitos podem até negar, podem até dizer que conhecem a realidade porque ela está aí, porque todos – seja em frases de efeito ou em locuções mais longas – dizem que a conjuntura não é das melhores. Superficialmente, estão certos. No entanto, a realidade social não é apenas o que lemos e assistimos em jornais ou que pensarmos encontrar em telenovelas que se postam como “consciência' da sociedade.
Como sempre sabemos muito pouco sobre as regras do jogo – regras que aliás que muitas vezes é controlada por meninos mimados, que por serem os donos da bola tentam a todo momento mudar o resultado a seu favor. A realidade, como diria o sociólogo Peter Berger, é um exercício que busca a construção de perspectivas para além da realidade, ou seja, para além do mundo visível e previsível. Não é atoa que tudo anda muito previsível, embora para muitos o sentimento seja o contrário. Mas é justamente por pensarmos o contrário que não nos damos conta que o espaço público - que está para além do que entendemos vulgarmente por política e políticos – está carente de perspectivas. O espaço público se compara a um palco no qual parte dos seus atores foram embora e outra metade sentou nas cadeiras da plateia. O que assistimos, hoje, sobre esse palco não são atores, mas os assistentes, que ao sorriso dos pouco que ficaram acreditaram que estariam fazendo um bom papel.
O mesmo Peter Berger mostra que a perspectiva sobre o entendimento da realidade, também, acontece quando passamos a ver a sociedade como reprodutora de seus próprios dramas e mais: “toda situação social é mantida pela trama de significados” (Peter Berger, in: Perspectivas Sociológicas, 1982). É justamente dessas tramas que todas as demais estruturas de poder vão se formando. Questão que pode, inclusive, ser ampliada: todo sistema que sobrepõe valores e estruturas de poder sobre os homens e que ao longo da história tendem a se consolidar como cultura e que vai modelando esse grande palco do qual chamamos de sociedade.
Bom! Muitos poderiam fazer a justa pergunta: E daí? Considero uma pergunta de difícil resposta. Prefiro pensar que por trás de tudo que vivenciamos em nosso contexto, há algo mais. A realidade não é apenas o mundo empírico - ou seja – algo que está circunscrito ao meu “universo” e, que por mais extraordinária que uma pessoa possa ser a realidade é sempre mais. Os indivíduos estão em locais diferentes e veem por esses primas diferenciados. Talvez seja por isso que as pessoas vejam o prisma da esfera pública, apenas do sofá de suas casas, apartamentos e outros.
Cenários previsíveis, de contextos chatos. Como a realidade é sempre a busca do que pensamos como “o certo”, descortinar possibilidades é cada vez mais um trabalho para os 'desajustados', isso porque abandonamos (se é que alguma vez o praticamos) que para além do que vivemos a algo mais para além dos vulgares determinismos.
Para terminar vou citar diretamente o Peter Berger:
Quaisquer que sejam as possibilidades de liberdade, elas não se poderão se concretizar se continuarmos a pressupor que “o mundo aprovado” da sociedade seja o único que existe. A sociedade nos oferece cavernas quentes, razoavelmente confortáveis, onde podemos nos aconchegar a outros homens, batendo os tambores que encobrem os uivos das hienas na escuridão. “Êxtase” é o ato de sair da caverna, sozinho, e contemplar a noite” (BERBER, Peter. Perspectivas sociológicas. Petrópolis:Vozes,2001 p.166)

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Dos dias que não consigo escrever



Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência

Todos os meus contos, projetos literários (romances e biografia) foram deixados de lado. “Deixados de lado!” Apenas um modo de expressão. Como deixados de lado? Algumas vezes me pego lendo escritos antigos, vasculhando papeis, ideias soltas e congeladas pelo tempo. Interessante isso, porque revela o momento, que mesmo sem importância e de pouco valor literário (intelectual) tem um peso simbólico. Faço esta colocação num momento particularmente difícil. Serei, de fato, alguém apto e digno de ser escritor? Um escritor que não escreve? Soma-se isso num momento que escrever é algo crucial para mim – devido a dissertação – condição necessária para continuar atuando profissionalmente e, ampliando meus horizontes de formação, neste ciclo necessário da formação. Aos trancos estou escrevendo, mesmo sem saber se realmente vou conseguir concluir.
Todas essas questões surgem quando ao sentar de frente ao computador que ao ligá-lo pensei: “Que tal voltar a escrever uma pequena história?” Abri o editor de texto e ao ver a tela branca com o prompt piscando, deparei com velhos bloqueios. Tinha a história na mente, só que ao digitar as primeiras palavras a única coisa concreta que pode produzir foram minhas dúvidas. Não sabia se estava “contando” (dizendo) ou mostrando a história. Dizem que o ideal na literatura é mostrar para que o leitor viaje sobre cenas e cenários na sua história que termina sendo dele (o leitor).
Tudo bem! Sei disso, mas por que não fiz? Num primeiro momento tentei justificar-me pela falta de prática – já que faz dois anos que não escrevo nada neste gênero – sem falar da minha ausência da literatura, dos bons livros. Dedução pode está correta, mas parcialmente. Depois percebo que caneta e papel são, ainda, fundamentais para mim. Mesmo que se “perca tempo” - apesar de que o tempo na escrita tem sua própria lógica. Talvez seja um pouco de tudo, somados a preocupações externas ao meu humilde e improvisado escritório.
Foram dois dias pensando porque não tinha conseguido escrever e se algum dia voltaria, mas a única resposta - que não tem nenhuma relação com este bloqueio - eram as lembranças de minha última viagem de moto para Cidadizinha (nome fictício). A imagem de um agreste que mantinha sua paisagem típica, a caatinga, tendo como um cenário maior - ao fundo como um grande quadro – as serras que contribuía com seu cinza, naquele por do sol, em contrastes de nuvens de um amarelo reluzente – algumas certezas que só aqueles que lá vivem negam pra si. Certeza de mais um dia seco em tons cinza que abrilhantam o atraso político, econômico e social, que se despede ao por do sol as esperanças do verde tão desejado por agricultores. Mas não era apenas a imagem. Àquele cair da tarde despertou lembranças da minha infância, lembranças da mesma solidão que pilotava, ao mesmo tempo que me sentia acompanhado. Acompanhado pelas naturezas, pelas minhas naturezas, pela natureza da mãe terra, pela natureza de Deus. Resolvi abri o visos do capacete e o vento frio me colocava a um mundo dos sentidos de todas essas naturezas.
Nunca tinha visto o quanto é bonita àquele região. Agreste de serras e planos. Mesmo sendo perigoso era inevitável que não parasse. Encostei a moto num lugar seguro. Tirei o capacete e deixei que meus pulmões se enchessem. Por alguns minutos não pensei em nada. Foi algo diferente, como ainda está sendo este momento que volto dá importância a voltar a escrever. Busco ideias que se transformação em palavras que podem, ou não, está associadas a lembranças. Necessariamente não precisam está juntas. Talvez daqui algum tempo volte a escrever. Certamente, há muito o que ser dito.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

“Não mais ...”

Nestes últimos tenho pensado sobre a crise econômica que paira sobre nossa nação. Primeiramente, as justificativas por sua existência variam de acordo com as conveniências. Nossa presidente afirma que a crise no Brasil é consequência de uma crise maior, de âmbito internacional. A grande questão é saber qual crise? Do povo palestino? A crise da Grécia? O desaquecimento da economia de exportação da Europa? Dos imigrantes que vivem na França? Qual? Foi dito algo muito genérico que pode ser explicado e comparado com qualquer coisa, inclusive com nada. Do outro lado estão os críticos do governo que, ao contrário da presidente, desconsideram tudo que está lá fora e atribuem a responsabilidade apenas ao grupo político que está no poder. Quem estaria com a razão? Ou melhor (e sendo mais dramático), quem está com a verdade? (Como tem gente que gosta desta palavra!)
Graças a Deus não tenho a resposta para isso, no entanto, sinto falta - dos dois lados – de um argumento mais convincente sobre o que nos poderia impulsionar para, de fato, construímos uma nação pautada num modelo de desenvolvimento que não repetisse velhos conceitos. Para quem tem um pouco de senso crítico é fácil perceber: crescimento econômico, dois pontos percentuais no crescimento de empregos, aumento do consumo, liberação de créditos, financiamentos públicos sobre setores produtivos - também, em forma créditos-, desaquecimento da economia, aumento de juros e diminuição de créditos, três pontos percentuais a menos no emprego, desaquecimento da economia, inflação, alguns meses de vacas magras e, novamente, a retomada dos sonhos. As famosas medidas de austeridade fiscal, seguem a mesma lógica. Cartilhas de políticas neoliberais, feitas no passado pelo PSDB, hoje sendo cumpridas com graus de aperfeiçoamentos pelo PT – leia-se Dilma.
A situação não seria mais preocupante se não houvesse em meio ao momento econômico, cortes ao que todos os políticos, formadores de opinião e os grandes intelectuais da esquerda consideram como sendo prioridade, que são os investimentos nas áreas sociais – incluindo em ordem de prioridade: educação, saúde, segurança pública. O Ministério do Planejamento cortou do orçamento deste ano 22,7 bilhões de reais, sendo 7,042 só da educação, isso porque o lema é “Brasil pátria educadora”. Na conta destes cortes uma série de outras medidas foram tomadas, a exemplo da mudança na CLT e das pensões por morte, direitos que são tirados sob alegação de se está fazendo economia (“precisamos ajustar os gastos da máquina pública para voltarmos a crescer” A grande pergunta é: quem?) . (Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/01/150108_corte_contas_ms_lgb)
No meio de tudo isso os discursos vazios, de ambos os lados, não propõe nada. Tenho dúvidas se a deposição de um governo por outro mude o que considero ser uma questão de princípios. Meio subjetivo mesmo. O argumento parece ser tão vazio quanto as propostas. Que princípios existem num sistema que corta em áreas que já não tem muito. Quantas pessoas não iram morrer nas filas de grandes hospitais, porque o que já ruim vai ficar ainda pior? E na educação? Vejo com desgosto quando vejo jovens trancarem suas matrículas, simplesmente, porque o Estado não lhe garante o mínimo. E sabem qual alegação, no final das contas? Economia, e o mesma conversinha que citei linhas acima. E que dizer do ensino básico e médio? Sempre construído em bases frágeis. Mas isso é o que menos importa ao que temos hoje como nossos representantes. Foram 7 bilhões e, ainda tem colegas com diploma de doutor na mão que afirmam que isso não interfere em nada no futuro do país. Fazem comparação com passado, mas não incapazes por meio da autocrítica dá um passo a frente. Há um maldito discurso do inevitável, de que não é possível planejar e governar de forma diferente e, voltam a velhas práticas.

 Mas vamos lá! Com os velhos modelos que se estampam com rotulagens novas, caçando direitos, buscando privilégios na velha tática pelo poder, de que os fins justificam os meios, numa sucessão de frases de efeitos de ambos os lados, revelando nossa falta de pensar o novo e, assim, não duvidem! – àqueles que hoje apedrejam os políticos podem ser os mesmos que amanhã, como entorpecidos pelo sonho do consumo e pela sede de TER algo mais do que ser, corram para abraçar, beijar e dizer o quanto são gratos, num gesto de amor quase filial – relação de pai pra filho -, na reprodução da velha política: patriarcal; naquela relação de favores. “E assim caminha a humanidade, em passos de formiga e sem vontade ...” (Lulu Santos) Esperando o futuro, esperando o futuro …  


sábado, 25 de abril de 2015

E esses projetos literários que não me saem da cabeça?!

Nos últimos meses não estou com tempo para escrever e, até mesmo, retomar projetos antigos como duas novelas que pretendia escrever. As ideias ainda fervilham e quanto mais imerso em cotidianos, fervilha ainda mais. Algo um tanto contraditório. Diria que em meio a isso fico pensando na construção dos meus personagens. Todos criados. Ficção mesmo, ou melhor, uma tentativa de fazer literatura. Diria que essa pausa de sido salutar, porque tenho amadurecido alguns personagens e, até mesmo criando a possibilidade de sair de um cenário comum que muito incomodava.
Desta vez muito mais urbano e mergulhado no cotidiano das grandes cidades. Um dos focos será as disputas e tramas que o homem moderno se depara para viver – na sua grande maioria uma existência banal. Digo banal porque sua vida – quase sempre - tende a girar em torno de questões menores, egoístas, mas que na verdade tudo é feito em função de uma aparência vulgar - porque de alguma forma existe uma imagem a ser mostrada na sociedade – e, de outro, do que chamo de aspecto político da existência, na prática dos mecanismos que se utilizam para se manter onde estão. Acho que esta é parte mais interessante. Mostrar como personagens encontram outros, apenas em função de interesses, na mesma linha, mostrar como personagens se afastam e/ou derrubam os que estão a sua volta por medo, covardia, egoísmo e tantos outros vícios modernos.

 Obviamente, não existe uma teoria, mas uma visão de mundo pautado na teoria. Deixando claro que não é defesa de teses e argumentos. Considero isso metiê de acadêmicos, que assim como Dorian Gray de Oscar Wilde, vivem a contemplar-se no espelho escondendo-se daquilo que de fato não querem entender. Talvez daí minha opção pela literatura, na construção da paisagem que serve como pano de fundo à (h)istória e no posicionamento de tantos personagens vivido por muitos, encarnado por poucos. Com essas ideias, acho que não abandonei a perspectiva do escritor – muito embora não a queira tanto.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Que discordem, só não me censurem

Fala-se muito em crise. Claro que do ponto de vista econômico está evidente a falta de crescimento, agravado com o fantasma do desemprego que se abate sobre todos. Qualquer pessoa com algum senso crítico tinha noção que as coisas tenderiam a caminhar para isso. Não quero estender-se sobre a sangria que o Estado passou com todas essas obras faraônicas para a copa do mundo. Venderam isso com a promessa do legado. Que legado? As arenas? No caso de Pernambuco o torcedor vai demorar um pouco a acostumar-se com o padrão e os preços FIFA, sem contar as obras paradas, a exemplo dos terminais de BRTs. Enfim, acho que o único legado foi 7x1 e uma conta a ser paga. Não vou me estender sobre outros problemas financeiros que tem levado o Estado Brasileiro à crise. Sou da opinião que não novidades, a não ser mais do mesmo – até nas soluções propostas.
Saindo do campo econômico vivemos um período quente na tomada de decisões. Ser contra ou a favor sempre foi saudável e nos localiza no mundo, no entanto, estamos um pouco além. Não quero explicitar perspectivas pessoais, mas apenas relatar que todas os movimentos que assistimos e outros que viram fazem parte de algo saudável na democracia. As pessoas se mexem em função dos interesses e de todos os valores que se põe como elemento formador de sua identidade. Acho fantástico isso.
De tudo isso, tenho medo apenas da censura e/ou daquilo que se convencionar a aceitar como sendo permito do discutir ou não. Há tendência despóticas em qualquer segmento que se veem fechados em suas ideias. Se há diferenças é porque há concepções diferentes. Nada demais. Quando isso ocorre cabe o respeito e, se o diálogo não for possível, continua cabendo o respeito, com a diferença que cada um vai pro seu canto. Censurar, calar por meio do poder simbólico é regredir.
Em momentos difíceis faz-se necessário inventar caminhos, traçar novas estratégias. Para além disso, vejo a necessidade do posicionamento interior. Guiar-se por suas convicções, mesmo sabendo do peso das retaliações, das censuras, das forças contrárias que em algum momento podem te derrubar. É o risco que se corre. O outro lado é a tentativa do acerto. O importante é está consciente, mesmo quando a opinião e postura é que as pessoas menos valorizam.

A nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças, do que nos nossos bolsos”.

                                                                                                                                                         Arthur Schopenhauer