terça-feira, 24 de novembro de 2015

Projetando sobre as não vivências

 Uma hora da manhã. Acordado por paixão, diria. Lendo àquilo que considero interessante, mesmo diante do desapontamento que é viver em condições precárias e com poucas perspectivas. Pensando sobre esse tempo, de grandes dificuldades. Imaginando que minhas crenças e meus sonhos parecem está muito mais próximos do passado que nunca vivi, do que do futuro que me aguarda – embora, pretenda projetá-los na frente. Na minha mesa sob a luz da luminária um pequeno livro, de um dos intelectuais que tenho admirado por sua perspectiva de pensar o mundo. Longe dos preconceitos academicistas e de todas os dogmas do que chamam ciência, penso que Wrigth Mills, ainda hoje, está a frente do que preconizava como sendo a atividade intelectual como um artesanato.
O princípio me convence, por um critério simples: não me vejo em círculos de intelectuais conversando difícil, teorizando sobre tudo e sobre todos e, tirando conclusões que só cabem para eles mesmos. Por que não escrever simples e para todos? Por que não escrever sobre algo que esteja ao alcance de todos? Eu não sei fazer isso, mas acredito e almejo. Daí buscar como um discípulo, busca no verdadeiro mestre – aquele do ofício e/ou do artesanato -, lições sobre sua arte, buscando – com liberdade – seu próprio jeito de desenvolver sua arte.
Essa não é uma tarefa fácil. Muito mais fácil é ser acadêmico no decoreba de regrinhas, métodos e todo um modo de pensar - que só pode ser 'àquele', se não você não é aceito – do que propriamente, se descobrir num modo próprio de ser na escrita, na literatura. Um artesão e seu artesanato. Falo da literatura e dos campos da escrita, mas pode ser, facilmente, empregado em todos os campos de atuação. Basta compararmos os melhores profissionais em todas as áreas de atuação. Há coisas que só determinadas pessoas têm e, por mais conhecimento que outros venham a ter na tentativa de se comparar não alcançam. Isso acontece com àquele garçom pelo qual todos querem ser atendidos por ele, ou o médico(a) que todos procuram por uma série de qualidades que estão muito além de um metiê profissional. E aqueles empresários notáveis que começaram do nada e se transformaram em referências de sucesso para muitos, em contrastes com àqueles que se julgavam de sucesso e espantam os demais pelo fracasso? Enfim, essa lista sobe o fazer, saber fazer, segundo Mills, também, está muito associada a um aspecto fundamental de nossa existência: a construção de nosso ser.
Se tenho convicção que estou propenso à ser engenheiro, não adianta enveredar para filosofia só porque poderia dentro de um cálculo achar que me daria melhor. Isso pode parecer simples, mas só aparência. Numa sociedade que tudo se converte em número e/ou em algo que tem que apresentar uma função esse é um princípio cada vez mais deixado de lado (aplica-se isto a todas as áreas), portanto, pensar naquilo que se faz como uma arte – independente do campo que atuamos e vivemos – é um gesto que não cabe a racionalização do mundo que vivemos. Talvez, por isso, que não vejamos tantas novidades e fiquemos em práticas conformadas por regrinhas (no meu caso, acadêmicas). O que seria esta falta de criatividade, se não o olhar pragmático e de coisas rápidas, de um tempo superficial com nenhum espaço à imaginação e ao novo?

É por conta dessas questões que penso viver num tempo desconexo de minhas crenças, daí o meu flerte com o artesanato.  

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