Muitas vezes nos deparamos entre críticas e lamúrias que o Brasil
está pior e que vivemos uma crise sem precedentes. O que pretendo
colocar são perspectivas pessoais e pautadas no censo comum,
portanto, não ouso fazer análises ao nível dos cientistas
políticos. Não quero afirmar que vivemos uma crise, porque minha
impressão é que ela ainda não começou, portanto, fica difícil
apontar a dimensão das questões sociais e políticas que vivemos no
momento. Vários segmentos vivem momentos difíceis, mas é preciso
cuidado para não cairmos em desculpas que não refletem e/ou não
tem nexo com as questões macro estruturais. Seja em momentos de
crise ou em bonanças há sempre pessoas que aproveitam na satisfação
de questões pessoais. No caso brasileiro, no qual cada um quer ser
mais esperto, ou só pensam em salvar a própria pele. Nosso senso de
pensar o coletivo nunca foi dos melhores, basta ver como nos mantemos
passivos diante de problemas que afetam a todos. Vemos e, muitas
vezes vivemos, mas fingimos que não é conosco. A prática é jogar
pra o coletivo aquilo que é de nossa responsabilidade, portanto,
dizermos que os males e/ou aquilo que não funciona é culpa de entes
que está fora de nossa persona. Diante disso, realmente, não sei se
estamos em crise – olha que digo isso, num momento que teria todas
as condições de afirmar o contrário. Repito, não sei, porque
todos os nossos índices de desenvolvimento social sofreram ao longo
dos anos, pouquíssimas mudanças. Crise? Quais foram as melhorias no
campo da saúde? Quais foram as melhorias no campo da educação? (E,
que fique bem claro que não estou falando em número, mas em
qualidade, em mudanças nas mentalidades das pessoas, em práticas
efetivas que transformam um país) Quais foram as mudanças no campo
da segurança pública? Quais foram as melhorias no campo de uma
atuação preventiva e protetiva de jovens e adultos na construção
de alternativas de outras perspectivas de vida? Reafirmo com meu
senso comum- , mas que nenhum doutor (leia-se deus da sabedoria) ou
militante político me faria mudar de convicção -, não estamos em
crise porque nunca saímos dela, porque tudo que vivemos ao longo de
bons anos, quando se vendia a mentira que eramos maiores que a
Inglaterra – e, só sendo ingênuo para acreditar – não passou
de uma bela peça de marketing justifica por números, que como
sempre dizem muito pouco sobre o que as pessoas são e como vivem.
Estamos, lentamente, acordando, até que nos empurre goela a baixo um
outro sonífero sobre o nome e/ou a sigla salvadora do país,
apresentadas em cenários azuis em propagandas coloridas da televisão
e/ou que tenha o discurso prolixo de algum intelectual em sua função
pública e, politicamente, correta por ser esquerda e amar tudo que
lhe lembre a libertação dos pobres, em fotografias, em frases de
efeito sem nenhuma graça e – pior! - fora de contexto. Podem,
igualmente, nos empurrar com outros remedinhos que nos lembro o velho
dilema do bem e do mal, numa dialética tão infantil quanto a crença
do futuro do comunismo. Mas, antes que retornemos ao sono, não custa
lembrar que o “Admirável mundo novo” de Huxley não é mera
ficção. Vivemos um mundo totalitário sustentado pelas mentiras e
por gestos mecânicos (porquê não programados). Somos seres
produzidos em série, somos números, somos gastos e, quando não
servimos somos descartados – assim como fazemos com todas as
porcaria que compramos e jogamos fora, mas o pior e mais trágico é
somos programados para acreditar que a causa de tudo isso está em
nós, que por alguma razão deixamos de prestar e, por medo (em
especial dos mais fracos e menos esclarecidos) e, covardia (isto vem
sempre dos ditos mais esclarecidos) fugimos e bajulamos nossos
programadores ou nos escondemos em nossos lixos diários a nos
entorpecer e a acreditar em todas as bobagens que nos jogam em cores
e frases de efeito. Então? Como podemos está em crise, se ainda não
cruzamos fronteiras cruciais de nosso tão sonhado desenvolvimento.
Qual a crise se ainda não somos modernos? Qual a crise se ainda
somos escravos de sistemas governados por tiranos, que nos abraça e
nos beija para dizer o quanto não somos?
Claro que tudo isso são aspectos do senso comum, do meu senso comum,
reflexões daquilo que muitos poderiam classificar como sendo o meu
fracasso. Que o classifiquem, mas não esqueçam que entre tanta
coisa que temos, uma das melhores na modernidade é a possibilidade
de podermos comparar, sem precisarmos estarmos in loco. Por
isso, não vejo crise, mas a face mais dura que sempre nos recusamos
a aceitar. Aquilo que, realmente, somos. Neste sentido, acordar
significar temos a coragem de mudar, sem o velho pieguismo, que serve
apenas para justificar ainda mais situações que nos põem em nossa
posição de covardes. No dia que de fato ocorrer uma crise não será
de nenhuma natureza da que assistimos ou daqueles que se usam para
fuder os outros. No dia que vivermos uma crise, será no dia que
resolvermos, de fato, acordarmos e buscarmos – enquanto projeto da
polis – a construção de um bem único, no qual a injustiça
cometida com o desconhecido é a injustiça que se comete contra
todas. A verdadeira crise – se algum dia ela acontecer (porque não
acredito) será no momento em que os poderosos terão que ceder a
seus interesses, em função daquilo que teoricamente está posto
para todos. Para além disto, prefiro o “Admirável mundo novo”,
de Huxley tem me dito muito mais, do que todo esse barulho.
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