quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Admirável Mundo Velho


Muitas vezes nos deparamos entre críticas e lamúrias que o Brasil está pior e que vivemos uma crise sem precedentes. O que pretendo colocar são perspectivas pessoais e pautadas no censo comum, portanto, não ouso fazer análises ao nível dos cientistas políticos. Não quero afirmar que vivemos uma crise, porque minha impressão é que ela ainda não começou, portanto, fica difícil apontar a dimensão das questões sociais e políticas que vivemos no momento. Vários segmentos vivem momentos difíceis, mas é preciso cuidado para não cairmos em desculpas que não refletem e/ou não tem nexo com as questões macro estruturais. Seja em momentos de crise ou em bonanças há sempre pessoas que aproveitam na satisfação de questões pessoais. No caso brasileiro, no qual cada um quer ser mais esperto, ou só pensam em salvar a própria pele. Nosso senso de pensar o coletivo nunca foi dos melhores, basta ver como nos mantemos passivos diante de problemas que afetam a todos. Vemos e, muitas vezes vivemos, mas fingimos que não é conosco. A prática é jogar pra o coletivo aquilo que é de nossa responsabilidade, portanto, dizermos que os males e/ou aquilo que não funciona é culpa de entes que está fora de nossa persona. Diante disso, realmente, não sei se estamos em crise – olha que digo isso, num momento que teria todas as condições de afirmar o contrário. Repito, não sei, porque todos os nossos índices de desenvolvimento social sofreram ao longo dos anos, pouquíssimas mudanças. Crise? Quais foram as melhorias no campo da saúde? Quais foram as melhorias no campo da educação? (E, que fique bem claro que não estou falando em número, mas em qualidade, em mudanças nas mentalidades das pessoas, em práticas efetivas que transformam um país) Quais foram as mudanças no campo da segurança pública? Quais foram as melhorias no campo de uma atuação preventiva e protetiva de jovens e adultos na construção de alternativas de outras perspectivas de vida? Reafirmo com meu senso comum- , mas que nenhum doutor (leia-se deus da sabedoria) ou militante político me faria mudar de convicção -, não estamos em crise porque nunca saímos dela, porque tudo que vivemos ao longo de bons anos, quando se vendia a mentira que eramos maiores que a Inglaterra – e, só sendo ingênuo para acreditar – não passou de uma bela peça de marketing justifica por números, que como sempre dizem muito pouco sobre o que as pessoas são e como vivem.
Estamos, lentamente, acordando, até que nos empurre goela a baixo um outro sonífero sobre o nome e/ou a sigla salvadora do país, apresentadas em cenários azuis em propagandas coloridas da televisão e/ou que tenha o discurso prolixo de algum intelectual em sua função pública e, politicamente, correta por ser esquerda e amar tudo que lhe lembre a libertação dos pobres, em fotografias, em frases de efeito sem nenhuma graça e – pior! - fora de contexto. Podem, igualmente, nos empurrar com outros remedinhos que nos lembro o velho dilema do bem e do mal, numa dialética tão infantil quanto a crença do futuro do comunismo. Mas, antes que retornemos ao sono, não custa lembrar que o “Admirável mundo novo” de Huxley não é mera ficção. Vivemos um mundo totalitário sustentado pelas mentiras e por gestos mecânicos (porquê não programados). Somos seres produzidos em série, somos números, somos gastos e, quando não servimos somos descartados – assim como fazemos com todas as porcaria que compramos e jogamos fora, mas o pior e mais trágico é somos programados para acreditar que a causa de tudo isso está em nós, que por alguma razão deixamos de prestar e, por medo (em especial dos mais fracos e menos esclarecidos) e, covardia (isto vem sempre dos ditos mais esclarecidos) fugimos e bajulamos nossos programadores ou nos escondemos em nossos lixos diários a nos entorpecer e a acreditar em todas as bobagens que nos jogam em cores e frases de efeito. Então? Como podemos está em crise, se ainda não cruzamos fronteiras cruciais de nosso tão sonhado desenvolvimento. Qual a crise se ainda não somos modernos? Qual a crise se ainda somos escravos de sistemas governados por tiranos, que nos abraça e nos beija para dizer o quanto não somos?
Claro que tudo isso são aspectos do senso comum, do meu senso comum, reflexões daquilo que muitos poderiam classificar como sendo o meu fracasso. Que o classifiquem, mas não esqueçam que entre tanta coisa que temos, uma das melhores na modernidade é a possibilidade de podermos comparar, sem precisarmos estarmos in loco. Por isso, não vejo crise, mas a face mais dura que sempre nos recusamos a aceitar. Aquilo que, realmente, somos. Neste sentido, acordar significar temos a coragem de mudar, sem o velho pieguismo, que serve apenas para justificar ainda mais situações que nos põem em nossa posição de covardes. No dia que de fato ocorrer uma crise não será de nenhuma natureza da que assistimos ou daqueles que se usam para fuder os outros. No dia que vivermos uma crise, será no dia que resolvermos, de fato, acordarmos e buscarmos – enquanto projeto da polis – a construção de um bem único, no qual a injustiça cometida com o desconhecido é a injustiça que se comete contra todas. A verdadeira crise – se algum dia ela acontecer (porque não acredito) será no momento em que os poderosos terão que ceder a seus interesses, em função daquilo que teoricamente está posto para todos. Para além disto, prefiro o “Admirável mundo novo”, de Huxley tem me dito muito mais, do que todo esse barulho.


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