Mesmo não fazendo parte do
grande grupo de sacerdotes do conhecimento, escolhidos por entes
divinos para opinar sobre algo; aproveito – ainda – o pouco de
liberdade que resta para dar meus pitacos pitorescos, sempre que me
vem a mente alguma coisa “publicável”. Primeiramente, farei uma
transcrição do livro 'Agosto', de Rubem Fonseca. Bem interessante a
história do livro. Trata de uma série de escândalos que envolveu o
governo Vargas em 1954. Acontecimentos que antecederam a interrupção
de seu governo, por sua escolha trágica. Segue o trecho que me
chamou atenção:
“Luiz Magalhães não foi
encontrado pelos encarregados do inquérito. Manhães, porém, foi
preso e levado para a base do Galeão, onde prestou depoimento.
Manhães declarou que fora hóspede do Catete no início do governo
Vargas, mas que se afastara do palácio depois de um negócio de
compra e venda de algodão, que havia feito com financiamento do
Banco do Brasil, em sociedade com Roberto Alves, ex-secretário do
presidente. Perguntado quanto ganhara nessa transação, disse que
não podia precisar, pois já se passara algum tempo desde que o
negócio se realizara. Para sorte dos investigadores, o homem com
quem Manhães trabalhava em Marília, São Paulo, foi ao Galeão,
acompanhado de um advogado, com o fim de tentar liberar o preso. O
patrão de Manhães, o japonês Iassuro Matsubara, foi imediatamente
preso pelos militares. Arquimedes Manhães declarou que Matsubara
financiava a campanha de candidatos à Câmara e ao Senado. Para a
campanha de Roberto Alves a deputado federal pelo Estado de São
Paulo, Matsubara contribuíra com quinhentos mil cruzeiros. Esse
dinheiro teria sido desviado por Gregório para ser entregue a
Climério em sua fuga. Em troca das contribuições que fazia,
Matsubara recebia financiamentos e regalias especiais do Banco do
Brasil e de outras repartições da administração pública, além
de favorecimentos de governadores estaduais para a compra de terras
em São Paulo e Mato Grosso” (Rubem Fonseca, in: Agosto, pág
297-98,1990).
O que acho interessante é que,
quase toda a istória, parece uma reprise de escândalos políticos.
Alguém que financia e que obtém favores junto a empresas estatais.
O ex-secretário que está envolvido em negócios privados, que pode
ter relação de eleitos. Sintomas de problemas antigos que hora está
mais “leve”, ora mais grave. É obvio que os acontecimentos
presentes têm que durar um pouquinho mais. Não se fala da
construção de um país e, para que todos discordem de mim digo
mais: nenhum lado fala de construção de um país. O que parece
sempre se impor são os interesse privados e/ou corporativos. Afinal,
quem está preocupado com as pessoas que morrerão nos hospitais,
porque temos - mais uma vez na história deste país – que pagar
as contas de erros que não são os nossos.
Enquanto isso vejo alguns
intelectuais (não me incomodo de ser queimado como herege) todos
bonzinhos e sempre tão românticos com suas visões sobre as
necessidades dos pobres, de punhos fechados (quase sempre o
esquerdo!)justificando os fins pelos meios e os meios pelos fins,
colocando em segundo plano a coerência ou se justificando por suas
grandes teorias metafísicas, de que a verdade é aquilo que se
justifica para o bem do povo; de um povo que veem apenas pelas
janelas dos seus carros ou de suspiros de suas mountain bikes de
finais de semana mais saudáveis. Falam do golpe. Eu também falo do
golpe, em especial do golpe que sofro dos tos dias, caracterizado
pela falta de respeito em todos os espaços sociais, no qual as ditas
classes em seu ápice de esclarecimento insistem em chamar
(veladamente) de burros todos àqueles que pensam diferente.
'Agosto' é ficção, mas o que
não é ficção nesta sociedade hipócrita que usa da meritocracia
para justificar muitas vezes a própria incompetência? Deixa voltar
pro meu livro é o melhor que faço. Aliás! Não vejo a hora de
“Agosto” terminar.
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