quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Não vejo a hora de “Agosto” terminar


Mesmo não fazendo parte do grande grupo de sacerdotes do conhecimento, escolhidos por entes divinos para opinar sobre algo; aproveito – ainda – o pouco de liberdade que resta para dar meus pitacos pitorescos, sempre que me vem a mente alguma coisa “publicável”. Primeiramente, farei uma transcrição do livro 'Agosto', de Rubem Fonseca. Bem interessante a história do livro. Trata de uma série de escândalos que envolveu o governo Vargas em 1954. Acontecimentos que antecederam a interrupção de seu governo, por sua escolha trágica. Segue o trecho que me chamou atenção:

Luiz Magalhães não foi encontrado pelos encarregados do inquérito. Manhães, porém, foi preso e levado para a base do Galeão, onde prestou depoimento. Manhães declarou que fora hóspede do Catete no início do governo Vargas, mas que se afastara do palácio depois de um negócio de compra e venda de algodão, que havia feito com financiamento do Banco do Brasil, em sociedade com Roberto Alves, ex-secretário do presidente. Perguntado quanto ganhara nessa transação, disse que não podia precisar, pois já se passara algum tempo desde que o negócio se realizara. Para sorte dos investigadores, o homem com quem Manhães trabalhava em Marília, São Paulo, foi ao Galeão, acompanhado de um advogado, com o fim de tentar liberar o preso. O patrão de Manhães, o japonês Iassuro Matsubara, foi imediatamente preso pelos militares. Arquimedes Manhães declarou que Matsubara financiava a campanha de candidatos à Câmara e ao Senado. Para a campanha de Roberto Alves a deputado federal pelo Estado de São Paulo, Matsubara contribuíra com quinhentos mil cruzeiros. Esse dinheiro teria sido desviado por Gregório para ser entregue a Climério em sua fuga. Em troca das contribuições que fazia, Matsubara recebia financiamentos e regalias especiais do Banco do Brasil e de outras repartições da administração pública, além de favorecimentos de governadores estaduais para a compra de terras em São Paulo e Mato Grosso” (Rubem Fonseca, in: Agosto, pág 297-98,1990).

O que acho interessante é que, quase toda a istória, parece uma reprise de escândalos políticos. Alguém que financia e que obtém favores junto a empresas estatais. O ex-secretário que está envolvido em negócios privados, que pode ter relação de eleitos. Sintomas de problemas antigos que hora está mais “leve”, ora mais grave. É obvio que os acontecimentos presentes têm que durar um pouquinho mais. Não se fala da construção de um país e, para que todos discordem de mim digo mais: nenhum lado fala de construção de um país. O que parece sempre se impor são os interesse privados e/ou corporativos. Afinal, quem está preocupado com as pessoas que morrerão nos hospitais, porque temos - mais uma vez na história deste país – que pagar as contas de erros que não são os nossos.
Enquanto isso vejo alguns intelectuais (não me incomodo de ser queimado como herege) todos bonzinhos e sempre tão românticos com suas visões sobre as necessidades dos pobres, de punhos fechados (quase sempre o esquerdo!)justificando os fins pelos meios e os meios pelos fins, colocando em segundo plano a coerência ou se justificando por suas grandes teorias metafísicas, de que a verdade é aquilo que se justifica para o bem do povo; de um povo que veem apenas pelas janelas dos seus carros ou de suspiros de suas mountain bikes de finais de semana mais saudáveis. Falam do golpe. Eu também falo do golpe, em especial do golpe que sofro dos tos dias, caracterizado pela falta de respeito em todos os espaços sociais, no qual as ditas classes em seu ápice de esclarecimento insistem em chamar (veladamente) de burros todos àqueles que pensam diferente.

'Agosto' é ficção, mas o que não é ficção nesta sociedade hipócrita que usa da meritocracia para justificar muitas vezes a própria incompetência? Deixa voltar pro meu livro é o melhor que faço. Aliás! Não vejo a hora de “Agosto” terminar.

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