quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Minhas perspectivas, minhas escolhas … Será eu um alienado?


Já faz muito tempo que venho dedicando mais atenção a literatura, do que propriamente a teorias sociais, filosofias e coisas do gênero. Não estou fazendo classificações sobre o que é melhor, no entanto, pelo menos para mim, tenho encontrado mais sentido na literatura (nas suas formas e expressões) do que num monte de coisa que li ao longo de alguns anos. Volto a repetir: não estou dizendo que não serve. Pelo contrário: ler autores como Hannah Arendt, Boaventura de Souza Santo, Sérgio Buarque, Zigmunt Baumam e tanto outros é mergulhar num horizonte de interpretação do mundo. Fantástico! Sistemas e pessoas. Macro e microestrutura. Interpretar, minimamente, um monte de coisas que vivemos e assistirmos. Esses e tantos outros são fundamentais. O outro lado é literatura e o papel do escritor – que de modo deliberado ou não – trabalhado cenários, cenas, personagens e enredos nos traz tantos elementos importantes do mundo social que muitos teóricos e intelectuais que muitas vezes desprezam.

A transcrição de uma fala que comenta o preço do feijão e joga a culpa para alguém pode de maneira muito contundente me dizer mais sobre a política do que muitas pesquisas formuladas em cima de teorias (muito boas, por sinal) vinda da cabeça de pessoas que tem apenas uma leve impressão do que representa para o povo dois ou três reais a mais na sua feira. Muitos acham bonitinha a pobreza, criam uma espécie de áurea e teorizam, teorizam tanto que chegam a esquecer até do próprio nome, quando o que a pessoa que comenta o preço do feijão mais quer é a possibilidade de poder comprá-lo, daí ele está pouco se importante se é golpe ou contra golpe. Então, pra fica mais fácil peguemos o maldito Charles Bukowski e vemos em seus personagens a imagem de tudo que não assistimos em propagandas, novelas e pokemons (é assim que escreve?). As imagens de homens velhos e barrigudos que pouco se importam com o tal mercado financeiro, e menos ainda com qualquer outro tipo de campanha salvacionista – do tipo: não coma em tal restaurante porque eles matam as formiguinhas. Falei do homem barrigudo e todos os outros personagens femininos que odeiam seus parceiros, num ato de completo abandono a todos esses sonhos enlatados e pasteurizado do sonho consumista presentes em todas essas datas idiotas que enchem os shopping centers. Maldito Bukowski. Maldito porque encontro em suas histórias pessoas que não estão nem ai pra nada e daí nos perguntamos: e daí que não estejamos nem aí pra porra nenhuma?
Poderia dá um monte de exemplos sobre outros autores e variar concepções, mas quero apenas direcionar a reflexão de como por meio de um recurso - aparentemente simples – podemos tirar, igualmente, questões simples sobre essa abstração que chamamos sociedade. Por que é tão difícil por parte desta elite intelectual entender que meu vizinho do bairro ao lado quer apenas tomar sua cerveja aos sábados, ou quer apenas ter o prazer de ouvir seu líder religioso? As pessoas no seu cotidiano querem trabalhar, estudar, se prepararem para viverem dignamente. Muitos intelectuais sempre tiveram tudo, portanto, não sabem o que é uma criança pedir comida a noite e simplesmente, não ter. Ficam indignados, esbravejam, falam em nome “de”, muitos nutrem um mistico de ‘também estou como você’, mas até que ponto caminham?
Muitos ficam com raiva de mim, por conta deste posicionamento. Já fui chamado de fascista de ignorante e de tantas outras coisas, no entanto, com tanta autoridade não foi capaz de me convencer daquilo que acredito: o que as pessoas querem - neste mundo do salva-se – é salvar a si mesmas. Preocupadas com Golpe? Quem? O jovem que perdeu seu emprego e agora não vai poder realizar seu sonho estudar? Ou anda, o pai que agora se vê na ameaça da fome e da humilhação, este vai está preocupado com Golpe? E os jovens (e adultos, também) que estão casando o pokemon (não sei como escreve)? A quem se quer convencer? Ou melhor: a quem queremos convencer?
Do lado de fora a vida segue sua própria lógica – claro! Não desprezo estruturas, ideologias, mas do lado de fora não respeitas que as pessoas têm outras prioridades fora das grandes ideias, pra mim se comprar a história de Machado de Assis no “Alienista”, no qual coloca-se todo mundo na Casa Verde, quando na verdade a dificuldade não internar, mas compreender quem são os verdadeiros loucos. No meio de tudo isso, prefiro a loucura de ser chamado de alienado e reacionário do que enlouquecer sobre a reprodução de mais do mesmo. Bom! Mas por que estou falando isso?

domingo, 10 de julho de 2016

Perspectivas 1007: iniciando ...



“Alegria ao é o êxtase ardente de um instante. Alegria é a luz sem chama que acompanha o ser”. (Fromm, 1982, p.122)
“A alegria, portanto, é aquilo que sentimos no processo de nos aproximar cada vez mais da meta de sermos nós mesmos”. (idem, p)

No momento que escrevia essas duas frases no caderno de anotações vejo sobre minha mesa papéis espalhados, livros pelo chão, minhas luvas de pilotagem cobertas em poeira. Coisas de quem vai para o exílio, aliás nem sei se posso falar isso, talvez um estágio momentâneo de ausência e silêncio ao que te cerca. Mergulhei em alguns livros que literalmente me puxou para outra dimensão, o principal foi Erich Fromm. O olhar clínico de Erich Fomm sobre a sociedade nos dá “pistas” de entendimentos sobre o presente e, sobre o lugar do ‘eu’ (o indivíduo) nestes contextos. Não me refiro a questões políticas e/ou econômicas, mas na própria dimensão do que somos, enquanto persona.
Diria que tem sido um caminho interessante, considerando que começo a entender diferenças essenciais entre ‘ter’ e ‘ser’. Isso lembrou várias situações que vivenciei, no qual o principal argumento (inclusive o meu) era “eu sou” “eu sou aquilo outro”eu sou o arauto da sabedoria e da verdade”, enfim, nada mais do que credenciais usadas para desqualificar o outro, ou legitimar práticas. Essas questões não chegam, nem de perto, sobre o elemento fundamental: o que somos? Ou para tornar a conversa mais intimista: quem sou? Essa não é uma pergunta fácil e, bem mais complicada é a resposta, talvez, seja algo para uma vida, no entanto, Fromm – longe de querer responder essas perguntas, até porque são pessoais – lança algumas indicações que diferenciam os elementos TER e SER.
Posso está enganado, mas ao mostrar as diferenças essenciais entre ‘TER’ e ‘SER’, Fromm nos coloca numa rota de colisão existencial ao mostrar o quanto estamos mergulhados num único modelo e alternativa, e de como críamos mecanismos de auto enganos. A realidade não é o que vemos (apenas!), muito menos o que assistimos na televisão. O que podemos mostrar aos outros (inclusive nas famosas carteiradas, ou melhor, credenciais), também, não mostra a essência, ou que fala Fromm de “conhecer em profundidade”, “mergulhar”. Quando isso acontece é preciso cuidado para que não nos afoguemos na própria essência, nas palavras de Erich Fromm “o ser é uma substância permanente, intemporal e imutável” (p.44).
Enfim, não tive dinheiro para viajar, no entanto, mergulhei nestas leituras que foram uma viagem. Quando não se pode pensar e viver o mundo a partir do elemento TER, buscar a construção do SER ajuda a pôr ordem nas questões mais importantes. Para não ficar mais chato do que estou sendo, encerro com um trecho do livro “Ter ou Ser?”, de Erich Fomm:
Enquanto as pessoas do modo ter confiam no que têm, as pessoas do modo ser confiam no fato que de ‘são’ [grifo meu], que estão vivos e que alguma coisa nova nascerá, bastando para isso que tenham coragem para deixar ir e reagir” (Fomm, p.51).
Visto isso o que mais esperar? Ser no mundo é trabalhar com essas possibilidades, fugir dos fatalismos - tão presentes nas verdades imutáveis –, reagir, como o próprio autor colocar, fugir dos fanatismos (de todos!), sermos críticos em silêncio. Embora, muitas vezes nos tratem como ‘coisas’, porque o sistema assim impõem, somos seres humanos de possibilidade infinitas. Todas essas questões apresentam um grau de dificuldades e compreensão, por vivemos numa sociedade no qual somos àquilo que termos (TER). Não a como fugir disso, nem àqueles que denominamos de loucos conseguem. O importe é está consciente, para não sermos apenas mais um, em meio a multidão que corre em direção ao nada.



sábado, 30 de abril de 2016

Homenagem aos beats


Quando se pretende escrever, simplesmente, se escreve. Pouca importa a qualidade ou se terão pessoas para compartilhar de sua escrita e/ou mesmo para falarem, se o que você fez tem ou não relevância. Quando se pretende escrever, apenas escrava. Fale sobre o qual grandioso é a vida ou fale o quanto é medíocre a vida. Faça um personagem de si mesmo. Mate todos os heróis e construa os anti-heróis. Os heróis andam empacotados e sempre tão certinhos que já vivem na terra o marasmo do céu. São tão amados que não vivem a emoção do ódio. Quando se pretende escrever, simplesmente, escreva enaltecendo àquilo que não se gosta de ouvir e viver. As verdadeiras histórias tem sempre um lado bom, mas você não tem a obrigação de contar a verdadeira história pelo simples fato de ter escolhido o lado do malditos. Escritores malditos, com sua gente simples e pouco resoluta a nobreza da sociedade. No mundo de baixo está o seu olhar. O inferno está repleto deles, também, quero ser um deles. Odeio os heróis. Quase sempre são falsos, quase sempre alegres e pouco viris, porque estão por demasia preocupados com seus malditos papéis.
Quando se pretende escrever, por favor, deixe que sua maldita mente se ocupe apenas disso, e que se dane todo o resto. Não há muitos escritores ricos e que pagam suas contas em dias. Apenas os piores que vivem de escrever coisas bonitinhas. Os bonzinhos são obscenos em sua bondade. Não aguentam um não. NÃO PORRA! Simplesmente, escreva mesmo que se pague um preço, ou não se pague nada. É a maldição dos escritores, mesmo que temporário. Quando se pretende escrever, simplesmente, olhe para as letras que não fazem o menos sentido até que você termine e tenha vontade de jogar tudo no lixo. A escolha é sua, mas lembre-se que perde uma oportunidade ímpar de incomodar nossos heróis engomadinhos. Alguns até escrevem livros para preencherem algum catálogo e cumprirem protocolos. Será que sabem de alguma coisa, além de repetir-se como papagaios o que escrevem?
Quando se pretende escrever, simplesmente, todas as justificativas e problemas ganham uma conotação superficial. Quando se pretende escrever, simplesmente, se escreve. Não se paga alguém para escrever. As prostitutas podem está entre seus personagens favoritos, pode ser - inclusive - a segunda profissão – mas, não se prostitui àquilo só você pode e deve fazer. Não se paga para escrever. Dinheiro não compra tudo, embora possa ajudar bastante. Mas há algo de muito íntimo que alguns vermes jamais entenderam. Então, pagem.
Se pretendem, realmente, escrever que pague o seu próprio preço, que sinta suas próprias dores e como artista se dê conta dos próprios limites. Noites de sono, a fome, a humilhação de uma sociedade que elege seus heróis engomadinhos que perfilam-se em frases de autoajuda numa aparência oca, do qual suas existências reluzem em grande intensidade, numa necessidade pujante de se diferenciarem dos malditos, porque os malditos não fazem esforço pra tal. Simplesmente se metem a escrever sobre coisas inúteis, simplesmente, são inúteis e não há esforço em sempre inúteis. Quanto esforço fazem os demais para não serem inúteis e o quanto é trágico, por mais que se esforcem, a distancia entre o inúteis e os engomadinhos é mínima. Os esforços do segundo tipo: incomensuráveis.
Parece que é maldição de muitos escritores. Ninguém sai ileso disso. Ninguém. Portanto, uma vez que não há saídas alternativas e já fez a escolha, …, continue e pague seu preço, mas não deixem que ponham um preço sobre você. Quando isso acontecer pode está certo que você está acabado, terás o céu, ganharás dezenas de amigos, mas perderas a essência do seu próprio mundo.
Quando se pretende escrever, simplesmente, ignore toda a maldade que há nos bons, porque os bons só o são, porque vivem entre os bons. Se quer escrever diga NÃO e tudo que não agrada. Discorde quanto todos dizem o contrário. Essa é a maldição. Viva o seu próprio exílio e construa os seus caminhos. Esse é o caminho e o privilégio dos que pensam. Escreva e rasgue todos os cheques. Caminhe por onde os fazedores de coisas não caminham. O seu mundo é fazer ‘coisas’ quando alguém lhe diz que devem fazer ‘coisas’. Portanto, se pretende escrever, pense bem! Pague seu preço. Escreva! Dos falsos fuja, mas não deixe de descrevê-los - quase sempre são caricatos em sua bondade e normalidade. Escreva! Se por acaso ninguém te ver, não se incomode. Isse é um caminho para poucos.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Trecho do livro

Estou tentando escrever meu primeiro livro - certamente no gênero romance - lançando alguma ideias, conectando personagens e (h)istórias. Não sem ainda onde isto mais me levar, nem mesmo se vou conseguir, mas estou fazendo. Há uma série de outras coisas, também, como o próprio talento para desenvolver uma história, algo que os escritores chamam de "fôlego", ou seja, uma mistura de talento, criatividade e técnica. Estou vendo que escrever um romance (ou novela) é algo bem complexo e que - neste gênero - existe uma diferença enorme entre ler e escrever. Bom! Enfim, vamos vê no que vai dá!

Trecho:

1º trecho:

7h35 min. Deitado numa calçada, sujo pelo próprio vômito. Após muito tempo não dá pra saber o que as pessoas pensavam ao me verem naquele estado. Alguns olhavam com certo desprezo, talvez imaginassem se tratar de algum alcoólatra ou viciado em drogas. Cheguei a olhar pro céu, mas não pedia nada a Deus. Não sabia o que estava acontecendo. Cheguei a pensar que poderia está morrendo. Ali! Numa calçada a centenas de quilômetros de minha antiga casa. E, se por acaso, àquele corpo de um metro e oitenta pesando sessenta e quatro quilos de fato não aguentasse? Tinha jogado tudo pra fora. Sempre achei aquilo estranho, porque não era fácil o silêncio, diante de insultos como: “Vagabundo. Eu trabalhava e estudava”. Olhei pro céu, depois procurei um lugar mais reservado. Cambaleante, consigo um local discreto. Sinto uma dor terrível no estômago, imaginei que poderia ser um punhal perfurando e fazendo movimentos circulares. Foi o melhor sentimento que poderia ter vindo.
Precisava lutar contra a mão invisível que me impunha o sentimento de morte. Deitado, ainda sob delírios tomará a decisão correta. Não me curvaria ante a dor e a pobreza. Morrer ou voltar de onde vim tem o mesmo significado. Muitos dizem que é difícil se recompor. A dor insuportável e o sentimento de estranhamento desapareceu quando, enfim, dei conta que o chão da rua não é o lugar de ninguém. De algum modo revivi o insulto que no passado tinha feito ao pobre homem que dormia na calçada. Nenhum homem jogado no chão merece condenação maior do qual já vivi. As condições materiais não podem determinar o que não somos. Consegui levantar. Andei alguns metros, até uma banca de revista. Antes de entrar retirei o dinheiro da bolsa. Sabia que naquelas condições dificilmente o dono deixaria entrar por muito tempo.
- Por favor, o senhor me dá uma água mineral.
- Um real. Era você que estava naquela calçada passando mal?
Peguei a garrafa d’água. Abri. Tomei de um só gole. Do bolso puxei o dinheiro.
- Por favor! Guarde! - ordenou o senhor que me atendeu.
- Muito obrigado!
Pretendia falar algo mais que um obrigado. Hoje penso que fui salvo por àquele senhor que me fez lembrar de um outro homem no passado se encontrava jogado na calçada, do qual não tive a mesma dignidade de tratá-lo, ao mínimo de dignidade. Nunca acreditei em castigo, maldições, mas parecia um modo de retratação àquela injustiça e mais ainda a um sentimento de indignação que tive quando fui repreendido XXX. Mas tem coisas que acontecem como privilégio de situações e de pessoas inesperadas. Não poderia cair novamente. Não foi uma garrafa de água ou seu valor, mas algo maior chamou atenção.

2º Trecho:
 
Aos domingos partia para ficar o dia na rodoviária pensava nessa história. O que me deixava aborrecido era não ter escolhido o futuro, mas o modo como tudo ia acontecendo. Minha incapacidade de mudar. Limitado aos trocadinhos, aos cachorros-quentes e a minha fé, sempre invocada nos momentos que sentia fome, no qual começava a salivar como um cão, então, procurava um local discreto. Podia ser um banheiro ou mesmo na rua em locais que sabia que nenhum colega me veria naquelas condições. Quando acontecia era comum as pessoas pararem: “Meus Deus! Você está bem, você está bem?” Escorado num poste ou sentado em alguma calçada contorcia-me de dor e desespero. Em nenhum momento senti medo, nunca chorei, e quanto mais intensa mais vontade tinha de superar. Se pudesse usar minhas mãos, mesmo esquelético, lutaria. Nada disso era possível. A dor não é algo tangível, nem a fome – apenas sentimos na intensidade daquilo que vivemos. Sentia ódio e queria lutar. Desde muito cedo aprenderá que o homem é um animal político, portanto, não era tomado por uma racionalidade de fracasso, mas de possibilidade de vida. Mas devo abrir uma exceção. Naquela segunda-feira, um dia após da festa em família pensei que não aguentaria. Além de todos os inconvenientes, perceber a perda de alguns sentidos soou como se fosse mais capaz de sair daquela situação. Jogado na calçada, sujo, e totalmente desorientado, dava impressão do fim. Mas o fim não é tangível à consciência, talvez por isso tenha tanta raiva da segunda.
Um dia após ter presenciado o fracasso da vida alheia, sentar-se na calçada de algum lugar desconhecido como morador de rua trouxe lucidez sombria. O mundo não é o que me diziam, nem pior, nem melhor. Talvez seja um pouco mais trágica: é o que fazemos para nós mesmos é o quanto estou convencido das minhas escolhas. Odeio a segunda-feira, mas foi neste dia que dei conta que poderia fazer algo. Aos poucos minha cabeça voltava e do meu lado alguns livros, a bolsa suja de terra e vômito. Consequência de mais uma crise. Às dez, às treze, às dezessete, às vinte e duas, mas poderia ser em qualquer horário ficando mais intenso de acordo com a fragilidade do corpo. Nestas horas que me dobrava segurava o Tau. Precisava tomar um gole d’água, comer alguma coisa.
Dias estranhos. As vezes semanas sem falar com ninguém. Entrava e sai da sala sem a necessidade de falar. Os demais colegas não tinham interesse. Eu sabia falar. Isso é outra coisa. Eles eram de outra realidade social, que até hoje desconheço, mas naquele momento que nem casa eu tinha e vivia de uma salsicha e de um pão, ainda pior. Quem falaria com um sujeito estranho, o mundo, ainda - digo: ainda! - estranho. Alguns até tentaram, mas colocava-me contra qualquer gesto de piedade. Precisava sobreviver. Sobreviver significava viver um dia de cada vez, superar as dificuldades, que não eram apenas financeiras ou as humilhações do qual estava submetido. Aos poucos começara a descobrir que havia um pouco mais que as aparências. Mesmo que vivesse como um desgraçado seria melhor do que qualquer condição do local de onde viera. Se me julgava pouco livre para escolhas, resistir seria a maior liberdade. Ninguém nunca tinha dito o que de fato era o mundo, o mundo dos homens e mulheres. Tudo que ouvia era o quanto seria fraco para suportá-lo, das dificuldades, e quando enfim, me deparo vejo o quanto é simplório todas as afirmações. Superar os limites do corpo foi ter encontrado um caminho sobre àqueles que te veem de cima como se fossem mais forte, o mais privilegiado, o mais sábio. Aprendi o que é resistir superando os limites do próprio corpo. Quando me dei conta, num gesto automático tracei os caminhos que me tirariam da condição de indesejado.
Tinha decidido mudar sair da casa ...

terça-feira, 22 de março de 2016

No dia que me tornei o desprezível homem invisível


Há muitos modos de se desprezar uma pessoa. Nem sempre esse comportamento vem com uma agressão ou com algum tipo de violência simbólica. Por vezes pode vir com muita cortesia. Outras vezes pode vir do não gesto, quando simplesmente fingem que você não existe. São formas sutis no qual seu interlocutor colocando-se na posição de superioridade, simplesmente, despreza a possibilidade que o outro é dotado de inteligencia e de sentimentos que lhe dá uma particularidade do mundo.
Estou no Recife a quase vinte anos, e até hoje vivencio estas várias formas de desprezo. Não tenho vergonha de assumir uma condição social e de informa o meu local nesta sociedade. Sou um pouco daquela música do adorável Belchior: “Eu sou apenas um rapaz, latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior...”. Também, não tenho vergonha de me colocar como um trabalhador pobre e que passa por todas as vicissitudes que as pessoas mais simples passam no seu dia a dia. Na minha vida encontrei mais pessoas dizendo que não poderia, do que pessoas dizendo que eu poderia, e a razão dos primeiros nunca me veio como uma justificativa minimamente racional, senão as mesmas que colocam as pessoas em posições estanques pelo simples fato de não serem ninguém importante. Isso é uma forma de desprezo. Mas não quero falar apenas disso. É preciso ir além e vou além!
Talvez, pela minha história e pela própria ‘natureza’ aprendi a dar significados aos gestos sutis de desprezo, e daqui incluo em todas as suas formas – do modo especial àquelas mais sutis que desprezam nossa inteligencia e das nos ignoram. Entendo, perfeitamente, o que é lhe com uma aristocracia preconceituosa e retrograda, que mesmo estudando nas melhores escolas não foi capaz de abandonar os vícios do passado sob o medo de não ter que dividir espaços com um matuto do interior – como este aqui se manifesta. É inegável a superioridade – se falarmos das representações sociais – no entanto, o que fazem não é apenas um manifesto desprezo a quem julgam desprezível e/ou mesmo sem importância, mas assinam no mundo da vida o selo de um modelo de sociedade que nos puxa pra baixo.
Aos que me desprezam termino completando com a mesma letra de Belchior:
“Mas não se preocupe meu amigo com os horrores que eu lhe digo,
Isso é somente uma canção, a vida realmente é diferente
Quer dizer, a vida é muito pior...”

A vida realmente é muito pior, eu sou apenas o cantor (escritor) porque a noite eu tenho um compromisso e não posso faltar por causa de você (Belchior). E de fato, assim como tenho lutado não faltarei as minhas convicções e a tudo que aprendi a valorizar. Por que para mim, o mundo não é aparência, não é o status quo. A vida é algo mais que o simples desprezo. É a intimidade com o indivisível é o compromisso com as minhas convicções, com meu mundo. Portanto, a intencionalidade do desprezo pra mim um significado, do qual valorizo. Ela nos coloca na real condição de nossos valores e de nossas diferenças.

Acho que vale a pena escutar Belchior
 

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Um breve diálogo


- Lewis. Uma coisinha pra você: nada de comentários, nada de análises sociológicas – você não sabe e não tem autoridade pra isso -, nada relatos, crônicas sobre o nada, nada, nada, nada, nada. POR FAVOR! Cale essa boca, ou melhor, que seus dedos não toquem os teclados de nenhum computador e se, por acaso, lhe derem a palavra – Meu filho! - fique em silêncio. Você não tem nada para dizer as pessoas. Fique um tempinho assim. Depois me procure e conte-me como foi a experiência.

Recebi um abraço. Não havia nada de animador. Talvez, fosse tristeza compartilhada, cada um à sua maneira. Da minha parte chegará a conclusão que pouca coisa valia a pena. O meu barulho, minhas inquietações, os livros, as teorias, a rapidez em pensar, as reuniões, a política-, ufa!-, não sou o único. O que acreditava ser possível não é possível. O seu conselho e abraço indicavam apenas uma coisa: a retribuição de seus conselhos num aperto de mão e riso discreto. O silêncio que se seguiu foram os momentos mais rápidos, mas o suficiente para entender o quanto estava correto. 


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Meritocracia é diferente de mérito


Muito se falou na semana passada sobre a nomeação do chefe de gabinete do Governador Paulo Câmera, na maioria das postagens e comentários uma crítica direta a velha forma de fazer política, das tradições oligarcas. O outro viés, pelo qual a crítica foi aplicada, diz respeito a ideia de meritocracia. Críticas que vão dos argumentos mais científicos até a ironia esnobe de quem fala por falar. Confesso que não tive espanto nesse fato político, se vê-lo como repetição de algo já vivenciado na história política de Pernambuco. Não estranhem! O próximo passo são as eleições e a demonstração de uma força política pautadas em velhas tradições. Isso não é profecia, quero deixar claro. A história já tem seus registros e as categorias sociais (falo de um conceito sociológico) já estavam postos muito antes de acontecimentos fatídicos e desagradáveis. Existe uma ausência e memória que precisam serem respeitadas. Então, por que o espanto? A eleição de Paulo Câmera refletiu esta perspectiva e a própria reeleição do Prefeito Geraldo Júlio vão indicar de fato nosso nível de movimentação política. Isso está muito além das reproduções vazias e frases de efeito contra o jovem chefe de gabinete.
Espero que não tomem minhas palavras como um ato de defesa, nem muito menos de ataque. É uma reflexão que faço, não só com base em nossa tradição política, mas essencialmente no que somos. Somos uma sociedade de oligarcas. Em nosso cotidiano reproduzimos esses valores. Na nossa casa, no trabalho, até mesmo na roda de colegas (que alguns chamam de amigos) esses valores se fazem presentes. Quando reclamamos da falta da meritocracia não podemos esquecer que esta é uma prática que deve ser procurada com lentes de aumento – quase inexiste. Não é só na política. A quem de fato atribuímos méritos? Como não somos uma sociedade liberal e, sim pautadas nos valores da oligarquia, nossas relações são sempre reflexo de como nos relacionamos “afetivamente” com os demais, ou seja, o quanto somos amiguinhos uns dos outros para que nada cause incomodo a nenhuma das partes. Se não você não é de uma família com tradições e/ou laços as coisas tendem a ficar muito mais difíceis. Falta meritocracia praticamente em todas as instituições. (Vejo isso como fato corriqueiro)
O que chamamos de relações de confiança é na maioria dos casos uma reprodução dos valores que afastam a ideia de meritocracia, justificado por essas relações e por uma suposta burocracia - que funciona apenas aos inimigos – assistimos como algumas instituições se fadam ao exito da incompetência, apenas para não serem incomodados pelos que prezam por uma sociedade pautada no mérito, portanto, (posso está errado na minha afirmação) meritocracia não é o mesmo que mérito.
Mérito é algo que temos em muitos, por suas qualidades, virtudes e feitos, mas que por questões das mais diversas ordens pode não ser reconhecida. Meritocracia é algo que grupos (quase sempre com alguma forma de poder) atribui ao outro, não precisando, necessariamente, demonstrar méritos – basta que digam e pronto. Penso que somos uma sociedade da meritocracia. Sim! Temos meritocracia, no entanto, nos falta o valor do mérito. Esse, infelizmente, não é um privilégio da política. Está presente em tudo. Talvez seja por isso que nossos únicos heróis sejam os jogadores de futebol. Pelo menos, em algum momento, demonstraram o mérito de alegrar sua torcida com belíssimos gols. Já os meritocráticos … bom! Deixa isso pra lá. Esses temos aos montes, nas empresas, academias, na política. O grande mérito, destes segundos, é agradar os seus pares.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Quem disse que Umberto Eco se foi?




  A primeira leitura que fiz de Umberto Eco foi o “Nome da Rosa”, sua obra mais conhecida. No entanto, o “Pêndulo de Foucault” conserve a mesma força narrativa que o primeiro, tenho predileção por "O Nome da Rosa" (deixando claro que é o livro e não o filme, embora sendo tão bom quanto). Tirando os romances tinha vistos alguns ensaios sobre literatura, que apesar da densidade da leitura considero muito bom e, para quem se pretende a caminhar pelos “bosques da ficção” seria algo possível apenas aos já iniciados e vocacionados para tal, o que não é o meu caso. Recentemente tinha lido uma crítica interessante sobre seu último livro “Número Zero”. Sempre vi literatura de Umberto Eco num diálogo permanente com a filosofia e com as questões políticas. O “O Nome da Rosa”, não está presente apenas a dicotomia entre o velho e o novo, entre as tradições seculares e religiosas, de como nossas crenças e medos influenciam nossa visão de mundo. Chama atenção no romance o cego que é guardião da biblioteca e o que intriga é sua descrição sobre o personagem, que pode ser apenas uma maneira que o autor criou para mostrar que a pior condição ao homem não está em suas limitações físicas, mas na sua ignorância, no medo em desbravar o novo - quase sempre visto como novas formas de conhecimento, numa permanência com tradições e ritos.
Estive lendo alguns noticiários e comentários com lamentações de sua morte. Claro! Num momento no qual a mediocridade é a regra e os discursos vazios se apoderam de imbecis e incompetentes, não ter intelectuais propositivos e de conteúdo é algo que nos falta, ainda mais por sua ausência. No entanto, fica uma obra que pode ser lida e discutida, em especial no campo da literatura. Ainda sobre “O Nome da Rosa”, quando terminei a leitura fiquei impressionado com a história, da forma como a narrativa pode nos transportar no tempo. Claro! O autor não é o único, mas foi com ajuda desta leitura que pude tomar algumas decisões, repensar um monte de coisas. Por algum tempo pensei até em ser escritor.
Outra coisa que chama atenção em Umberto Eco foi sua resistência à redes sociais. Achei um pouco pesada as criticas que fazia às redes sociais (mas quem sou eu pra discordar?!). Vejo as redes sociais como ferramenta importante de comunicação. Não podemos desconsiderar que há muita informação a ser filtrada (quem sabe, até esta mensagem escrita por um sociólogo sem talento e prestígio), mas não podemos desconsiderar sua contribuição em paralelo. A exemplo da Primavera Árabe e o próprio estreitamento do "espaço-tempo-território" é algo que vejo como interessante. Não quero dá ênfase a isso, mas relatar o quanto este intelectual de peso se manteve coerente e fiel a essência das palavras, seu melhor uso na reconstrução de um mundo plausível. Não sentirei falta de Umberto Eco porque o tenho nos nos livros. Este é o objetivo do escritor, que se faz presente além do seu tempo. Privilégio de poucos!

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Alguns apontamentos sobre o "Discurso sobre a Servidão Voluntária" de Etienne de La Boétie



Segue alguns fragmentos de uma reflexão que vinha desenvolvendo a partir do livros Discurso sobre a Servidão Voluntária, de  Etienne de La Boétie. Não cheguei a concluir o texto devido a problemas, mas mesmo assim destaco alguns fragmentos desta reflexão por acreditar sua pertinência ao contexto que nos encontramos.
O texto está dividido com < > no qual desenvolvo alguns apontamentos sobre o tema. As aspas indicam palavras do autor e, por vezes, uma entonação diferenciada.

  
“Assim também, quando os habitantes de um país encontram uma personagem notável que dê provas de ter sido previdente a governá-los, arrojado a defendê-los e cuidadoso a guiá-los, passam a obedecer-lhe em tudo e a conceder-lhe certas prerrogativas; é uma prática reprovável, porque vão acabar por afastá-lo da prática do bem e empurrá-lo para o mal. Mas em tais casos julga-se que poderá vir sempre bem e nunca mal de quem um dia nos fez bem.” (Do texto: Discurso sobre a Servidão Voluntária de Etienne de La Boétie, pág. 3-4)

 

< O que Etienne propõe não é a luta ou disputas, mas que àquele que oprime não se faça nada, que não lhe sirva, que não lhe beneficie. Percebe-se que a ausência da liberdade é mais uma condição no qual pessoas atribuem a outra responsabilidade que seriam suas. >


“Mas o costume, que sobre nós exerce um poder considerável, tem uma grande força de nos ensinar a servir e (tal como de Mitrídates se diz que aos poucos foi se habituando a beber veneno) a engolir tudo até que deixamos de sentir o amargor do veneno da servidão.” (Do texto: Discurso sobre a Servidão Voluntária de Etienne de La Boétie, pág. 12)


< Ao tratar de como a servidão e/ou como as estruturas de poder vão se consolidando, Etienne de La Boiétie indica como os costumes exercem uma força sobre nosso cotidiano. Relaciono isso com o que vulgarmente chamamos de “cultural”, quando na verdade está muito mais na força daquilo que as pessoas fazem sem questionar e/ou porque vê a maioria ser/fazer, daí atribuir tal status a uma ordem que não é ordem, mas elementos comportamentais que legitimam poder e estruturas de dominação. Um bom exemplo que como empregamos erroneamente o que chamamos de “cultural” em vez de comportamental quando tratamos da corrupção e do jeitinho brasileiro que nos levar a não sermos seguidores de contratos e regras coletivas básicas.
Atribuímos nosso descaso a coisa pública a “cultura”. Quantas vezes já ouvi alguns dizerem: “Mas não tem jeito porque é cultural”. Afirmação lamentável, primeiro porque coloca qualquer perspectiva de mudança na conjuntura do inevitável; segundo, assumimos uma postura de passividade e como tal atribuímos a terceiros a condução de nossas vidas – embora muito se neguem a tal afirmação jogamos nosso poder de decisão na lata do lixo. Como diria Etienne de La Boiétie somos “servos voluntários” e não nos damos conta. Há várias formas de servidão, uma delas é o que pode está sendo determinado pelos costumes, pelo simples fato de não a questionarmos.>



< Por vezes a maneira como nos dispomos como servos dos poderes locais e/ou das vontades e caprichos daqueles que nos controlam institucionalmente tem como base não a vontade espontânea. A educação que liberta, também, quando usada com este propósito, pode nos conduzir a uma condição de passividade. A educação de regimes ditatoriais (mas igualmente em democracias demagógicas) tem esse papel e o faz por meio de uma doutrinação rígida que vai se consolidando desde as séries iniciais. Aos poucos vamos sendo educados a abdicarmos de nossas convicções em função de interesses alheios, a projetos do qual jamais idealizamos, mas que o consumimos ou, pelo menos, o desejamos como um grande ideal.
No entanto, quando me refiro a educação não limito à educação formal, mas a àquele educação que aprendemos em casa – noções das mais importantes e fundamentais – no entanto, não podemos desconsiderar que muitos dos valores que nos colocam na posição de servos são apreendidos pelos costumes e tradições, que muitas vezes servem apenas para legitimar poder, aos mesmos moldes dos nobres que traziam no sangue sua nobreza. Essa autoridade infalível que não procura através do diálogo e do convencimento apresentar valores da responsabilidade e do diálogo entre iguais, não é apenas peça do poder presente em estruturas patriarcais e autoritárias, mas o elemento-chave na formação de pessoas. O grande Leviatã conforme apresentado em Hobbes, que não está dentro daqueles que se julgam acima dos outros ...
Esse modelo foi a base da sociedade durante séculos no Brasil, no entanto, o que temos hoje? Por que ele não foi capaz de assegurar-se pelos caminhos da liberdade e do convencimento? Segundo Etienne de La Boiétie: “ … a primeira razão da servidão voluntária é o hábito...” (p.16). Hábitos em que a liberdade de um depende a submissão de todos traz prejuízos enormes, porque por vezes nos enganamos com uma falsa segurança, no qual temos a sopa do pratinho e perdemos a dimensão de tudo que podemos conquistar na floresta, como no exemplo de Licurgo, que Etienne de La Boiétie demonstra. A diversão, o tapinha nas costas é mais atraente do que a responsabilidade e o preço que se paga em defender “direitos”>


“Os teatros, os jogos, as farsas, os espetáculos, as feras exóticas, as medalhas, os quadros e outras bugigangas eram para os povos antigos engôdos da servidão, preço da liberdade, instrumentos da tirania.” (Do texto: Discurso sobre a Servidão Voluntária de Etienne de La Boétie, pág. 19)

 Jorge:



 OBS: A ideia do texto era servir de base para um romance (com base em alguns conceitos filosóficos) que pretendia escrever, mas que diante de alguns aborrecimentos perdi o interesse.


Para ter acesso ao livro segue o link



quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Juvenal estava certo


Após todos esses dias de felicidade plana voltamos à realidade. “Nunca na história de … tivemos um carnaval mais animado, organizado e com tantas pessoas se divertindo.” Quase é este o discurso de nossos governantes ao final de cada jornada, na prestação de contas de milhões que foram usados para que tudo ocorre bem. Para que não fiquemos triste e órfãos desse estágio de felicidade temos, agora, plenamente o futebol, primeiro com os campeonatos estaduais numa sequência de outros campeonatos que vai até dezembro. Não atoa que levantamos com justiça a pátria do carnaval e do futebol. Não tenho dúvida de que o título é justo e reflete muito bem o que somos: um país alegre e gentil que traz em seu sangue grandes heróis de chuteiras – do qual são tantos nomes que prefiro não mencioná-los para não cair no desgosto de algum torcedor que não veja seu grande ídolo e herói não mencionado.
Mas voltando a realidade, depois da quarta-feira de cinzas, temos nosso primeiro dia útil do ano, não por acaso, que meu filho - por exemplo – retoma suas aulas na escola pública, que diga-se de passagem bem depois que as instituições privadas. Para além deste descompasso, andando na terra do melhor carnaval do mundo, passo em frente da creche que meu filho esteve o ano passado. Não precisei observar muito que não houve grandes novidades – pelo menos na parte externa – com uma pintura a ser renovada, o mato para ser capinado, as árvores que estão ao redor para serem podadas. Aliás, até um poste que deveria ser retirado encontra-se na sua função, demonstrando que algumas coisas nesse país funciona muito lentamente. Fico pensar que expectativa uma criança que estuda numa escola pública (que não seja as maquetes de excelência) pode ter quando seus gestores não lhe oferecem a mesma expectativa e alegria como a demonstrada com nossa brilhante festa maior Carnaval? Prestam conta da festa, mas não prestam satisfação à população sobre suas políticas de educação – estenda-se a questão para as demais áreas da atuação pública.
Talvez estejam certos. Na terra do melhor carnaval o que importa é o que as pessoas veem e esperam durante o ano inteiro. Portanto, escola não é prioridade. Como não é prioridade por parte da grande maioria as questões públicas, porque simplesmente não auge de nosso esclarecimento de classe média resolvemos nossos problemas pagando. Digo mais: pagando duas vezes, mas não fazemos questão de cobrar pelo que pagamos primeiro que são os impostos. A depender do êxtase e do furor do qual somos arrebatados em lapsos de felicidade demoremos perceber que a vida em sua normalidade segue nos mesmos ritos que tendem a nos levar, como num circulo a dar voltas, as mesmas necessidades, mas que num futuro próximo de 2017, 18, 19 e, tantos outros que iram se repetir, irá nos consolidando naquilo que somos: uma pátria de chuteiras com seus heróis. Cavalheiros a defender a dignidade de um país que se faz conhecer por esse tão nobre talento: o futebol. E de tantos outras nações que nos faz brilhar nas cores dos carnavais em seus ritos e bandeiras, nos valores da tradição.
Então, por que eu – um cidadão de terceira categoria, sem dinheiro (longe da tão sonhada classe média), sem tradição e pouco afável às citadas tradições – devo pensar em educação, ou melhor: acreditar que amanhã quando meu filho for para escola pública vá encontrar o que de melhor existe para uma educação de qualidade e que prese pelo futuro de seus cidadãos? Não tenho dúvida que se algo faltar (além do que já não se tem) diremos que a culpa é da crise, dos corruptos e de tantas outras coisas inanimadas, mas que facilmente podem serem esquecidas. Podem e devem serem esquecidas, porque infelizmente – seja de forma consciente ou inconsciente – escolhermos ser carnaval e futebol em detrimento de todas as outras coisas que poríamos ser. Bom! Há quem discorde. É um direito, mas preferia ser o país da matemática do que o país do carnaval e do futebol. No final Juvenal é que estava certo. O que temos é já tão conhecida política - empregada tanto pela esquerda quanto a diteira – do panem et circenses.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Resistir


Resistir às armadilhas do inevitável. Lutar sozinho contra as brigadas da realidade, resistir em meio à pobreza e, quando falo em pobreza não me refiro apenas àquela material. Pobreza de ideias num mundo cheio de informação e pouca ou quase nenhum conhecimento. Conhecimento. Não é aquele do diploma, mas do que nos indica como fazer. Rotas alternativas de um longo caminho e de uma existência sem graça. Das certezas que trazemos do nosso silêncio, tesouro cada vez mais raro.
Resistir mesmo quando somos conduzidos como animais ao matadouro. Nosso matadouro é a própria existência, sempre tão certinha recheada de modinhas e de sorrisos que não riem. Cada vez mais protocolares vivendo em meio a jovens, que já não questionam, mas não o fazem porque já sabem tudo, antes o fosse. Quem sabe poderiam em suas certezas desafiar a retidão dos poderosos. Quisera! “Eu não acho que ...” é tudo que temos em meio ao turbilhão de opiniões que não dizem nada, não propõe nada.
Resistir. Viver pode ser o maior exercício de resistência, mesmo quando seus sonhos jamais serão realizados. A vida não é ficção, embora a ficção insista em imitar esta vida que resisti a rende-se a ficção. Na ficção cada um escreveria sua própria história, o cenário e sua plateia estariam em conformidade ao que de fato procuram e gostam.
Resistir mesmo quando o elemento da fé lhe abandona, porque resistir, por vezes, é desafiar o território comum do inevitável, mas ninguém – a não ser por interesses alheios – constrói o discurso plausível que sua falta de fé é o que desconstrói os próprios desejos. Mas quem constrói a realidade? Pena que não dizem com clareza a quem de fato devemos servir. Existem tantos discursos e tantas advertências que vamos perdendo a essência. Mesmo assim, deve-se resistir. Com os joelhos ensanguentados, os ombros caídos e com os olhos secos  - porque não há mais lágrimas! – resistir pode ser aquela pontinha de fé que você acha que não tem, mas que por alguma razão continuamos a nos arrastar. As dores do corpo, neste caso, mostra a intensidade desta resistência.
Resistir ao inevitável e a todos os planos vazios e a todo o esquecimento que em um breve tempo todos caem, mesmo que lhe garanta a certeza de algo, a única certeza que temos é que ao não resistir antecipamos o silêncio que tanto negamos. Resistir é o silêncio, mas às vezes, é também negá-lo. Quando isso acontece nos lançamos aos desafios de seguirmos por caminhos nem sempre convencionais. Parte-se numa aposta cujo desafio nos leva a loucura do que todos evitam: o caminho do incerto, da instabilidade.
Resistir, enfim, pode ser apenas o simples fato de existir neste grande vazio de sentido que nos lançamos todos os dias, sem nos dá conta do que realmente somos. Pensar é perigoso, talvez a arma mais poderosa do homem. Resistir e pensar trouxe revoluções, guerras, grandes catarse à humanidade. Na maioria dos casos resistimos sem pensar, porque pretendemos ao máximo conservar nossos joelhos e nossos ombros da responsabilidade que deveríamos assumir.
Resistir quando a justiça é apenas uma metáfora condensada na boca de intelectuais e poderosos. Os demais resistem à sua maneira. Vivem como podem e, como na maioria das vezes não escrevemos a própria história, nos divertimos aceitando a condição de figurantes, que aparecem no cenário sorrindo, que seguem o script de cena a cena até o final do espetáculo. No final de tudo o que se vê são as cadeiras vazias e o tão temido silêncio. 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Do Elegante, de Paulo Leminski



Dor Elegante
 
Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra





quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Sobre novas tendências políticas

 Segunda-feira, dia 18/jan, compartilhei uma postagem de um jornal local que trata sobre a nova direita (ver o link). Vi como importante a matéria porque trata de um amadurecimento da sociedade brasileira que depois de anos convivendo com a ditadura militar e sonhando com a democracia, não vislumbrava mudanças que não passasse necessariamente pelo campo das esquerdas. De fato, naquele contexto – com um regime político autoritário com apoio dos EUA que temiam um avanço do socialismo soviético na América Latina – qual luta contra o modelo teria que passar pela esquerda. O MDB – por exemplo – agregava várias tendências ideológicas em prol de abertura política. Os dois grandes partidos que vão se reestruturando, já a partir da “abertura lenta e gradual”, o PT e PSDB já vislumbram como partidos antagônicos, no entanto, suas referências de lutas políticas ainda era a consolidação de um novo sistema, neste caso a democracia.
Passados quase três décadas – embora muitos discordem – a sociedade mudou. Uma nova geração de brasileiros veem parte deste história pelos livros, filmes e documentários. Com essa crise política, o que temos é muito mais avançado política e institucionalmente do que tínhamos no passado. Mesmo com segmentos de uma impressa pouco comprometida em mostrar os dois lados da mesma história, não podemos legar que a liberdade de expressão alcançou seu ideal, por todas as alternativas que são possíveis. No passado àqueles que ousassem falar contra os interesses de determinados segmentos corria sério risco. Enfim, toda essa ampliação e consolidação da democracia tem sido saudável e nada mais natural, num Estado Democrático de Direitos que tenhamos grupos políticos de direita, de esquerda, de lado, de cima, de baixo, verde, azul, amarelo e, tantos outros que surjam na arena das lutas políticas.
Estou colocando isso, porque vejo como lamentável que algumas pessoas (ao que parece, ditas de esquerda) tenham deixado de falar comigo, num gesto muito semelhante ao que se fazia anos de 1964, quando encontravam alguém de “direita”. Tenho certo receio de grupos e/ou pessoas que se colocam como manipuladores da verdade e que propõe um único caminho. Tenho medo, inclusive, porque é isso que fazem os grandes ditadores – tanto da direita, quanto da esquerda. Vejo que muitos seguem bandeiras e cores, dando um status de fanatismos. Se o grande Líder disser: chora! Os seguidores choram, e por aí vai.
Aos que me repudiaram digo apenas que viver na democracia requer o respeito as posições que o outro assuma – isso em todos os níveis e graus da vida. No referente ao aspecto político, nada mais saudável que alternância de poder – respeitando (obviamente) as regras do jogo. Ao que me repudiam, digo que não estou disposto a ouvir, qualquer um dizendo o que é certo ou errado. Respeito suas posições e espero ser respeitado. Não trata entre ser verde ou azul, mas de mostrar perspectivas até, então, pouco conhecida em nossa realidade. E, como não sou político (partidário de nenhuma cor), não sou adepto da ideia de que os fins justificam os meios. Isso não é critério ético do qual me oriente. Graças a Deus!

OBS:
Ah! Antes que alguém venha argumentar que “nunca se fez tanto...”, digo que isto não tem nada a ver com políticas públicas.


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Sobre as questões coletivas


Nestes últimos cinco anos – em que saímos do sonho de potencia emergente para a bola da vez da crise econômica (agravada pelos desmandos políticos) tenho visto e vivido – em várias circunstâncias e locais – o quanto as questões que envolvem as questões coletivas e a comunidade (no seu sentido mais amplo) são, por vezes, princípios inexistentes em nossa sociedade. As pessoas não estão convictas da seu papel social, da sus função - independente da posição social. O nível de descompromisso da cobradora de ônibus que joga a garrafa de água pela janela, após beber água é comparável à políticos e empresários que se beneficiam do poder para tirar benefícios prejudicando grande parcela da população. E os bonzinhos não venham me dizer que a mulher só faz isso porque não tem educação e os políticos tem educação, portanto, não se compara. Não sou favorável desta tese, porque todos em sã consciência sabem o que fazem. Prova disto é que a mulher não gostou quando reclamaram do seu mal exemplo.
As razões deste vazio pelo cuidado do público tem várias razões, do qual não caberia aqui mostrar todos os pontos. Sobre isso acho interessante a leitura dos Interpretes do Brasil, do qual recomendo dois, com perspectivas diferentes: Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda. Mesmo assim, a partir do meu senso comum, apresento algumas impressões. Primeiramente, vivemos no velho costume de ficar outorgando responsabilidades à terceiros. O maior deles é o próprio Estado. Espera-se tudo do Estado. Não quero afirmar que não devamos esperar, porque coisas essencial deve ser atribuição, mas há muito que podemos fazer e não o fazemos. O que se deixou de realizar é sempre responsabilidade do outro. Personalizamos o coletivo e a depender da posição que ocupamos escolhemos um “pai” (quem já não ouviu a expressão “o pai dos pobres”) ou um vilão (a exemplo da crise política – no qual nos furtamos a responsabilidade do que temos) que tomamos como referência para nossa inépcia verbal.
Volto ao exemplo do lixo. Vê-se o quanto a grande maioria não está nem ai para o que se faz com o lixo. Não falo só do que encontramos nas ruas. Nosso estilo de vida tem como resultado final o lixo. Nosso progresso pautado no consumo desenfreado é pautado na destruição desenfreada da natureza. Nosso progresso está diretamente atrelado ao que somos obrigados a descartar, sem nenhum questionamento. Não pensamos na pólis – no sentido de criarmos condições para as gerações – queremos o agora, porque a única coisa que vemos são nossas necessidades mais imediatas, recursos sempre tão mitigados. Todos tem responsabilidades sobre a cidade, o que obviamente no remete a um saber fazer. Que fique claro que não faço referência a política partidária, mas a força de um sistema associativo, no qual cada indivíduo motivado constroem as possibilidades (perspectiva bem próxima a Tocqueville e a Weber).
Recentemente assisti o filme “As sufragistas”, que conta a história de um grupo de mulheres inglesas - conhecidas por “As sufragistas – que lutavam por direito ao voto (sufrágio universal), ou seja, lutavam por direitos políticos e sociais e plena igualdade entre homens e mulheres. Chama atenção o contexto do séc. XIX numa Inglaterra conservadora e de perseguição aos movimentos sociais e políticos contrários aos interesses da burguesia da época. No entanto, o que fica mais evidente nesta história é a determinação, compromisso e desprendimento em pensar questões coletivas, mesmo assumindo custos pessoal altíssimos, como a perseguições, o abandono e até mesmo a própria vida. Vê-se que a luta por igualdade destas mulheres não foi algo pensado apenas por intelectuais em seus gabinetes de universidade, nem muito menos por políticos demagogos, mas de necessidades reais e, principalmente, pelo espírito cívico de liberdade e igualdade, na construção de uma sociedade melhor. Quando estou tratando disso não estou me referindo à pessoas boazinhas, não se trata disso. A convicção das sufragistas passavam pela certeza de que as desigualdades e uma melhor condição de vida só seria possível quando tod@s tomassem consciência de princípios básicos e universais (sobre isso ver a carta da UNU sobre os direitos universais).
Infelizmente quando penso sobre nosso contexto fico com a impressão que vivemos, em todos os níveis, na reprodução de feudos e suas aristocracias, na prática de favores e de relações de dominação, que vai além das esferas do Estado e perpassa nossas relações cotidianas, quando direitos viram favores e, quando a coisa pública torna-se pessoal. Nessas ocasiões a noção de direitos se confundem com a vontade do soberano que ignora a condição do outro. Chama atenção neste contexto os utópicos e muitos revolucionários - quase sempre filhos da aristocracia que por um sentimento de compaixão e pela confusão de verem duas realidades – se põe a falar em nome daqueles que veem em fotografias ou nos versos de João Cabral de Melo Neto. Mas tem mesmo a coragem de quebrar com suas próprias estruturas? Um bom exemplo é quando estes segmentos chegam no aparelho do Estado. Alguma coisa acontece que seus discursos mudam. Um bom exemplo é que temos hoje no poder.
O que é interessante neste momento é que vivemos os dois lados da mesma moeda. Significa que tivemos oportunidades de construir cheches, escolas, quebrar velhas práticas do vício político, no entanto, o jogo do que é mais conveniente e mais “tranquilo” prevaleceu e nós – que sempre nos furtamos à responsabilidade – acreditamos que as coisas são assim e pronto. Ou como costumo ouvir: “cada um faz o seu, eu faço o meu”. Pena que este sábio não saiba responder o que fazer quando o desemprego bate na sua porta e na porta do vizinho e do seu irmão, dos sobrinhos e de 9,1 milhões de brasileiros. Isto acontece porque não estamos, ainda, preocupados com o futuro sustentável. O progresso não é minhas 72 prestações do automóvel e tudo isso fica comprometido quando se vive períodos de crise. Volta-se para o ônibus, porque não pode pagar a gasolina e as prestações do carro, põe-se a culpa num político, mas esquece que o próprio no passado defendia o que se criticava, quando na verdade tudo estava sendo jogado para debaixo do tapete.
Teria muito mais coisa a debater, mas termino sobre a perspectiva que vivemos um totalitarismo supra-ideológico. Vivemos o totalitarismo do imediatismo, do “salve-se quem puder”, regime dos fatalismos existenciais, na reprodução vazia de imagens que não fazem o menor sentido, porque estamos mais preocupados em mostrar o que não somos, do que viver daquilo que somos. Nessa preocupação não há espaços para resolução de problemas coletivos, da consolidação de direitos – que muitos que acreditaram chegaram a dar a própria vida. Enquanto isso – esclarecidos ou não – esperamos pelo outro e, o outro espera, igualmente, que alguém faça. Somos covardes esclarecidos com medo de conduzimos nossa própria existência.


sábado, 2 de janeiro de 2016

Entre estruturas e biografias

 As questões estruturais e históricas, em algum momento, se vinculam às nossas biografias. Claro que as proporções dos fatos vão depender da posição social e do lugar que nos encontramos. Digo isto num momento de extrema dificuldade, de privações e humilhações – consequência obviamente das questões estruturais e dos fatos históricos – muito bem justificados por todos que detém algum tipo de poder. E usam das justificativas para atos insólitos, no desprezo a princípios e a ordens só concebíveis num país que nunca viveu plenamente o princípio do respeito à cidadania (num compromisso com a dignidade humana).
Me volto a pergunta do Lênin: Que fazer?
Vou aproveitar minhas 'férias', que não são férias, para pensar um pouco nisso e, já que estou completamente sem dinheiro, vou esconder minhas privações e a vergonha, nas minhas leituras. Quem sabe durante o dia faça como no velho Marx e George Orwell faziam, naqueles momentos de fome e solidão: andar pela cidade, nos lugares mais desprezíveis e pensar como todos de alguma forma estão conectados às estruturas e a biografia, que no Brasil nos envergonham com a falta de respeito aos princípios mais básicos de humanidade e, que se justificam em frases religiosas ou em jargões vazios, tão vazios como seus princípios.
Então, para dizer que nada foi feito vou me ocupar de dois livros; o primeiro, dos mais belos livros de Aristóteles “A arte poética” - para que minha fé na humanidade esteja focada nas artes e na cultura, nos valores espirituais e mais sublimes do homem -, bem distante da política e do pensamento brilhante de todos (digo todos!) que nos governam; o segundo livro, de Gabriel García Márquez “El amor em los tiempos del cólera” (em edição mexicana de bolso), para contemplar a genialidade deste escritor na arte de criar longas narrativas. Para acreditar do que García Márquez sempre impôs em suas obras: o valor universal dos sentimentos, da importância das lutas sociais e, principalmente, o valor a arte como um dos elementos de tornar essa porcaria de mundo melhor.