Hoje, 29 de outubro, é Dia Nacional do Livro. O que poderia ser
motivo de orgulho para nós, reflete apenas com data a ser lembrada,
mas não comemorada como um país de leitores. Aliás, neste
requisito somos um dos mais atrasados da América Latina. Apenas para
que ninguém venha me importunar sobre a veracidade dos fatos,
informo que não estou falando de impressões visuais, mas de dados –
a exemplo da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” que em uma
de suas pesquisas (2012) constatou, por exemplo, que 85% das pessoas
entrevistadas preferem assistir TV do que ler um livro. Essa é uma
pequena informação que diz muito pouco, o problema é bem mais
grave e complexo, no entanto, quero deixar de lado as informações
científicas para quem foi escolhido por Deus para ser portador
destas informações.
Prefiro falar como leitor e alguém que, por sorte, desde muito cedo
teve contato com a leitura e os livros. Falo a partir de algumas
dezenas de livros já lidos e relidos. Neste sentido, penso que falar
do dia Nacional do Livro tem um papel muito mais simbólico sobre o
valor do livro. Vejo como lamentável quando escuto pessoas se
queixarem que tem que ler um livro para fazer algum trabalho
acadêmico. Colocam a leitura como um castigo ou algo penoso. Pior é
constatar que não há o menor interesse pela prática da leitura, na
grande maioria visto como um ato de obrigação. No meu curso de
graduação cheguei a conhecer alguns que terminaram o curso apenas
lendo xerox (na grande maioria fragmentos de textos). Na prática
liam o estritamente necessário. Ah! Mas deixa ir mais longe: conheci
até doutorandos que só liam àquilo que seus sábios orientadores
mandavam. Liam estritamente (porque não dizer estreitamente). Diria
que de tudo isso não é ruim. Pior é não ler, pior é não ter
livros, mas sinceramente, estes nunca me convenceram de nada, porque
lê é algo bem mais complexo, sempre li por prazer e quando por
obrigação na busca do quanto a leitura poderá me ser útil. Não
leio para satisfazer o ego de terceiros. Para quem faz isso o
vocabulário cabe apenas em um tipo bem especifico de dicionário
(diga-se de passagem, que não serve para o mundo).
Muitos podem pensar que isto não tem sentido nenhum, porque o
importante é que a doutoranda leu e se deu bem, ou mesmo as
sumidades do mundo intelectual, que só são o que são porque tem
muitos livros e forma pessoas com esses livros. Diria que isso não
é mérito é obrigação. O outro lado é o fato de estarmos bem
abaixo dos níveis de leituras não é culpa dos preços dos livros,
nem é culpa (apenas) dos políticos. Sobre isso lembro uma vez que
um doutor ficou tirando uma com minha cara porque estava lendo Jack
Kerouac (Os subterrâneos). Não me intimidei com a ironia, aliás só
reforçou minha convicção do o fato de não termos leitores se deve
em alguma proporção a uma elite que esnoba de leitores que gostam,
por exemplo, de Paulo Coelho. São vistos por esses grandes
intelectuais de gabinete como ignorantes que consomem uma literatura
de massa. O Pior de tudo: criticam sem nunca terem lido, naquela
velha política: “não li, não gostei”.
Outro fator que impede a expansão da leitura no Brasil são as
poucas bibliotecas públicas e as que temos são pouco atraentes ao
grande público. Além de serem excessivamente burocratizados (à
brasileira) e com horários reduzidos. Bibliotecas deveriam funcionar
24 horas. Prova disso são os exemplos de bibliotecas e/ou locais de
empréstimos de livros, com grande procura de todos os segmentos e
idades. Lembro do bom exemplo que tivemos no metrô do Recife
“Biblioteca nos Trilhos”, infelizmente não existe mais, mas que
na época era bem frequentada. O mais notável é que por ser um
sistema de empréstimo, as pessoas cumpriam os prazos. Quando se dá
o incentivo as pessoas respondem positivamente, procuram. Como formar
uma nação de leitores se os livros estão inacessíveis? Ou
acessíveis a segmentos e a classe sociais especificas? Mas ai vem a
grande questão: TODAS as elites (digo todas as elites) desse país
querem de fato emancipar as pessoas? Querem fazer as pessoas pensarem
ou ensiná-las a pensar? O melhor que vi de alguns foi o
adestramento, mas a pensar … nada!
Ler abre nossos horizontes, nos possibilita ver além dos muros de
nossa existência. Quando lemos descobrimos novas possibilidades, que
não conseguiríamos enxergar apenas com nossa visão limitada de
mundo. Ler nos ensina a viver em meio as dificuldades, mas
principalmente, ajuda a nos libertar do que nos prende, nos oprime.
Talvez seja por isso que as pessoas tutelam tanto o que deve ou não
ser lido. Alguns tem medo inclusive.
Ler não me deu o que pretendo ter de bens materiais, no entanto, me
ajuda a entender melhor o mundo. Me ensinou que as possibilidades não
está apenas numa visão maniqueísta e interesseira dos poderosos
e/ou daquelas pessoas que nos controlam. Cansado, doente, algumas
vezes com fome, mas quando abro um livro percebo que resta ainda uma
possibilidade, que a vida não é apenas o que vivo, mas o quanto sou
capaz de me projetar naquilo que estou lendo.
ainda sobre leitura:
http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2015/04/70-dos-brasileiros-nao-leram-em-2014-diz-pesquisa-da-fecomercio-rj.html
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