segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Vivendo na democracia do silêncio


“... a sociedade alienada não tem consciência de seu próprio existir. Um profissional alienado é um ser inautêntico. Seu pensar não está comprometido consigo mesmo, não é responsável. O ser alienado não olha para a realidade com critério pessoal, mas com olhos alheios” Paulo Freire, in: Educação e Mudança.


 
Nos últimos meses ouvimos, seja pelos meios de comunicação ou por fontes mais informais, que passamos por uma crise, que ao contrário de outras envolvem as dimensões econômicas, sociais e, mais recentemente, ética. A pergunta que me faço é a seguinte: será? Não sou louco, nem ingênuo para acreditar que tudo não passa de uma trama da mídia golpista (tem gente que acredita!). Afinal, 20 bilhões a menos no orçamento público não é coisa de mídia golpista. A questão que pretendo trazer não é essa. Quando falava, em passado recente, que o se constituía como progresso não era progresso, alguns chegaram a me insultar. Por coincidência (ou não) os críticos e agressores hoje me evitam. Por que será? Foi justamente daí que me veio esse termo: “democracia do silêncio”.
Apesar de todo barulho das mídias (incluindo as redes sociais) vivemos num absoluto e absurdo silêncio. Mas não é o silêncio depois da grande catarse. Ao sentimento de que algo está errado, o silêncio. Assim como vejo silêncio dos que me insultaram, ou silêncio dos espertos, ou silêncio da grande massa que vive como se estivem em outro mundo. “Democracia do silêncio”, apenas interrompida por tolos, como esse que agora escreve, ou interrompida por nossas autoridades, constituídas por um saber notório de alguma coisa.
Reforçando a ideia do tolo que rompe silêncio tão democrático, aquele mesmo silêncio advertido que diz, “olha não fala isso, porque você pode se dá mal”, também, não vejo crise pelo simples fato de nunca termos vivido condição diferente do que encontramos hoje como realidade. Simplesmente, porque nada de concreto foi construído ao longo de história. Podem discordar e me chamar de louco, mas recomendo que leiam - do modo mais básico – um pouco de história do Brasil, podem começar por Sérgio Buarque com a ideia do “Homem Cordial”, que ao contrário do que muitos pensam, não é a ideia do homem alegre e gentil – e por isso passivo. A crítica é o principio de que “o homem cordial” é àquele preocupado com os próprios interesses, que para não desagradar os interesses dos outros e nem o seu, usa dos artifícios mais “gentis” para expressar uma coisa que escuto bastante: “cada um que faça o seu, porque eu faço o meu”. Daí que tão democraticamente e harmoniosamente vivemos a democracia do silêncio.
Não me estendo muito, mas com certeza, vamos falar muito, sobre um monte de coisas nesta semana, mas não devemos nos preocupar porque as coisas mais essenciais se preservaram no silêncio e, mesmo que alguém, ousadamente, pretenda quebrá-lo alguém de bem, defensor dos bons costumes, cuidará logo de preservá-lo, e assim, como uma família feliz seguiremos nesse mundo de meu Deus, democraticamente no silêncio.

 

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