“... a sociedade alienada não tem consciência de seu próprio
existir. Um profissional alienado é um ser inautêntico. Seu pensar
não está comprometido consigo mesmo, não é responsável. O ser
alienado não olha para a realidade com critério pessoal, mas com
olhos alheios” Paulo Freire, in: Educação e Mudança.
Nos últimos meses ouvimos, seja pelos meios de comunicação ou por
fontes mais informais, que passamos por uma crise, que ao contrário
de outras envolvem as dimensões econômicas, sociais e, mais
recentemente, ética. A pergunta que me faço é a seguinte: será?
Não sou louco, nem ingênuo para acreditar que tudo não passa de
uma trama da mídia golpista (tem gente que acredita!). Afinal, 20
bilhões a menos no orçamento público não é coisa de mídia
golpista. A questão que pretendo trazer não é essa. Quando falava,
em passado recente, que o se constituía como progresso não era
progresso, alguns chegaram a me insultar. Por coincidência (ou não)
os críticos e agressores hoje me evitam. Por que será? Foi
justamente daí que me veio esse termo: “democracia do silêncio”.
Apesar de todo barulho das mídias (incluindo as redes sociais)
vivemos num absoluto e absurdo silêncio. Mas não é o silêncio
depois da grande catarse. Ao sentimento de que algo está errado, o
silêncio. Assim como vejo silêncio dos que me insultaram, ou
silêncio dos espertos, ou silêncio da grande massa que vive como se
estivem em outro mundo. “Democracia do silêncio”, apenas
interrompida por tolos, como esse que agora escreve, ou interrompida
por nossas autoridades, constituídas por um saber notório de alguma
coisa.
Reforçando a ideia do tolo que rompe silêncio tão democrático,
aquele mesmo silêncio advertido que diz, “olha não fala isso,
porque você pode se dá mal”, também, não vejo crise pelo
simples fato de nunca termos vivido condição diferente do que
encontramos hoje como realidade. Simplesmente, porque nada de
concreto foi construído ao longo de história. Podem discordar e me
chamar de louco, mas recomendo que leiam - do modo mais básico –
um pouco de história do Brasil, podem começar por Sérgio Buarque
com a ideia do “Homem Cordial”, que ao contrário do que muitos
pensam, não é a ideia do homem alegre e gentil – e por isso
passivo. A crítica é o principio de que “o homem cordial” é
àquele preocupado com os próprios interesses, que para não
desagradar os interesses dos outros e nem o seu, usa dos artifícios
mais “gentis” para expressar uma coisa que escuto bastante: “cada
um que faça o seu, porque eu faço o meu”. Daí que tão
democraticamente e harmoniosamente vivemos a democracia do silêncio.
Não me estendo muito, mas com certeza, vamos falar muito, sobre um
monte de coisas nesta semana, mas não devemos nos preocupar porque
as coisas mais essenciais se preservaram no silêncio e, mesmo que
alguém, ousadamente, pretenda quebrá-lo alguém de bem, defensor
dos bons costumes, cuidará logo de preservá-lo, e assim, como uma
família feliz seguiremos nesse mundo de meu Deus, democraticamente
no silêncio.
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