Esses dias pensei bastante sobre a censura. Muita gente associa a
sistemas que não são democráticos. Logo a contar por nós, que não somos
democráticos. Mas não é por isso, que tomarei a posição de
afirmar que vivemos sobre censura. Os covardes que ficam calados,
porque temem, ou porque são covardes mesmo, não vivem censura. Os
que falam o que é conveniente as estrutura do poder, também, não
vivem censura. Mas o que é censura. Primeiramente, não trato sobre
a perspectiva da lei, muito embora os seus sentidos apontem para ela.
Como um curioso sem futuro, tomo como referência os seus sinônimos,
que apesar da variância, todos apontam para um estado de que algo
dito afronta uma ordem e/ou perspectiva. Não quero relacionar
diretamente com liberdade de expressão, por associada a outra
coisa, por sinal bem mais trágica em nosso contexto. Denoto ao
estranhamento e ao banimento – como consequência – de todos que
passam pelo constrangimento da censura.
Muitos podem pensar que os censurados são os escritores, blogueiros,
artistas de um modo geral. Na verdade os holofotes da censura brilham
mais sobre eles, mas não está restrito ao seleto grupo. Portanto,
não quero me referi ao seleto grupo. Penso no aspecto da censura que
tende a dominar o cotidiano na sua forma mais simples. Não se trata,
apenas do politicamente correto, mas é fato que hoje falar o que
pensa é tão ou mais perigoso que tempos passados. Duvidam? O que é
o silêncio que assistimos de pessoas ditas esclarecidas, senão o
medo da censura? Mas não pensem que virá um inquisidor e perguntar
sobre todos os sentidos de suas palavras (embora não faltem pessoas
para isso). A censura pode está presente num jogo sútil de
palavras, gestos e modos de organização que impedem as pessoas de se
expressarem naquilo que elas são. De se manterem verdadeiras e
dignas em sua existência enquanto pessoa. É este medo que hoje
tende a legitimar condições sub-humanas, sob alegação que nada é
possível para além do que vem como estrutura.
As pessoas nos seus bairros, nas suas comunidades, muitas vezes no
seio da própria família se veem censuradas, com o medo das
consequências sobre si e os seus. O silêncio de bairros violentos,
pode ser um exemplo, mas pode ser, também, o medo em propor e
defender aquilo que acreditam e/ou mesmo afirmarem aquilo que
acreditam. A censura pode vir do receio que as pessoas tem de se
colocarem em campos de diferenças, das crenças, dos valores, enfim,
de expressão daquilo que as pessoas sentem, mas o medo da ira
alheia, da perda e até mesmo de consequências no plano das
sociabilidades, convida a todos a um gesto de não expressão. E
pasmem! Nunca fomos tão democráticos nos planos institucionais e ao
mesmo tempo assumimos, tacitamente, a censura como um plano que
legitima o vazio jogo das conveniências. E se por acaso, algum tolo
venha a achar que a censura é coisa de artistas, saibam que paira
apenas os holofotes que desviam o foco da verdadeira censura.
Mas não disse que o era censura – pelo menos como a formulo, neste
momento. Primeiramente, censura é um estado de opressão. Se existe
o respeito as diferenças - por mais duro que as vezes possa parecer
-, não existe censura. Se os papeis sociais e as estruturas de poder
(me refiro a ideia de micropoder) estão bem definidas, o dissenso
seria a dádiva e não a maldição a ser combatida. Quando não a
censura, há, igualmente, menos gente dissimulada, menos lacaios. É
por isso que onde há o medo, há, também, traição. As pessoas não
estão seguras de si e, por medo de se revelarem, cedem facilmente a
pressão. Mas o que é a censura, senão todas as vezes que escuto
que devo ficar calado, ou nas vezes que não fico calado e vejo
pessoas caladas – muitas vezes imoveis para não dá a pinta que
podem está concordando comigo.
Talvez aos bonzinhos e caladinhos estejam certos. A censura é algo
que nos abate profundamente, por vezes, nos chega a nos colocar de
joelhos. O vazio, o silêncio e a solidão é a característica dos
censurados, mas o tempo, também, pode ser a recompensa daqueles que
não se vendem e nem se rendem ao vazio jogo das conveniências. Por
isso, penso que ainda não somos um povo livre e nossa desarticulação
provem de uma suposta neutralidade, mas principalmente, do medo, de
um eterno estágio de vigilância em sermos “bonzinhos”, fingindo
que vivemos num mundo de “bonzinhos”, mas sem darem-se conta que
a percepção do mundo, deve ser, igualmente, a soma daquilo que
somos. Isso é difícil porque implica viver com a diferença, daí -
talvez – seja melhor censurar do que partir para o bom jogo do
convencimento, que diga-se de passagem não existe quando a censura é
a regra.
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