segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Entre livros, cortiço e um cachorro-quente


Minhas palavras soam como tendenciosas neste momento, mas sou fanático pela literatura. Dostoiévski, Émile Zola, Gustav Flaubert, Jack Kerouac, Machado de Assis, Jorge Amado, Gabriel García Marques, Vargas Llosa e tantos outros que poderia estender uma lista de páginas. Todos escritores geniais. Escritores, que a sua maneira, fizeram arte e, para além da arte, refletiram do modo particular e profundo o mundo que gostariam e o mundo real. Um jogo de palavras difícil e para poucos. Teve épocas que tentei, mas percebi o quanto são geniais. Lembro dos trinta dias que passei mergulhado na leitura de Tolstói e Dostoiévski, perceber o quanto a arte é capaz de nos levar à uma outra dimensão da existência. Na ocasião estava de férias do trabalho e no domingo que antecedia o retorno de minha volta a única coisa pensava era “como é possível?” Não bastasse esses dois autores viscerais, numa semana intercalo com a leitura de Madame Bovary, de Gustav Flaubert.
Mas tem os autores nacionais. Falar de Machado de Assis é cliché. Já li de alguns críticos que se fosse russo ou americano ganharia status de universal. Posso está falando uma grande bobagens, mas Machado é universal, porque trata de temas universais. Mas não posso esquecer de José de Alencar e, muito menos, de Aluísio de Azevedo. A primeira vez que li “O Cortiço” morava num cortiço. Naquele momento nem um tratado de ciências humanas era mais importante do que aquele livro. Na precariedade da vida, ainda mais perdido do que hoje, lia o Cortiço enquanto comia um cachorro-quente, de frente ao Centro de Filosofia. Enquanto Carlos prepara do dog, folheava as páginas de trás pra frente, numa retrospectiva de cenas entre o imaginado real e o real imaginado, no ir e vir de estudantes de classe média preocupados com “A grande revolução”, enquanto comia minha única refeição e procurava, estranhamente, entender a “natureza” de um escritor. Naquele momento Aluísio de Azedo.
As dúvidas ficaram. O livro guardo com carinho especial, com manchas de um passado, Lembro até a hora. Meio-dia. Sol quente. Movimento intenso de ônibus e as mesmas discussões como fazer a “grande revolução”? Eu só queria entender o cortiço, literalmente. Talvez, porque essas coisas nunca foram para mim. Até hoje sou muito ignorante para isso. Esse pessoal que pensa na “grande mudança” é “descolado”, inteligente, cultos e sabem o que é melhor para o povo. No auge dos meus 64 quilos pretendia ter apenas um pouco da força do Jerônimo, porque o Rio Doce/CDU nunca foi moleza. Graças a Deus foi coisa rápida.
Mas outras leitura vieram, igualmente, em outros tempos diferentes, a exemplo de Hemingway. Neste autor a sofisticação do ponto. Nunca aprendi direito. Da sofisticação do ponto passei para a prolixidade dos longos parágrafos de Jack Kerouac. Graças a Deus só cheguei a lê este autor depois - vamos dizer – velho, aliás velho para o que este maldito escritor nos conduzir. Acho que é devido a Kerouac que gosto de viajar de motocicleta, parar em alguma lanchonete de beira de estrada e tentar trocar nem que seja duas palavras com outra pessoa. A sensação de desconfiança deve ter sido a mesma que os malditos beatniks viviam. Andar sozinho na estrada sem olhar pra trás, apenas pra frente. A velocidade não é importante. Importa o ritmo. Após Keouac o jazz é o ritmo. Imprimir a mesma constância entre o ritmo da música e do motor. O improviso perfeito, seguro porque é harmônico. Já perceberam que motociclistas barulhentos são os piores? Não há ritmo.
Não poderia esquecer Milan Kundera em “A insustentável Leveza” e a “Imortalidade”. Na ocasião trabalhava como auxiliar de pesquisa e um grupo de doutorandos passava no corredor do departamento onde trabalhava, e como sempre, entre às 12h30 e 14h sentava no banco para lê. Nesse dia viram que minha leitura não era manual de revolução ou qualquer tratado contra o capitalismo, tratava-se de Milan Kundera. Encarei os risos e deboches com indiferença, ao mesmo tempo que lia em Kundera na sua crítica aos intelectóides de esquerda, sempre tão carentes de espelhos, na busca de uma pseudo imortalidade. Até hoje vejo como um livro importante. A Imortalidade me fez pensar no princípio “uno-e-terno” de Deus. Em Kundera aprendi que todo sintoma de autoritarismo e ironia é sintoma grave de fraqueza e medo eterno do esquecimento. E com quantos desses não temos que conviver ao longo da vida?
Como disse lá no começo: é tendencioso meu argumento pela literatura. Ao tratar disto quero apenas mostrar uma perspectiva entre tantas possíveis, em especial em tempos tão carente de arte – aqui incluo todas as artes – no qual a criatividade tem se rendido ao pragmatismo do tempo e do dinheiro. Diga-se de passagem sintomas de muitos de nossos problemas sociais, políticos e econômicos do qual passamos., mas deixa isso pra lá porque é outra história. Fui!! 





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