Igualdade, conhecimento, ética, trabalho, dinheiro (algo mais
cobiçado e necessário), responsabilidade social, liberdade,
cidadania, respeito, progresso, paz, amor, reflexão, ação,
decepção, alegria, …, poderia ficar horas escrevendo palavras
soltas, do qual os seus sentidos são diversos. Pra ser sincero, são
palavras que vieram assim que abri o editor de texto. Não me vieram
para tratar de algo específico, mas por pensar na complicada
“natureza” humana – se é que podemos assim falar. Segundo
Dostoiévski “nada que é humano causa estranheza”, isso é ele
que diz, mas não tem como não estranhar tanta coisa que se vê e
que se ouve por aí. Claro! Das desigualdades, das injustiças, mas
diria que este estranhamento já é cliché. Em um país como o nosso
isto é absolutamente visível. Penso nas “estranhezas” mais
sutis, mínimas. Ninguém que está fora consegue ler e/ou perceber.
É a terceira ou quarta dimensão que nos coloca frente a frente com
àquilo que somos – em todos os seus aspectos. É o momento que
todas as palavras citadas no inicio perdem o seu sentido conceitual e
não conseguimos enxergar além de nós mesmo. Ficamos cegos e nos
fechamos em nossos interesses e em nossos mundos. Naquele velho
sentido de que não podemos parar em hipótese alguma e é,
justamente, neste momento que somos capazes de falar das coisas mais
surpreendentes porque só conseguimos vê o que nos interessa.
Está, igualmente, nesta dualidade um sentido profundo de existência
– algumas vezes de resistência – é quando nos deixamos guiar
pelo espírito público, quando construímos ideias (ou ideais) e nos
pautamos por eles. Daí surgem todas as palavras empregadas lá no
inicio. Mas vejo que este é passo mais importante, porque é daí
que somos capazes de criar um vínculo mínimo de humanidade, na
construção de uma linguagem comum e, principalmente, de civilidade.
Vamos por meio de todos esses princípios abandonando o lado mais
“estranho” para nos dedicarmos a algo mais e mais forte do que a
nossa própria constituição. Somos formados e formadores.
Conseguimos com esse “espírito” de civilidade enxergar uma
humanidade e fazer com que o nosso local possa transcender nossa
medíocre existência (por mais extraordinário que alguém possa
ser), nos colocando numa condição de iguais, do qual a necessidade
primeira é olhar o outro numa projeção daquilo que desejamos
melhor para nós (pelo menos este é o ideal).
Acredito que este é o grande desafio. Encarar o que há de mais
subliminar sem perder-se nesta mistura das intenções com a ação.
Isso é uma lógica que nos obriga a tentar ver o que há por trás
das cortinas deste grande palco que é a sociedade, a não ser que
desejemos ser expectadores, assistindo a encenações, sentadinhos em
nossas poltronas, com nossas justificativas e com medo de conduzirmos
nossa própria história. Portanto, não é o sucesso ou fracasso que
devamos encarar, nem a velha dualidade entre o bem e o mal, mas o que
somos e daquilo que poderia nos surpreender, do que nos causa
“estranheza”. Pra tudo isso, viver e seguir nossas convicções é
a melhor saída.
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