segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Daquilo que somos e do almejamos


Igualdade, conhecimento, ética, trabalho, dinheiro (algo mais cobiçado e necessário), responsabilidade social, liberdade, cidadania, respeito, progresso, paz, amor, reflexão, ação, decepção, alegria, …, poderia ficar horas escrevendo palavras soltas, do qual os seus sentidos são diversos. Pra ser sincero, são palavras que vieram assim que abri o editor de texto. Não me vieram para tratar de algo específico, mas por pensar na complicada “natureza” humana – se é que podemos assim falar. Segundo Dostoiévski “nada que é humano causa estranheza”, isso é ele que diz, mas não tem como não estranhar tanta coisa que se vê e que se ouve por aí. Claro! Das desigualdades, das injustiças, mas diria que este estranhamento já é cliché. Em um país como o nosso isto é absolutamente visível. Penso nas “estranhezas” mais sutis, mínimas. Ninguém que está fora consegue ler e/ou perceber. É a terceira ou quarta dimensão que nos coloca frente a frente com àquilo que somos – em todos os seus aspectos. É o momento que todas as palavras citadas no inicio perdem o seu sentido conceitual e não conseguimos enxergar além de nós mesmo. Ficamos cegos e nos fechamos em nossos interesses e em nossos mundos. Naquele velho sentido de que não podemos parar em hipótese alguma e é, justamente, neste momento que somos capazes de falar das coisas mais surpreendentes porque só conseguimos vê o que nos interessa.
Não é a toa que grande parte da obra do genial Dostoiévski gira em torno desta “estranheza”, numa relação de amor e ódio, impossíveis e confusas, ao mesmo tempo. É algo que surpreende – talvez daí a genialidade deste autor em conhecer os meandros perigosos da alma humana – que muitas vezes possamos encontrar o conflito quando se espera o contrário, mas é, também, surpreendente perceber a falta de caráter em gestos humanos que do lado de fora soa como um gesto sublime de bondade. Portanto, a imersão da vida não está apenas na ação, mas nos seus sentidos mais profundos. Está naquilo que jamais confessamos para o outro e que muitas vezes negamos para nós mesmos. Daí a necessidade que temos de justificar e, pra ser mais racional muitas vezes quantificar (algumas vezes expressando até valores).
Está, igualmente, nesta dualidade um sentido profundo de existência – algumas vezes de resistência – é quando nos deixamos guiar pelo espírito público, quando construímos ideias (ou ideais) e nos pautamos por eles. Daí surgem todas as palavras empregadas lá no inicio. Mas vejo que este é passo mais importante, porque é daí que somos capazes de criar um vínculo mínimo de humanidade, na construção de uma linguagem comum e, principalmente, de civilidade. Vamos por meio de todos esses princípios abandonando o lado mais “estranho” para nos dedicarmos a algo mais e mais forte do que a nossa própria constituição. Somos formados e formadores. Conseguimos com esse “espírito” de civilidade enxergar uma humanidade e fazer com que o nosso local possa transcender nossa medíocre existência (por mais extraordinário que alguém possa ser), nos colocando numa condição de iguais, do qual a necessidade primeira é olhar o outro numa projeção daquilo que desejamos melhor para nós (pelo menos este é o ideal).
Acredito que este é o grande desafio. Encarar o que há de mais subliminar sem perder-se nesta mistura das intenções com a ação. Isso é uma lógica que nos obriga a tentar ver o que há por trás das cortinas deste grande palco que é a sociedade, a não ser que desejemos ser expectadores, assistindo a encenações, sentadinhos em nossas poltronas, com nossas justificativas e com medo de conduzirmos nossa própria história. Portanto, não é o sucesso ou fracasso que devamos encarar, nem a velha dualidade entre o bem e o mal, mas o que somos e daquilo que poderia nos surpreender, do que nos causa “estranheza”. Pra tudo isso, viver e seguir nossas convicções é a melhor saída.

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