sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Sinopse (Conto)


Após dez anos de conflitos não havia mais o que recuperar. Já não se sente o cheiro, apenas o frio da derrota. Pouco importa está vivo. O gosto amargo na boca em decorrência dos gases das bombas, as mãos ressecadas pelo calor das armas e por uma grande fome que já assolava o país desde o primeiro ano de guerra. Alguns até sabiam que tinham casa, ou pelo menos escombros. Outros queriam atravessar o rio e recomeçarem a vida. De algum modo. Nas ruas zumbis caminhavam de um canto a outro. Todos queriam um cemitério, porque a fumaça que saia dos escombros era o maior sinal do fracasso de todos os sonhos construídos. Já não havia nada a ser pervertido. A guerra é a maior perversão do homem. Pode ser o ápice de sua inteligência, mas o fracasso de sua condição.
Sem lágrimas e lamurias. Sem risos de reencontros. Em todos apenas a certeza que precisavam retirar os escombros e reconstruir o país. Claro que não seria a mesma terra. Demoraria pelo menos três gerações e, pelo menos duas gerações sumindo com suas memórias que todo um povo voltasse a sorrir. Apenas alguns poucos amantes da história poderiam voltar ao tempo e reconstruir o que deveria ser esquecido. Helena sempre obcecada pelo passado, que por vezes se confundia com seus personagens. Para ela, recontar a história seria viver duas vezes, sem o ar da novidade, mas as possibilidades de viver sentimentos inexplicáveis. Suas maquetes davam o exemplo disso. Do outro lado da cidade um marginal que não acreditava do presente, que desconhecia o riso, assim como achava tolo todos que o fizessem. A vida era seu maior azar e entre a insuportável existência, buscava na vida de desgraçados jogados na rua uma razão para contar o outro lado que todos negam. O quanto somos miseráveis e egoístas. Nos negamos porque nossa consciência entorpece com o estigma do que chamamos de fé. Assim era Pedro, que se por acaso, seu nome vem de pedra, ele fazia questão de prova em vida que Pedro não é pedra, mas escombros, de uma família destruída e autodestrutiva.
Mas o que seria possível entre o improvável: Helena e Pedro? Alguma coisa próximo ao nada está por acontecer. Escombros e morte se reencontram na construção de algo novo …
Essa é a ideia de montar uma história ante-histórico.

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