Apesar
de muitos nutrirem um sentimento de repulsa pela política e
políticos fica cada vez mais evidente que este sentimento tende mais
a nos prejudicar do que propriamente nos colocar numa zona de
conforto. Se não bastasse esse modo por vezes fútil de lhe dar com
a coisa pública, quase sempre ouvirmos aos berros ecos de inflexões
que não chegam a corresponder a realidade. Inclusive muitos podem
até negar, podem até dizer que conhecem a realidade porque ela está
aí, porque todos – seja em frases de efeito ou em locuções mais
longas – dizem que a conjuntura não é das melhores.
Superficialmente, estão certos. No entanto, a realidade social não
é apenas o que lemos e assistimos em jornais ou que pensarmos
encontrar em telenovelas que se postam como “consciência' da
sociedade.
Como
sempre sabemos muito pouco sobre as regras do jogo – regras que
aliás que muitas vezes é controlada por meninos mimados, que por
serem os donos da bola tentam a todo momento mudar o resultado a seu
favor. A realidade, como diria o sociólogo Peter Berger, é um
exercício que busca a construção de perspectivas para além da
realidade, ou seja, para além do mundo visível e previsível. Não
é atoa que tudo anda muito previsível, embora para muitos o
sentimento seja o contrário. Mas é justamente por pensarmos o
contrário que não nos damos conta que o espaço público - que
está para além do que entendemos vulgarmente por política e
políticos – está carente de perspectivas. O espaço público se
compara a um palco no qual parte dos seus atores foram embora e outra
metade sentou nas cadeiras da plateia. O que assistimos, hoje, sobre
esse palco não são atores, mas os assistentes, que ao sorriso dos
pouco que ficaram acreditaram que estariam fazendo um bom papel.
O
mesmo Peter Berger mostra que a perspectiva sobre o entendimento da
realidade, também, acontece quando passamos a ver a sociedade como
reprodutora de seus próprios dramas e mais: “toda situação
social é mantida pela trama de significados” (Peter Berger, in:
Perspectivas Sociológicas, 1982). É justamente dessas tramas que
todas as demais estruturas de poder vão se formando. Questão que
pode, inclusive, ser ampliada: todo sistema que sobrepõe valores e
estruturas de poder sobre os homens e que ao longo da história
tendem a se consolidar como cultura e que vai modelando esse grande
palco do qual chamamos de sociedade.
Bom!
Muitos poderiam fazer a justa pergunta: E daí? Considero uma
pergunta de difícil resposta. Prefiro pensar que por trás de tudo
que vivenciamos em nosso contexto, há algo mais. A realidade não é
apenas o mundo empírico - ou seja – algo que está circunscrito
ao meu “universo” e, que por mais extraordinária que uma pessoa
possa ser a realidade é sempre mais. Os indivíduos estão em locais
diferentes e veem por esses primas diferenciados. Talvez seja por
isso que as pessoas vejam o prisma da esfera pública, apenas do sofá
de suas casas, apartamentos e outros.
Cenários
previsíveis, de contextos chatos. Como a realidade é sempre a busca
do que pensamos como “o certo”, descortinar possibilidades é
cada vez mais um trabalho para os 'desajustados', isso porque
abandonamos (se é que alguma vez o praticamos) que para além do que
vivemos a algo mais para além dos vulgares determinismos.
Para
terminar vou citar diretamente o Peter Berger:
“Quaisquer
que sejam as possibilidades de liberdade, elas não se poderão se
concretizar se continuarmos a pressupor que “o mundo aprovado” da
sociedade seja o único que existe. A sociedade nos oferece cavernas
quentes, razoavelmente confortáveis, onde podemos nos aconchegar a
outros homens, batendo os tambores que encobrem os uivos das hienas
na escuridão. “Êxtase” é o ato de sair da caverna, sozinho, e
contemplar a noite” (BERBER, Peter. Perspectivas sociológicas.
Petrópolis:Vozes,2001 p.166)
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