segunda-feira, 27 de julho de 2015

E daí? Uma difícil resposta


Apesar de muitos nutrirem um sentimento de repulsa pela política e políticos fica cada vez mais evidente que este sentimento tende mais a nos prejudicar do que propriamente nos colocar numa zona de conforto. Se não bastasse esse modo por vezes fútil de lhe dar com a coisa pública, quase sempre ouvirmos aos berros ecos de inflexões que não chegam a corresponder a realidade. Inclusive muitos podem até negar, podem até dizer que conhecem a realidade porque ela está aí, porque todos – seja em frases de efeito ou em locuções mais longas – dizem que a conjuntura não é das melhores. Superficialmente, estão certos. No entanto, a realidade social não é apenas o que lemos e assistimos em jornais ou que pensarmos encontrar em telenovelas que se postam como “consciência' da sociedade.
Como sempre sabemos muito pouco sobre as regras do jogo – regras que aliás que muitas vezes é controlada por meninos mimados, que por serem os donos da bola tentam a todo momento mudar o resultado a seu favor. A realidade, como diria o sociólogo Peter Berger, é um exercício que busca a construção de perspectivas para além da realidade, ou seja, para além do mundo visível e previsível. Não é atoa que tudo anda muito previsível, embora para muitos o sentimento seja o contrário. Mas é justamente por pensarmos o contrário que não nos damos conta que o espaço público - que está para além do que entendemos vulgarmente por política e políticos – está carente de perspectivas. O espaço público se compara a um palco no qual parte dos seus atores foram embora e outra metade sentou nas cadeiras da plateia. O que assistimos, hoje, sobre esse palco não são atores, mas os assistentes, que ao sorriso dos pouco que ficaram acreditaram que estariam fazendo um bom papel.
O mesmo Peter Berger mostra que a perspectiva sobre o entendimento da realidade, também, acontece quando passamos a ver a sociedade como reprodutora de seus próprios dramas e mais: “toda situação social é mantida pela trama de significados” (Peter Berger, in: Perspectivas Sociológicas, 1982). É justamente dessas tramas que todas as demais estruturas de poder vão se formando. Questão que pode, inclusive, ser ampliada: todo sistema que sobrepõe valores e estruturas de poder sobre os homens e que ao longo da história tendem a se consolidar como cultura e que vai modelando esse grande palco do qual chamamos de sociedade.
Bom! Muitos poderiam fazer a justa pergunta: E daí? Considero uma pergunta de difícil resposta. Prefiro pensar que por trás de tudo que vivenciamos em nosso contexto, há algo mais. A realidade não é apenas o mundo empírico - ou seja – algo que está circunscrito ao meu “universo” e, que por mais extraordinária que uma pessoa possa ser a realidade é sempre mais. Os indivíduos estão em locais diferentes e veem por esses primas diferenciados. Talvez seja por isso que as pessoas vejam o prisma da esfera pública, apenas do sofá de suas casas, apartamentos e outros.
Cenários previsíveis, de contextos chatos. Como a realidade é sempre a busca do que pensamos como “o certo”, descortinar possibilidades é cada vez mais um trabalho para os 'desajustados', isso porque abandonamos (se é que alguma vez o praticamos) que para além do que vivemos a algo mais para além dos vulgares determinismos.
Para terminar vou citar diretamente o Peter Berger:
Quaisquer que sejam as possibilidades de liberdade, elas não se poderão se concretizar se continuarmos a pressupor que “o mundo aprovado” da sociedade seja o único que existe. A sociedade nos oferece cavernas quentes, razoavelmente confortáveis, onde podemos nos aconchegar a outros homens, batendo os tambores que encobrem os uivos das hienas na escuridão. “Êxtase” é o ato de sair da caverna, sozinho, e contemplar a noite” (BERBER, Peter. Perspectivas sociológicas. Petrópolis:Vozes,2001 p.166)

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