quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Juvenal estava certo


Após todos esses dias de felicidade plana voltamos à realidade. “Nunca na história de … tivemos um carnaval mais animado, organizado e com tantas pessoas se divertindo.” Quase é este o discurso de nossos governantes ao final de cada jornada, na prestação de contas de milhões que foram usados para que tudo ocorre bem. Para que não fiquemos triste e órfãos desse estágio de felicidade temos, agora, plenamente o futebol, primeiro com os campeonatos estaduais numa sequência de outros campeonatos que vai até dezembro. Não atoa que levantamos com justiça a pátria do carnaval e do futebol. Não tenho dúvida de que o título é justo e reflete muito bem o que somos: um país alegre e gentil que traz em seu sangue grandes heróis de chuteiras – do qual são tantos nomes que prefiro não mencioná-los para não cair no desgosto de algum torcedor que não veja seu grande ídolo e herói não mencionado.
Mas voltando a realidade, depois da quarta-feira de cinzas, temos nosso primeiro dia útil do ano, não por acaso, que meu filho - por exemplo – retoma suas aulas na escola pública, que diga-se de passagem bem depois que as instituições privadas. Para além deste descompasso, andando na terra do melhor carnaval do mundo, passo em frente da creche que meu filho esteve o ano passado. Não precisei observar muito que não houve grandes novidades – pelo menos na parte externa – com uma pintura a ser renovada, o mato para ser capinado, as árvores que estão ao redor para serem podadas. Aliás, até um poste que deveria ser retirado encontra-se na sua função, demonstrando que algumas coisas nesse país funciona muito lentamente. Fico pensar que expectativa uma criança que estuda numa escola pública (que não seja as maquetes de excelência) pode ter quando seus gestores não lhe oferecem a mesma expectativa e alegria como a demonstrada com nossa brilhante festa maior Carnaval? Prestam conta da festa, mas não prestam satisfação à população sobre suas políticas de educação – estenda-se a questão para as demais áreas da atuação pública.
Talvez estejam certos. Na terra do melhor carnaval o que importa é o que as pessoas veem e esperam durante o ano inteiro. Portanto, escola não é prioridade. Como não é prioridade por parte da grande maioria as questões públicas, porque simplesmente não auge de nosso esclarecimento de classe média resolvemos nossos problemas pagando. Digo mais: pagando duas vezes, mas não fazemos questão de cobrar pelo que pagamos primeiro que são os impostos. A depender do êxtase e do furor do qual somos arrebatados em lapsos de felicidade demoremos perceber que a vida em sua normalidade segue nos mesmos ritos que tendem a nos levar, como num circulo a dar voltas, as mesmas necessidades, mas que num futuro próximo de 2017, 18, 19 e, tantos outros que iram se repetir, irá nos consolidando naquilo que somos: uma pátria de chuteiras com seus heróis. Cavalheiros a defender a dignidade de um país que se faz conhecer por esse tão nobre talento: o futebol. E de tantos outras nações que nos faz brilhar nas cores dos carnavais em seus ritos e bandeiras, nos valores da tradição.
Então, por que eu – um cidadão de terceira categoria, sem dinheiro (longe da tão sonhada classe média), sem tradição e pouco afável às citadas tradições – devo pensar em educação, ou melhor: acreditar que amanhã quando meu filho for para escola pública vá encontrar o que de melhor existe para uma educação de qualidade e que prese pelo futuro de seus cidadãos? Não tenho dúvida que se algo faltar (além do que já não se tem) diremos que a culpa é da crise, dos corruptos e de tantas outras coisas inanimadas, mas que facilmente podem serem esquecidas. Podem e devem serem esquecidas, porque infelizmente – seja de forma consciente ou inconsciente – escolhermos ser carnaval e futebol em detrimento de todas as outras coisas que poríamos ser. Bom! Há quem discorde. É um direito, mas preferia ser o país da matemática do que o país do carnaval e do futebol. No final Juvenal é que estava certo. O que temos é já tão conhecida política - empregada tanto pela esquerda quanto a diteira – do panem et circenses.

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