Após todos esses dias de felicidade plana voltamos à realidade.
“Nunca na história de … tivemos um carnaval mais animado,
organizado e com tantas pessoas se divertindo.” Quase é este o
discurso de nossos governantes ao final de cada jornada, na prestação
de contas de milhões que foram usados para que tudo ocorre bem. Para
que não fiquemos triste e órfãos desse estágio de felicidade
temos, agora, plenamente o futebol, primeiro com os campeonatos
estaduais numa sequência de outros campeonatos que vai até
dezembro. Não atoa que levantamos com justiça a pátria do carnaval
e do futebol. Não tenho dúvida de que o título é justo e reflete
muito bem o que somos: um país alegre e gentil que traz em seu
sangue grandes heróis de chuteiras – do qual são tantos nomes que
prefiro não mencioná-los para não cair no desgosto de algum
torcedor que não veja seu grande ídolo e herói não mencionado.
Mas voltando a realidade, depois da quarta-feira de cinzas, temos
nosso primeiro dia útil do ano, não por acaso, que meu filho - por
exemplo – retoma suas aulas na escola pública, que diga-se de
passagem bem depois que as instituições privadas. Para além deste
descompasso, andando na terra do melhor carnaval do mundo, passo em
frente da creche que meu filho esteve o ano passado. Não precisei
observar muito que não houve grandes novidades – pelo menos na
parte externa – com uma pintura a ser renovada, o mato para ser
capinado, as árvores que estão ao redor para serem podadas. Aliás,
até um poste que deveria ser retirado encontra-se na sua função,
demonstrando que algumas coisas nesse país funciona muito
lentamente. Fico pensar que expectativa uma criança que estuda numa
escola pública (que não seja as maquetes de excelência) pode ter
quando seus gestores não lhe oferecem a mesma expectativa e alegria
como a demonstrada com nossa brilhante festa maior Carnaval? Prestam
conta da festa, mas não prestam satisfação à população sobre
suas políticas de educação – estenda-se a questão para as
demais áreas da atuação pública.
Talvez estejam certos. Na terra do melhor carnaval o que importa é o
que as pessoas veem e esperam durante o ano inteiro. Portanto, escola
não é prioridade. Como não é prioridade por parte da grande
maioria as questões públicas, porque simplesmente não auge de
nosso esclarecimento de classe média resolvemos nossos problemas
pagando. Digo mais: pagando duas vezes, mas não fazemos questão de
cobrar pelo que pagamos primeiro que são os impostos. A depender do
êxtase e do furor do qual somos arrebatados em lapsos de felicidade
demoremos perceber que a vida em sua normalidade segue nos mesmos
ritos que tendem a nos levar, como num circulo a dar voltas, as
mesmas necessidades, mas que num futuro próximo de 2017, 18, 19 e,
tantos outros que iram se repetir, irá nos consolidando naquilo que
somos: uma pátria de chuteiras com seus heróis. Cavalheiros a
defender a dignidade de um país que se faz conhecer por esse tão
nobre talento: o futebol. E de tantos outras nações que nos faz
brilhar nas cores dos carnavais em seus ritos e bandeiras, nos
valores da tradição.
Então, por que eu – um cidadão de terceira categoria, sem
dinheiro (longe da tão sonhada classe média), sem tradição e
pouco afável às citadas tradições – devo pensar em educação,
ou melhor: acreditar que amanhã quando meu filho for para escola
pública vá encontrar o que de melhor existe para uma educação de
qualidade e que prese pelo futuro de seus cidadãos? Não tenho
dúvida que se algo faltar (além do que já não se tem) diremos que
a culpa é da crise, dos corruptos e de tantas outras coisas
inanimadas, mas que facilmente podem serem esquecidas. Podem e devem
serem esquecidas, porque infelizmente – seja de forma consciente ou
inconsciente – escolhermos ser carnaval e futebol em detrimento de
todas as outras coisas que poríamos ser. Bom! Há quem discorde. É
um direito, mas preferia ser o país da matemática do que o país do
carnaval e do futebol. No final Juvenal é que estava certo. O que
temos é já tão conhecida política - empregada tanto pela
esquerda quanto a diteira – do panem et circenses.
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