Há muitos modos de se desprezar uma pessoa. Nem sempre esse
comportamento vem com uma agressão ou com algum tipo de violência
simbólica. Por vezes pode vir com muita cortesia. Outras vezes pode
vir do não gesto, quando simplesmente fingem que você não existe.
São formas sutis no qual seu interlocutor colocando-se na posição
de superioridade, simplesmente, despreza a possibilidade que o outro
é dotado de inteligencia e de sentimentos que lhe dá uma
particularidade do mundo.
Estou no Recife a quase vinte anos, e até hoje vivencio estas várias
formas de desprezo. Não tenho vergonha de assumir uma condição
social e de informa o meu local nesta sociedade. Sou um pouco daquela
música do adorável Belchior: “Eu sou apenas um rapaz,
latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e
vindo do interior...”. Também, não tenho vergonha de me colocar
como um trabalhador pobre e que passa por todas as vicissitudes que
as pessoas mais simples passam no seu dia a dia. Na minha vida
encontrei mais pessoas dizendo que não poderia, do que pessoas
dizendo que eu poderia, e a razão dos primeiros nunca me veio como
uma justificativa minimamente racional, senão as mesmas que colocam
as pessoas em posições estanques pelo simples fato de não serem
ninguém importante. Isso é uma forma de desprezo. Mas não quero
falar apenas disso. É preciso ir além e vou além!
Talvez, pela minha história e pela própria ‘natureza’ aprendi a
dar significados aos gestos sutis de desprezo, e daqui incluo em
todas as suas formas – do modo especial àquelas mais sutis que
desprezam nossa inteligencia e das nos ignoram. Entendo,
perfeitamente, o que é lhe com uma aristocracia preconceituosa e
retrograda, que mesmo estudando nas melhores escolas não foi capaz
de abandonar os vícios do passado sob o medo de não ter que dividir
espaços com um matuto do interior – como este aqui se manifesta. É
inegável a superioridade – se falarmos das representações
sociais – no entanto, o que fazem não é apenas um manifesto
desprezo a quem julgam desprezível e/ou mesmo sem importância, mas
assinam no mundo da vida o selo de um modelo de sociedade que nos
puxa pra baixo.
Aos que me desprezam termino completando com a mesma letra de
Belchior:
“Mas não se preocupe meu amigo com os horrores que eu lhe digo,
Isso é somente uma canção, a vida realmente é diferente
Quer dizer, a vida é muito pior...”
A vida realmente é muito pior, eu sou apenas o cantor (escritor)
porque a noite eu tenho um compromisso e não posso faltar por causa
de você (Belchior). E de fato, assim como tenho lutado não faltarei
as minhas convicções e a tudo que aprendi a valorizar. Por que para
mim, o mundo não é aparência, não é o status quo. A
vida é algo mais que o simples desprezo. É a intimidade com o
indivisível é o compromisso com as minhas convicções, com meu
mundo. Portanto, a intencionalidade do desprezo pra mim um
significado, do qual valorizo. Ela nos coloca na real condição de
nossos valores e de nossas diferenças.
Acho que vale a pena escutar Belchior
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