segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Meritocracia é diferente de mérito


Muito se falou na semana passada sobre a nomeação do chefe de gabinete do Governador Paulo Câmera, na maioria das postagens e comentários uma crítica direta a velha forma de fazer política, das tradições oligarcas. O outro viés, pelo qual a crítica foi aplicada, diz respeito a ideia de meritocracia. Críticas que vão dos argumentos mais científicos até a ironia esnobe de quem fala por falar. Confesso que não tive espanto nesse fato político, se vê-lo como repetição de algo já vivenciado na história política de Pernambuco. Não estranhem! O próximo passo são as eleições e a demonstração de uma força política pautadas em velhas tradições. Isso não é profecia, quero deixar claro. A história já tem seus registros e as categorias sociais (falo de um conceito sociológico) já estavam postos muito antes de acontecimentos fatídicos e desagradáveis. Existe uma ausência e memória que precisam serem respeitadas. Então, por que o espanto? A eleição de Paulo Câmera refletiu esta perspectiva e a própria reeleição do Prefeito Geraldo Júlio vão indicar de fato nosso nível de movimentação política. Isso está muito além das reproduções vazias e frases de efeito contra o jovem chefe de gabinete.
Espero que não tomem minhas palavras como um ato de defesa, nem muito menos de ataque. É uma reflexão que faço, não só com base em nossa tradição política, mas essencialmente no que somos. Somos uma sociedade de oligarcas. Em nosso cotidiano reproduzimos esses valores. Na nossa casa, no trabalho, até mesmo na roda de colegas (que alguns chamam de amigos) esses valores se fazem presentes. Quando reclamamos da falta da meritocracia não podemos esquecer que esta é uma prática que deve ser procurada com lentes de aumento – quase inexiste. Não é só na política. A quem de fato atribuímos méritos? Como não somos uma sociedade liberal e, sim pautadas nos valores da oligarquia, nossas relações são sempre reflexo de como nos relacionamos “afetivamente” com os demais, ou seja, o quanto somos amiguinhos uns dos outros para que nada cause incomodo a nenhuma das partes. Se não você não é de uma família com tradições e/ou laços as coisas tendem a ficar muito mais difíceis. Falta meritocracia praticamente em todas as instituições. (Vejo isso como fato corriqueiro)
O que chamamos de relações de confiança é na maioria dos casos uma reprodução dos valores que afastam a ideia de meritocracia, justificado por essas relações e por uma suposta burocracia - que funciona apenas aos inimigos – assistimos como algumas instituições se fadam ao exito da incompetência, apenas para não serem incomodados pelos que prezam por uma sociedade pautada no mérito, portanto, (posso está errado na minha afirmação) meritocracia não é o mesmo que mérito.
Mérito é algo que temos em muitos, por suas qualidades, virtudes e feitos, mas que por questões das mais diversas ordens pode não ser reconhecida. Meritocracia é algo que grupos (quase sempre com alguma forma de poder) atribui ao outro, não precisando, necessariamente, demonstrar méritos – basta que digam e pronto. Penso que somos uma sociedade da meritocracia. Sim! Temos meritocracia, no entanto, nos falta o valor do mérito. Esse, infelizmente, não é um privilégio da política. Está presente em tudo. Talvez seja por isso que nossos únicos heróis sejam os jogadores de futebol. Pelo menos, em algum momento, demonstraram o mérito de alegrar sua torcida com belíssimos gols. Já os meritocráticos … bom! Deixa isso pra lá. Esses temos aos montes, nas empresas, academias, na política. O grande mérito, destes segundos, é agradar os seus pares.

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