Talvez se tivesse a primazia dos grandes sortudos, de conhecer os poucos geniais, quem sabe cumprimentaria um deles desta forma:
“Maldito Charles Bukowski! Como pode escrever tantas barbaridades?
Como ousa ser o anti-herói na terra dos heróis?”
Certamente pior do que isso é ler e perceber o quanto esse velho
Bukowski estava certo, aliás não se trata desses conceitos
pitorescos – certo, errado, muito, pouco, mais e mais ou menos –
isso dá náuseas, e quase sempre acaba em regimes autoritários
governado por pessoas perfeitas. As coisas simplesmente existem, do
contrário muita coisa já teria sido consertada a séculos e não
ficaríamos como cachorro rodando no próprio rabo. Não fui eu quem
disse. De onde vem isso? Simples. O cara do nada pega Dostoiévski,
Flaubert, Celine, Zola, Lawrence. Desenterra todos esses defuntos e,
como se não bastasse ser feio, crescer levando porrada, consegue no
meio de tudo isso arrastar um montão gente. Na contramão daquilo
que é perfeito mostrar aos que andam na rua sem a mínima
preocupação com a terceira guerra ou com o fim de todas as
porcarias que consumimos na TV que o invisível é a melhor condição
da existência (ou pode tornar a sê-lo, desde que viva). É mais ou
menos como você montar um pão recheado de bacon, ovos mal passados,
bastante ketchup e maionese, ingerir tudo que não presta pro seu
corpo todos os dias e lá pelas tantas, de sete ou oito décadas,
está de pé, com os bolsos cheios de remédio, mas as prateleiras
cheias de história. Talvez justificaria assim. Aliás, talvez não!
É a condição sui generis de
Bukowski, do mesmo modo foi a de outros: Jorge Amado, Paulo Coelho,
Nelson Rodrigues, Henry
Miller, Ailton Senna -
quando empurrou o bolha do Allan Prost fora
da pista -, até
do Lula – quando
sindicalista, de Francisco de
Assis, putz! de
tanta gente que simplesmente não comprou a comodidade e por
um ato de qualquer coisa fora do padrão, simplesmente, resolveu
mostrar que é sempre possível outra realidade.
Estenderia a mão ao velho safado do
Bukowski, segurando na outra mão dois ou três livros, lembrando da
cara de repulsa de alguns acadêmicos engomadinhos que fizeram cara
de nojo ao me vê com este maldito autor. Apertaria sua mão com cara
de bobão, com os olhos
brilhando de admiração, contaria uma piada sem graça. Poderia
concluir dizendo:
“Maldito Charles Bukowski, seu
grande asno da economia e do progresso capitalista como é possível
resistir a essa coisa tão bem feitinha que chamamos de sociedade?”
Não faria um selfie, basta sua
assinatura, para registrar sua presença pensando no que ele mesmo
falavas em suas leituras públicas: “Vocês têm minha alma, eu
tenho dinheiro”
Bom! Deixa pra lá! Isso é um monte
de bobagem, bem típico à
maneira de Bukowski.
Nenhum comentário:
Postar um comentário