domingo, 8 de fevereiro de 2015

Algumas notas sobre “O caminho de Wigar Pier”, de George Orwell



Livro: O caminho para Wigan Pier
Autor: George Orwell
Ano: 2010 (Publicação no Brasil)
Editora: Companhia das Letras

O livro tem um caráter jornalistico pela descrição que fez no período que frequentou as minas de carvão  e nas suas comunidades que visitou. Para além dos problemas sociais presentes, Orwell avança para uma análise do modelo da Revolução Industrial. A parte final do livro chama atenção a visão futurista que a tecnologia deveria exercer na vida do trabalhador. Segundo Orwell destaco:
“A função da máquina é economizar trabalho” p.218
“O trabalhador braçal, liberto da tarefa de cavar a terra, pode querer gastar seu tempo de lazer tocando piano, ao passo que o pianista profissional pode ficar feliz de se levantar do piano e ir enfiar a pá no seu canteiro de batatas.”
Ao longo texto Orwell ainda reforça os possíveis benefícios deste avanço constante da tecnologia. O que ele fez foi associação entre as utopias do socialismo e o conforto da tecnologia numa perspectiva de que todos os trabalhadores com a avanço das técnicas se beneficiariam de tempo livre. Em parte vejo que ele está certo. As tecnologias mudaram e nos deram conforto, algo que talvez a cinquenta anos atrás fosse apenas ficção. O que não houve – deixo claro que isto é meu achismo  - foi um melhor aproveitamento do tempo.
Felizmente, a força física é algo que pode ser dispensável de nossas atividades  - em especial à profissionais liberais  - no entanto, nossa carga de trabalho continua a mesma e, até mesmo, maior. Se antes o trabalhador antecipava sua morte por um processo de exaustão física  - em especial os mineiros, camponeses, operários  -, hoje, devido ao caos urbano – com horas que passamos para nos locomover de um canto a outro da cidade, doenças oriundas por um estilo de vida que nos dá apenas o tempo do fast food, nos coloca num ponto de questionamento (pelo menos àqueles que se preocupam com um melhor estilo de vida seu e da comunidade) sobre que alternativas são possíveis ao que temos e vivermos hoje. Certamente, essa é uma questão que não me atrevo  apontar, porque não há apenas uma resposta.
No entanto, chama atenção que o livro “O caminho para Wigan Pier” foi publicado em 1937. Orwell demostrava otimismo a nova sociedade pautada na tecnologia, mas não deixou de relatar as perspectivas de outros escritores e pensadores importantes sobre o mesmo assunto. Ele cita o próprio Huxley de “Admirável Mundo Novo” como o paraíso dos presunçosos (p.223), o próprio Orwell trabalha com a tese de que a própria mecanização, tirando o homem da cena produtiva poderia ao invés de libertá-lo, escravizá-lo ainda mais.  São contradições, é verdade, mas que não desqualificam os rumos deste novo mundo e o que autor, indiretamente, propõe é o não comodismo que alguns recursos podem gerar nas sociedades. Um bom exemplo de Orwell diz respeito ao paladar, ao criticar as comidas industrializadas:
“veja os refugos químicos imundos que as pessoas aceitam despejar goela abaixo, …, Para onde quer que você olhe, verá algum reluzente produto feito à máquina triunfando sobre o produto antigo, que continua com o gosto de alguma coisa que não seja serragem de madeira”
Diria se tratar de uma preocupação do autor com a preservação de coisas essenciais ao homem como o respeito à natureza (em todos os seus aspectos), igualmente, do homem  - independente da perspectiva política e religiosa – ter consciência que a tecnologia são ferramentas e, por isso, devem ser pensadas como parte de um processo maior do qual chamamos sociedade (hoje gosto da palavra civilização – tendo em vista sua ausência!)

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