Às
vezes não se está por inteiro e fazemos tudo pela metade. Há quem
justifique como uma condição natural do homem, por ser alguém
sempre num constante e interminável aprendizado. Concordo, mas não
estou necessariamente falando disso. Somos assim, no entanto, evito
essa comparação porquê isso pode nos remeter ao velho e eterno
problema de nossa visão maniqueísta do certo ou errado, o caminho
dos extremos que nos conduz a lugar nenhum. (Muito embora pela metade
podemos chegar a este caminho).
Bom!
Para não ser tão subjetivo diria que o lugar nenhum é quando não
estamos por inteiro e/ou fazemos e/ou estamos com pensamentos e
projetos pela metade. Minhas mãos cuidam do tempero da comida, mas
minha mente está centrada naquilo que não quero. Por isso, posso
não sentir o cheiro dos temperos, posso ter o excesso ou a falta, e
daí caio nos extremos novamente. Mas isso não é a condição que
me diz se sou ou estou cozinheiro. Posso, igualmente, está no
meu trabalho mas uma parte de mim pode está ocupada demais em
justificar aquilo que faço. Não confundir 'não está por inteiro'
com alguém que é distraído – ou como falamos 'desligado'. Nesse
caso, eu simplesmente não estou, ou seja, não dou conta do que
faço, da importância da minha ação. A questão é não vivenciar,
por isso, muitos não sabem o que é bom ou ruim – porque
simplesmente fazem porque parte de si está absorvida em gestos
mecânicos, a outra naquilo que não se está fazendo. Na prática
estamos ocupados demais em justificar, não escutamos porque pela
metade minha atenção não está, ela poderia está.
Em
tempos tão corridos vivemos pela metade, não dá tempo, temos uma
pressa, pressa, pressa que se repte de forma insistente em nossas
mentes e se reproduz nas falas rápidas dos noticiários e em notas
curtas que leio no jornal, cada vez menor. Temos pressa e se alguma
coisa precisar ser vista que seja tão rápido quanto um post de rede
social, baixando rapidamente o que interessa e o que não interessa,
mas que no final cumpra a meta. Dedos rápidos sobre a tela em meio a
fila lenta de um banco e meu olhar de homem de classe média
esclarecido indignado com o tempo. Que tempo?
Ao
fim, o tempo todo estamos e estaremos pela metade. Se quer nos damos
conta de sentir a dor, a doença, a raiva, o medo da morte, se quer
paramos para entender o tempo de nossas crianças é outro, e por
esse tempo, que está sempre pela metade vamos justificando
falsamente tudo. No melhor das hipóteses, pela metade, justificamos
nossa alegria, que de repente por ser uma forma de viver pela metade,
e por isso, - pela metade -, tenta-se ser o cara legal.
Talvez
a grande questão sobre isso compara-se a alguém de deixa o livro ou
o filme pela metade. Podemos viver mais ou menos assim: sei do que
trata o livro ou o filme, mas desconheço o seu final, e assim, vamos
levando com nossa pressa habitual – fingindo e fugindo do
inevitável – com medo daquilo que não vivemos ( e não
conhecemos) porquê no final das contas a vida inteira foi pela
metade.
Fonte da imagem: http://kdfrases.com/frase/97453
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