Pode parecer bobagem, mas depois que tudo isso vai chegando ao fim me
vem à mente algumas cenas, como o carro que dirigia desesperado na
contra mão, que por muito pouco ele não passa por cima do meu
velocipe. Ao parar em um dos sinais da Caxangá, já próximo do meio
dia, vejo que ninguém respeitava o semáforo. Estava um pouco
apreensivo. Não é todo dia que se vê um carro dirigindo na
contramão pela Caxangá. Em casa, acompanho no rádio e internet
notícias quase em tempo real. Imagens de pessoas saqueando,
políticos e comentaristas dando seu pitaco. Vez por outra paro para
ler “Teoria sistêmica do Direito”, assunto bem propício: “a
lei muda pela própria lei”, no entanto, existe um elemento de
reflexibilidade onde os atores sociais vão conformando suas relações
institucionais de acordo com as demandas políticas sociais do qual
estão inseridas. - Depois disso faço a pergunta mágica: E daí?
Parece que há muito mais coisa em questão. Deixo de lado tudo isso.
Vou ler Flaubert, mas lá que vejo que há um questionamento profundo
de uma instituição, que já naqueles idos parecia não ir bem:
Família! Aliás, não era diretamente sobre a família, mas de
pessoas da família que em prol de interesses próprios viviam suas
vidas instituindo suas próprias regras. Mme. Arnoux, apesar de rica
e aristocrata, não sabia muito bem porque as coisas têm que ser
exatamente como ela não acreditava, já o próprio Arnoux vivia o
que muitos faziam, que num jogo de interesses lançava-se sobre o que
aquilo lhe poderia dar: poder (pelo poder) – parece que nisso há
um certo prazer. O capítulo foi logo me enchendo porquê Frederico
na sua inocência juvenil acreditava em todos os sentimentos bons que
o senso de humanidade, em sua fase infantil, desperta em todas as
criaturas ausentes das questões materiais. Isso não se parece em
nada com as imagens que vejo da tela do meu computador: mulheres,
homens, crianças – acho que famílias – numa cena que lembrava
cenários de guerra e fome. Volto ao livro. Então, Frederico
sonhava. Sonhava com amada (já comprometida por um laço formal e
informal), sonhava em deixar a vida miserável de uma França que
secava o sangue de sua revolução. Frederico desconsiderava,
inclusive tudo a sua volta. Enquanto isso, não deixava de ouvir o
rádio, e vez por outra, acessava internet. A conclusão era obvia:
instalara-se um clima “nunca antes visto na história do Brasil!”
Volto para o texto: Teoria sistêmica... não aguento. Faço algumas
anotações no bloco de atividades. Não sei porque faço isso. Me
levanto irritado. Esta, sim, é a realidade. Volto a pensar na teoria
sistêmica, nas possibilidades de reflexibilidade. Percebo que não
há reflexibilidade, porque isso representa a possibilidade de
mudança, significa que estou falando de uma característica de uma
sociedade moderna, do qual sua formulação é para uma sociedade
pós-moderna – logo chego a conclusão que esse tal de Luhmann
escreve de um lugar tão diferente do nosso que se ouvisse ou pelo
menos lesse alguma coisa parecida, ao que acompanho, certamente se
perguntaria sobre a autopoiesis, desligaria tudo e faria como
Frederico – ficaria no mundo das ilusões.
Ao final de tudo é mais ou menos sobre isso que pretendo ficar: o
mundo das ilusões (as perdidas, de preferência!). Obviamente,
diferente de Frederico. No mundo das ilusões, de preferência
afastando-me o máximo possível de qualquer explicação
intelectoide da sociedade. Um pouco preocupado - é verdade! - a
cerveja vai subir e o meu tempo é curto para escrever, mas quem não
tem suas limitações. Ao final de tudo isso, penso que é chegada
hora de voltar a ficção da realidade social e, como na matrix, ao
invés de acordar, fugir ao máximo do deserto real da existência.
Amanhã é sexta-feira, depois é sábado, em seguida é domingo e,
assim se sucedem os dias … Não é preciso muita teoria, apenas uma
boa dose de alienação, as demais coisas é mais ou menos como
Nicolau falava: “... ou com as próprias, graças à fortuna ou à
virtú”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário