sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Algumas preocupações com o oficio da escrita

Ontem em meio a minha angustia criadora, de escritor novato, que se vê na obrigação de escrever a obra do século sai, pra pagar contas, resolver algumas questões burocráticas, sim, por que não? Numa casa tem muito disso. Mas não queria apenas isso. Andar um pouco pela cidade, gosto de fazer isso. Ver pessoas andando de um lado pra o outro, tudo muito sem sentido, pra quem vê de fora, vendedores em calçadas gritando desesperadamente por se livrarem dos seus produtos. Como sempre costumo parar, em uma das primeiras pastelarias de chines, balcão alto cercado por bancos de um metro de altura, no outro canto da parede mesas de madeira coberta por forros de tecido florido, mantendo a tradição vende-se apenas pastéis, de vários tipos mas, apenas pastéis. Nada de coxinha ou qualquer outro alimento do gênero. Sentar naqueles bancos altos me faz pensar o quanto o centro da cidade já foi um lugar melhor, com menos lixo, sem moradores de rua, sem paredes pichadas ou 'adaptadas' a banheiro público aberto, deixando a cidade ainda mais com aspecto de desprezo. Estava cansado, não porque escrevi muito, pelo contrário, o problema é que não conseguia sair da primeira página. Na ânsia de encontrar um sentido, coerência que justifique meu primeiro romance, algo que me coloque na posição dos escritores, dos verdadeiros escritores, foi pensando nisso que engoli um pastel de queixo. Paguei a conta e fui até uma grande livraria da cidade, do outro lado da cidade. Atravessei a ponte. Como grande atração turística o lixo boiando com ajuda da maré alta, o cheiro de peixe podre, renovado com a presença de bravos e resistentes pescadores que ainda insistem ganhar a vida a margem do rio/esgoto da cidade. Ah! como é bom o conforto da classe média alta. Nada de preocupações com moradia, apenas livros, boa música, pessoas bonitas passeando, folheando seus autores preferidos. Um mundo a parte. Não estava a fim de pesquisa literatura, romances ou contos, fui para estante de crítica literária, entre tantos encontrei algo que em certa medida respondia às minhas angústias: O Zen e a Arte da Escrita, de Ray Bradbury – escritor norte-americano. Em linhas gerais o que é posto pra os escritores é que antes de se procurarem com a técnica é preciso que o escritor se conheça, que saiba que a principal fonte de sua escrita é sua própria vida, suas experiência e toda percepção que ele tem do mundo, é preciso espontaneidade e, sobre tudo, paixão. É necessário que um eu, subconsciente, se faça presente na escrita. Estas primeiras informações que tive do livro abriam minha mente, me deixou mais tranquilo. Na tentativa de escrever meu primeiro romance me preocupava em demasia se as marcações estavam certas ou que tipo de narrativa é preciso usar. A partir de agora vou fazer o seguinte: apenas escrever sem me preocupar com os resultados ou aonde isto vai me levar. Estou buscando um sentido pra minha escrita, ou pelo menos àquilo que pretendo desenvolver ao longo da vida, estava esquecendo algo importante que é o sentimento. É preciso a técnicas, sim, porque vai organizar o que pode surgir desorganizado mas, as questões que nos toca, aquilo que nos incomoda ou como diria Raimundo Carrero “aquilo que não confessamos pra nós mesmo”. O escritor deve estar preparado pra isso e, encarar seu oficio com amor e, sobretudo, coragem naquilo que pretende escrever.

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