quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Carta de Marcos a sua prima Sthefany

Querida Sthefany, Conheço um monte de idiotas, vagabundos e prostitutas (algumas casadas) que fazem o discurso da família. Como funciona o discurso da família? Aprendi isso na cidade de Picuiá (nossa querida e maldita terrinha, como dizem alguns patifes hipócritas), é importante deixar isso claro. Funciona da seguinte maneira. Para os de fora, digo, àqueles que não pertencem à família, diz-se que “nada mais importante que a família”, a partir daí você começa exaltando os maiores patifes existentes nela; começa pelos mais velhos, o pai do pai, por exemplo. Esses mais velhos têm (ou tinham – sei lá) a prática de serem os senhores supremos do lar. Davam a todos da sociedade distinta de Picuiá o exemplo. Iam (ou vão) pros cabarés, enchem a cara, arrumam uma puta, fazem um bastardo nelas e depois mandam ela se fuder. Simples a arte da conquista. Como esses senhores distintos gastam todo o dinheiro com o jogo e suas putas cabem aos filhos, a partir dos quatro anos de idade, saírem de casa pra ganhar um dinheirinho. A mãe pode dar uma força, fazendo cocadas, doces em geral, colocando num tabuleiro pro moleque sair pelas ruas vendendo, já as meninas – desde cedo – vão sendo educadas para servirem aos seus futuros esposos. Uma mulher direita em Picuiá, não pode sair pra trabalhar nem estudar, nem sair da cidade se não for acompanhada de seu marido, por isso, ficam em casa no cuidado dos afazeres domésticos, principalmente, quando a dona da casa está com a cara quebrada, em consequência de uma simples pergunta: “Onde você esteve ontem? Tava com aquelas vadias não era?” Pronto, isso é o suficiente e, o machão, que defende sua honra diz: “Sou o homi dessa casa, você mi respeite”. Aos domingos vão todos à missa, com exceção da mulher, que se estiver com a cara arrebentada tem que ficar em casa. E assim vivem, dez, vinte, trinta quarenta, até a tão sonhada bodas de outro, quando já velhinhos e os filhos todos criados com a bênção de Deus fazem àquela festa para reviver todos os momentos bons da família. Tudo de ruim, nessa hora ficou pra traz, afinal como cristão católicos devem viver o amor, perdoas as ofensas e sempre que necessário oferecer a face, não, não importa a surra que tirou sangue da cabeça, ou daquelas porradas que deu origem ao câncer no seio. Tudo ficou pra trás, são todos felizes. Mas como vinha tentando argumentar no início, conheço um monte de idiotas que defendem todas essas práticas mas, que guardam dentro de si todos os monstros criados ao longo dessas gerações, quanto ódio não vem, fruto da violência, dos estupros dos quais foram nascidos, sim, faço de estupro, porque não me convence a ideia que a mulher tenha sete ou oito filhos, quando o grande patriarca dividia toda a sua virilidade com vagabundas e aventureiras, basta pensarmos que tudo era tido como uma vontade de Deus. Conheço um monte desses patifes, que alimentam em seu subconsciente essas patifarias e imundices em nome da felicidade. Muitos e muitas se casam e reproduzem, agora numa reversão nem age, todos esses comportamentos, numa falta de escrúpulos entre seus semelhantes que é impressionante. Quem resolver romper com isso, sofre muito mais. Mas não importa, a recompensa é sempre muito boa. Mesmo que ninguém consiga vê, porque isso não dá visibilidade, existe um sentimento de liberdade inigualável. É visível o olhar de ódio dos demais: “como alguém pode fazer isso com uma típica família de Picuiá? Abandonar a tradição? Absurdo!” Se toda essa escória é tradicional e zela por esses valores que denominam como virtudes da família cristã, prefiro ficar com as incertezas, com a indiferença do mundo moderno e, sobretudo pronto a pensar, como disse certa vez Terêncio, “Eu sou homem e nada que é humano me é estranho” Um abraço do seu primo, Marcos ...

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