sábado, 7 de janeiro de 2012

Pensando em Dona Fátima

Ao chegar da cidade, bêbado e desesperado, não cuidou de ir quarto. Deitou no sofá. Acordou quatro horas da manhã, mesmo com as janelas fechadas era possível ouvir o barulho da chuva. Levantou, foi até a janela pra certifica-se. As ruas tomadas pelas águas, o lixo que navegava como um animal em seu ambiente. Desde que se desfizera do carro não tinha mais preocupações som essas inundações, muito menos com a bomba da garagem. Ascendeu a luz. Tudo em ordem em cima da mesa um bilhete: “Estou indo à fortaleza. A direção da empresa determinou que acompanhasse duas auditórias. Volto, se tudo der certo, em oito dias. Da sua Luciana” Dobrou o bilhete e colocou-o dentro do vaso, dentro da cristaleira, junto com os outros bilhetes. Mesmo contra vontade de Luciana e das senhoras que fazem a organização da casa nunca deixou que tirassem o vaso, recordação de família, no qual costumava despejar todas as palavras e pensamentos que lhe fossem desagradáveis. Durante grande parte da tarde e da noite não se alimentou e as cervejas consumidas na casa de encontros deixou-o com fortes dores de cabeça e náuseas. Correu até o banheiro, levantou a tampa do vaso, baixou a cabeça duas vezes, sentia o coração bater descompassado, “que merda, que merda” gritava rompendo o silêncio no apartamento. Não conseguindo livrar-se do enjoo lavou o rosto e foi até a cozinha. Pegou a garrafa mais gelada e, de um só gole, bebeu quase todo, sentia o peso de algo frio, antes que pudesse devolver o vasinha à geladeira a cabeça começou a rodar, era como se voltasse ao estado de embriagues, sem poder ter controle de si, todo o liquido sobe pelo esófago e rompe sua garganta num jato d'água fria, misturado a álcool e acidez, inundando parte da cozinha, pondo-lhe de joelhos sem ninguém pra socorrer ou mesmo pra testemunha-lo numa situação de fraqueza. Algum tempo de joelhos, as dores de cabeça passou, agora mais leve lembrava de seu último porre, há muito tempo e, não tinha nem perto do que tinha bebido no dia anterior, Luciana, pedindo como uma menina mimada, para não beber mais com ameaças do fim do nosso relacionamento. Levantou. Antes que o cheiro de bebida, espalhado pela cozinha, provocasse náuseas cuidou de limpar todo o ambiente, depois preparou um café forte. Mais calmo, voltou pro sofá. Reclinou a cabeça, já podia ver as primeiras luzes do dia, recordava do dia que chegou por volta dessa hora, a imagem de Dona Fátima abraçada com um jovem, mais ou menos da idade do filho mais velho, ainda o surpreendia, não pelo escando-lo e pelas proporções que seu ato poderia causar dentro da família mas, por suas pernas grossas sem manchas do sol, a marca dos dedos de quem a segurava com força e volúpia. Desde o primeiro dia em que esteve com ela, Marcos o admirava pela força da interpretação e de como a mesma mulher poderia ser três num mesmo ambiente: pro marido e filhos, mulher dedicada que cuida do bem estar da família, semelhante a mulheres em comercial de margarina; na ausência – quando cada membro da família cuidavam de suas vidas – dava vazão à volúpia com seu amante desconhecido e, por fim, àquela que me acolhera em sua casa, que gentilmente ofereceu café com bolo, sem medos e preconceitos. Aos poucos Marcos adormecia em seus pensamentos, acreditava poder imitar a vizinha, imaginou-a de uma outra maneira: nua de cabelos soutos, sentada na cadeira de balanço, aguardando que sua principal visita chegue e, como Marcos não gosta de atrasar, encontrara-se pontualmente no quarto de visitas, sentado sob lençóis coloridos, travesseiro macio pra reclinar a cabeça. TRIMMM, TRIMMM, TRIMMM. Não é possível ver mais nada. Acordou convulsionado em alusões, no entanto, seu corpo tinha recuperado-se do dia anterior, pronto pra novos negócios.

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