domingo, 31 de julho de 2011

Veja! O quanto somos grandes.

Recentemente li um artigo sobre a ascensão da classe C, ou pra ficar mais claro, o surgimento de uma nova classe média ou o que alguns preferem falar: sobre o aumento da classe média. Independente do seja nos foquemos na ênfase, naquilo que é mais empolgante: o aumento do poder econômico associado à mais empregos formais gerados em igual período. É inegável essas melhoras em todo o país, em especial Pernambuco – o Estado que cresce igual a China, por exemplo – e, não faltam justificativas pra isso, a reestruturação do Porto de Suape em Ipojuca com o aparecimento de grandes empresas instalando-se no local, trouxe, de fato, um novo impulso à economia deste Estado. Algo bastante lógico, mais pessoas trabalhando, maior circulação de dinheiro no comércio (e todos os demais setores de serviço).
Do ponto de vista da “macro realidade” (incluo aqui o cenário político-econômico internacional) não fomos atingidos por nenhuma crise econômica, muito pelo contrário, enquanto grandes países entram em recessão e grandes empresas Americanas e Europeias pedem pinico, o governo brasileiro mantém sob controle as taxas de juros e investe de modo racional em áreas estratégicas da economia. Paralelo a estas ações, nem sempre elogiadas por nossa grande elite intelectual, foi possível pagar grande parte da dívida externa, a ponto de sairmos da situação de devedor para credor. O Brasil ao longo desses oito anos tem emprestado e feito investimentos em alguns países da América Latina (Venezuela, Bolívia, Paraguai) e contribuído para que empresas invistam nesses países. Uma nova postura dentro do cenário internacional que melhora nossa credibilidade ao mesmo tempo em que nos dar mais confiança para continuarmos sonhando com projetos mais ousados.
A partir dessas colocações volto para o ponto inicial: mais empregos, mais demandas por trabalhadores, mais dinheiro circulando. Pra muitos economistas, sociólogos e críticos isso basta para termos a condição de país desenvolvido (ou aquele que oferece boa qualidade de vida ao seu povo). Não tenho autoridade para dizer o contrário. Essa bom econômico é fundamental mas, vejo que desconsideram questões fundamentais para um país que pretende ser grande. Estamos crescendo. Ótimo! Em Recife vemos isso muito claramente, basta sairmos às ruas. Cada vez mais carros, somos o Estado do Nordeste que vende mais motos. É impressionante vermos que a cada dia cresce o número de família que adquiri seu primeiro veículo. As novas brigas de condomínios de classe média são disputas de garagem, falta garagem. Há um problema sério para se resolver. Nas ruas circulamos pra vez mais devagar, os coletivos que tem a obrigação de melhorar o serviço ficam cada dia piores. Não há aumento da frota e a renovação anda no ritmo do trânsito.
O aumento do trânsito trouxe um novo padrão de comportamento: agressividade, atropelamentos (ou pelo menos aquela vontade atroz de passar por cima de pedestres pobre e petulantes), acidentes fatais, muitos associados ao uso de álcool e drogas ilícitas. Já que falei de álcool, a quantidade de bares e restaurantes abertos em todos os bairros da cidade foram significativos. Todos oferecendo qualidade e elegância, com garçons preparados para atender as exigências da nova e antiga classe média. Tudo bem arrumadinho:
“boa noite senhor! Tem uma preferência por lugar?”
Normalmente que faz as boas vistas é uma mulher jovem, que segura o cardápio como colegial voltando da escola. Ropinha preta (na maioria das vezes) toda apertadinha. Você senta pede alguma coisa pra beber, escolher o menu e espera. Enquanto isso, ou assiste televisão (quase sempre novelas mas, pode ser algum DVD musical) ou fica vendo os garçons, vestidos elegantemente, correndo de um lado pra outro – tudo pra garantir que os clientes não saiam insatisfeitos. São comportamentos que não era tão comum à nossa realidade mas, que graças ao bom momento é possível vivenciarmos. Espero, sinceramente, que continue. Tudo é tão chique e tão chato. Você pode ficar bêbado mas, tem que ser elegante. Escuta uma música idiota qualquer ou vê novela. Dá pra vê como os rapazes galanteadores saem com suas belas e sensuais donzelas. Fazem seus rituais de acasalamento sob a beleza destes nobres restaurantes, na minha medíocre opinião: a cara desse tão elogiado crescimento econômico, a cara da classe média (de todas elas).
Mas falemos de outra coisa.
E o crescimento social? E aquela melhora que vai além do dinheiro, que está no ethos? Em traços fortes de nossa formação cultural. As pessoas consomem e ao fazerem isso saem de uma classe social para outra mas, do ponto de vista de sua formação ou daquilo de definimos como caráter estão mudando? Esta é uma questão muito pessoal. Sou da opinião que em parte. Deveríamos ver essas mudanças de forma mais rápida e aqui vem o questão central: o aumento do poder aquisitivo associado a acessão de pessoas de uma classe a outra trouxe melhorias no acesso a bens culturais? (e todos os seus serviços) Que tipo de música este país e este Estado magnífico está fazendo? Esta nova classe média, junto com a classe mais tradicional, está lendo mais livros? (não incluo aqui livros didáticos, por serem obrigatórios não faz sentido dizer que lemos mais).
Quando segmentamos o consumo vemos que nem tudo mudou. Mas vamos, também, segmentar comportamentos e estilos de vida? Somos o Estado que mais cresce no Brasil, crescemos igual, no entanto, somos incapazes de cedemos lugar para uma gravida num assento coletivo. Falo dos jovens, futuro desse nosso amado Brasil e deste Estado onde tudo é grandioso. Crescemos assistimos a imbecilidade coletiva de motoristas apressados e estressados que estacionam seus nobres veículos em cima de calçadas, desrespeitando os pedestres. Crescemos nossas cifras (financeiras) com escolas que foram analfabetos funcionais, numa didática muito bacana, para o Estado – claro! Os números podem tudo.
E a sujeira que produzimos de forma desnecessária nos ambientes públicos. Só o crescimento é econômico não foi capaz de impedir que aquela jovem tão bonita e cheirosa, sentada, ou mesmo esperando seu ônibus, jogasse no chão àquela latinha de coca-cola; aumentando ainda mais a sujeira DESCESSÁRIA de nossa cidade. Quantas vez presenciei jovens, velhos, crianças, mulheres se livrarem dos seus restos jogando no espaço público, com o se aquilo não fosse dele. E ai de quem reclamar! Que educação! Somos tão desenvolvidos e educados que precisamos de palhacinhos para nos ensinar atravessar a rua. Se não houve um incentivo ou mesmo punição formal torna-se algo natural não respeitar as boas regras de convivência. Mata-se no trânsito por irresponsabilidade dos condutores mas, sabemos que não dá em nada. Paga a fiança, contrata algum advogado conhecedor dos trâmites da lei e pronto! Pronto pra matar quantos aparecerem na sua frente.
Esse crescimento econômico, tão elogiado pelos meios de comunicação e por nossa grande massa crítica, não leva em consideração esses aspectos que falei linhas acima. Tem algo por trás desse grande consumismo. Durante muitos anos, nós os pobres, ficamos privados de muitos bens e serviços, tínhamos apenas o ‘cumer’ e muito mal. Observando o perfil de consumo percebe-se que grande parte está voltada a bens como televisão, geladeiras e bens de utilidade em geral. Alguns serviços tem tido o seu bom econômico, citamos a educação, uma carência de 500 anos, que agora temos urgentemente minimizar seus problemas.
Então é isso! O momento é bom, espero que continue assim por, pelo menos, 200 anos mas, vejo o quanto é fictícias algumas previsões e projetos feitos a partir dos números econômicos. Faltam investimentos em áreas importantes: educação, saúde, infraestrutura. Falta uma mudança de mentalidade do Brasileiro mais voltado a construção do bem público. Devemos criar fábricas de gentileza e empresas dispostas a ofertarem mais projetos humanísticos. O consumo pelo consumo é algo vazio e que tem seu tempo.

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