domingo, 7 de dezembro de 2014

Imaginação para além da sociológica

Esses últimos dias tenho me debruçado sobre a leitura “A imaginação sociológica” de Wriht Mills. Considero um dos melhores no campo das ciências sociais. O que chama atenção nesta obra é a própria noção de imaginação. Imaginar que pode ser usado em seus vários sentidos, mas que me apego a dois: idealizar e criar. Diga-se de passagem coisa rara. Pode ser que esteja enganado mas temos hoje uma dificuldade enorme de criar, porque temos tudo ao nosso alcance. Já não nos darmos o trabalho da pesquisa ou de pensar como resolver um problema. Basta que eu abra meu navegador e busque na grande rede – nosso grande cérebro – a resolução do problema. Idealizar, eita! Essa virou coisa de comunista démodé. No campo das ciências sociais e políticas, principalmente. Busca-se solução buscando o velho e/ou o que está posto. Idealizar sempre foi algo muito perigoso porque sempre mexe com interesses de pessoas que não estão interessadas em mudar. São, na maioria das vezes, pequenos grupos que pensam (idealizam) para as grandes massas. Talvez um bom exemplo sejam os meios de comunicação, pensado por poucos, determinando muitos.
Chama, também, atenção que Imaginação Sociológica - conforme o autor enuncia no livro – pode ser usado pra qualquer área. Ideia ampla e um convite a criação, sem tantos metodismo que pouco tem sido útil às humanidades (incluo aqui a literatura). Claro que no meu caso, na tentativa de alguma coisa próxima às palavras (embora não a domine) esta é uma perspectiva interessante, fazendo uso de um olhar a luz de referências mas moldando isso a sua maneira, trabalhando a partir do que você acredita, enfim, uma idealização. Mas isto é apenas uma pequena parte de uma perspectiva que se abre ante essa postura. Ter a capacidade de olhar pra além das aparências, buscar os sentidos, refletir sobre eles, e quanto não o fizeram com magistral sabedoria? Vitor Hugo, Gustav Flaubert, Nietzsche, Marx, Jorge Amado, Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro e tantos outros que se fosse citar passaria noites. Acredito que eles sejam boas referência sobre àqueles que pensam num produtivismo estéril, de publicar artigos para pontuarem em sistema que se pretendem medir a produtividade de escritores e intelectuais. A predominância do positivismo descolado da realidade, ou melhor, temperado com a tão sonhada objetividade e distanciamento – sonho utópico de Durkheim e, pensar que Marx era o idealista! Bom, mas perdoem os defensores ao comparar os dois autores qual reflete melhor nossa realidade? Aqui não faço julgamento de valor político ideológico, mas o peso conceitual e descrição da realidade está muito mais em Marx do que em Durkheim. Entendam que não desprezo Durkheim, porque graças a ele conseguimos consolidar um campo de saber.
Concluindo, a perspectiva da imaginação que agora troco por outro conceito do autor “artesanato intelectual” está no cuidado e no sentido político que atribuo ao que faço e aqui volto ao inicio: 'idealizar' De que forma posso descrever a realidade e/ou as simbologias do meu mundo idealizando algo. Fico pensando se não seria este o papel do cientista social, que está muito além de clichês políticos. Talvez seja por isso que me atrai a leitura de Gilberto Freyre, sem a preocupação preconceituosa de ser sociólogo ou não, ou ainda, de Gustav Flaubert – para mim Educação Sentimental é um tratado de ciência política e, por quê não escrever um romance inspirado no “Príncipe” de Maquiavel? Não sei se é bom ou ruim, mas tudo isso tem me levado, cada vez mais, a distanciar-me desses clichês metodológicos, para trabalhar como artesão usando ao máximo às mãos. Quero ver no que isto vai dar!

Nenhum comentário: