Esses últimos dias tenho me debruçado sobre a leitura “A
imaginação sociológica” de Wriht Mills. Considero um dos
melhores no campo das ciências sociais. O que chama atenção nesta
obra é a própria noção de imaginação. Imaginar que pode ser
usado em seus vários sentidos, mas que me apego a dois: idealizar e
criar. Diga-se de passagem coisa rara. Pode ser que esteja enganado
mas temos hoje uma dificuldade enorme de criar, porque temos tudo ao
nosso alcance. Já não nos darmos o trabalho da pesquisa ou de
pensar como resolver um problema. Basta que eu abra meu navegador e
busque na grande rede – nosso grande cérebro – a resolução do
problema. Idealizar, eita! Essa virou coisa de comunista démodé. No
campo das ciências sociais e políticas, principalmente. Busca-se
solução buscando o velho e/ou o que está posto. Idealizar sempre
foi algo muito perigoso porque sempre mexe com interesses de pessoas
que não estão interessadas em mudar. São, na maioria das vezes,
pequenos grupos que pensam (idealizam) para as grandes massas. Talvez
um bom exemplo sejam os meios de comunicação, pensado por poucos,
determinando muitos.
Chama, também, atenção que Imaginação Sociológica - conforme o
autor enuncia no livro – pode ser usado pra qualquer área. Ideia
ampla e um convite a criação, sem tantos metodismo que pouco tem
sido útil às humanidades (incluo aqui a literatura). Claro que no
meu caso, na tentativa de alguma coisa próxima às palavras (embora
não a domine) esta é uma perspectiva interessante, fazendo uso de
um olhar a luz de referências mas moldando isso a sua maneira,
trabalhando a partir do que você acredita, enfim, uma idealização.
Mas isto é apenas uma pequena parte de uma perspectiva que se abre
ante essa postura. Ter a capacidade de olhar pra além das
aparências, buscar os sentidos, refletir sobre eles, e quanto não o
fizeram com magistral sabedoria? Vitor Hugo, Gustav Flaubert,
Nietzsche, Marx, Jorge Amado, Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro e tantos
outros que se fosse citar passaria noites. Acredito que eles sejam
boas referência sobre àqueles que pensam num produtivismo estéril,
de publicar artigos para pontuarem em sistema que se pretendem medir
a produtividade de escritores e intelectuais. A predominância do
positivismo descolado da realidade, ou melhor, temperado com a tão
sonhada objetividade e distanciamento – sonho utópico de Durkheim
e, pensar que Marx era o idealista! Bom, mas perdoem os defensores ao
comparar os dois autores qual reflete melhor nossa realidade? Aqui
não faço julgamento de valor político ideológico, mas o peso
conceitual e descrição da realidade está muito mais em Marx do que
em Durkheim. Entendam que não desprezo Durkheim, porque graças a
ele conseguimos consolidar um campo de saber.
Concluindo, a perspectiva da imaginação que agora troco por outro
conceito do autor “artesanato intelectual” está no cuidado e no
sentido político que atribuo ao que faço e aqui volto ao inicio:
'idealizar' De que forma posso descrever a realidade e/ou as
simbologias do meu mundo idealizando algo. Fico pensando se não
seria este o papel do cientista social, que está muito além de
clichês políticos. Talvez seja por isso que me atrai a leitura de
Gilberto Freyre, sem a preocupação preconceituosa de ser sociólogo
ou não, ou ainda, de Gustav Flaubert – para mim Educação
Sentimental é um tratado de ciência política e, por quê não
escrever um romance inspirado no “Príncipe” de Maquiavel? Não
sei se é bom ou ruim, mas tudo isso tem me levado, cada vez mais, a
distanciar-me desses clichês metodológicos, para trabalhar como
artesão usando ao máximo às mãos. Quero ver no que isto vai dar!
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