Durante algum tempo estou amadurecendo a ideia de construir
personagens a partir de algumas músicas. Particularmente me
identifico muito com a música de Eric Clapton, suas letras em muitos
casos são temáticas. Essa ideia não é minha, obviamente, mas
lendo e pesquisando as perspectivas sobre a criação literária vi
que as influências podem transcender a própria essência da
literatura tradicional em si.
“Amor Ruim” e “Layla”, por exemplo, me remetem de imediato a
uma sequencia entre cena, cenários e personagens impressionantes.
Escrever na intensidade como essas canções são interpretadas é o
desafio e ai a influência do blues, algo já feito inclusive por
Jack Keouac ao escrever On The Road, ao som de Jazz – daí uma
narração sem a preocupação demarcações 'padronizadas' no ritmo
do improviso posso ser mais lento, mais intenso ou ir progredindo.
Muito antes, Flaubert fez isso em Educação Sentimental ao tentar
descrever o movimento da cidade e o movimento pós-revolução –
tudo isso misturado ao sentimento de euforia de uma população. Em
Madame Bovary, na parte final do livro a impressão que tenho é que
Flaubert transcreveu a cena do lado do caixão da personagem. Ele
está íntimo da personagem e está ali do lado, despedindo-se.
Cria-se a sensação.
Por fim, Umberto Eco em “Seis Passeios pelos Bosques da Ficção”
mostra indiretamente, que esta percepção dos sentidos pode, sim,
ser construída pela própria imagem da ficção, das formas como se
manifestam. Apesar de ser ficção penso numa maneira como essas
formas se manifestam, se não for ficção vai ganhar outros sentidos
e deixar claro que se trata de outra coisa. Obviamente, não poderia
deixar de cita os mestres Ernest Hemingway que de uma arquibancada
assistindo uma tourada ou recuperando-se de ferimentos de bala no
período de guerra transcreveu isso em dois belíssimos romances.
Voltando às duas músicas: cenas, cenários e personagens. Por que
não tinha pesado nisso antes? Bom! Deixa voltar ao que interessa. A
construção do conhecimento científico e a salvação do planeta
...
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