Tenho plena consciência que estas palavras não deveriam ser
pronunciadas, mas como negar se meu corpo hoje é expressão do que
sinto?
Estou cansado. O corpo fatigado e a mente a mil. Com tantas
possibilidades a se fazer e a viver algo, ao mesmo tempo que se abre
mão de tanta coisa importante, que infelizmente, não se terá mais
possibilidade de vivenciá-la por uma segunda vez. Mas isto é apenas
um lado. Hoje, por trinta minutos, com uma vista da janela do meu
apartamento, observava um grupo de trabalhadores da construção
civil levantando paredes. Os ajudantes cuidando de fornecer material,
outro fazendo metições, verificando nível e, alguns levantavam
paredes. O local, uma comunidade pobre que via crescer mais uma
construção em meio uma organização bem peculiar. O radio de pilha
animava a peãozada. O que se ouvia não era diferente que escuto no
final de semana. Independente das bobagens que vinham a conversa e da
música de péssima qualidade estavam concentrados. Sabiam o que
faziam e, pareciam está cientes do ponto que em parariam.
A hora avançava e, aproximava-se o momento de ir ao trabalho. O meu,
tem algo de bem peculiar. Ensinar as pessoas serem criticas, a
pensarem a sociedade pautada numa racionalidade cientifica e
instrumental, onde o conhecimento significa acúmulo de capital. E,
hoje, diante de tanto comportamento esnobe, da dificuldade para falar
quando ninguém queria ouvir, porque tudo que tinha a falar não
tinha a menor importância, talvez porque não vai cair em nenhuma
prova e, nem vai lhe servir para embrulhar alguma..., simplesmente,
continuaram no riso e na descrença e, principalmente, num olhar para
um profissional – que na ótica dos sábios que estavam do outro
lado, não tem nada a contribuir para que ao final de suas longas e
penosas prestações possam imprimir a versão final daquilo que
procuram. Que posso dizer com com convicção, que em 70% dos casos
não é conhecimento.
Então, é justamente nesse cansaço é que me pergunto se não
valeria a pena um oficio mais modesto, onde poderia, até voltar pra
casa, mas com a certeza que as duas ou três fileiras de tijolos
assentados sobre a parede está dentro das determinações de um
ideal, que na prática - seja a vida pessoal como profissional –
dará um mínimo de respeito a todos que ali se envolviam.
Assentando tijolos não perderia meu tempo tentando ensinar cidadania
e conhecimentos de uma sociedade racional e moderna para quem não
quer aprender. Não teria a impressão do tempo perdido, poderiam
quem sabe, sentar-me em frente da TV assistir algum programa de
auditório – quem sabe pegar no sono e dormir ali e por algumas
horas e, enfim, dormir. Acordar. Voltar pro trabalho. Bater a meta e,
voltar pra casa, no dia seguinte voltar ao trabalho e, assim até o
dia em que a natureza permitisse. Nada de pensar muito, nem de
ensinar cidadania para quem não quer cidadania.
Da primeira vez que me afastei foi a partir de uma situação bem
curiosa. Saía de uma reunião a chefe e coordenadora (assim como
muitos românticos e hipócritas - às vezes os dois ao mesmo tempo)
falavam de nossa missão de salva o planeta e, de falar coisa para
quem não queria ouvir o que temos pra falar. Foi um dia muito tenso
àquele, porque fui direto ao ponto: “só podemos fazer algo”
Momento difícil àquele. Lembro que tinha que passar o dia com R$
2,00 o que significava comer um cachorro quente e uma pipoca. O que
ganhava mal cobria as despesas com o teto. Tanto esforço para ser
apenas um palhaço, ridicularizado, na prática é isso que acontece
….
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