quarta-feira, 1 de maio de 2013

Sanderson, ensandecido



quarta-feira, 01 de maio de 2013. – Dia do trabalhador.

“Interessante. Você passar no corredor. Um metro e oitenta. Poucos transitando naquele momento, talvez cinco pessoas. Você percebe que foi visto, no entanto, num gesto de desprezo lhe viram o rosto, negando-se ao cumprimento de boa noite. Outro fez algo parecido. Gostaria de entender o motivo desta raiva. Dá pra perceber que estão com raiva. Às vezes acho isso muito assustador. Não é que possa acontecer algo que me imponha medo, mas vejo que se trata de um estágio primitivo de civilização, vindo de pessoas que poderiam (que tem todos os recursos) darem o melhor de si e fazerem o mundo a sua volta mais agradável. Tudo bem! Vamos dá uma trégua. Isso é papel de todos, mas fica bem mais difícil quando os poderosos resolvem adotar o ódio e o medo como política. Algo tão presente atualmente. Não temos guerras, não temos disputas ideológicas partidárias, grandes conflitos internacionais e nacionais, felizmente, já não existem, no entanto, ainda vivemos com medo. O homem tem sempre essa necessidade de criar o medo no outro e, para isso basta que lhe deem um pouco de poder e, se não bastasse existem àqueles que se espelham nisso e os veem como modelos. O prazer sádico, pra não dizer sórdido de virar o rosto, cuspir no chão e desejar que seu semelhante pague por algo pelo simples fato de existir. E quantas pessoas fazem isso. Acontece no trânsito como motoristas assassinos jogam seus possantes veículos em cima dos menores e, sabe friamente, que tudo não irá passar de um acidente, os chefes tem consciência que a vida e os sonhos que se destroem em função de uma vingança ou por um ego fraco e ferido pode destruir tem consequências trágicas sobre inocentes”.
Sanderson parecia inquieto quando proferiu essa conversa com Andreia. Seus olhos ficaram cheios de lágrimas, não conseguia entender muito bem o que ele falava, mas sabia que isto o atormentava, ou pelo menos teve esta impressão, até que Sanderson lhe esclarece:
“Não pense que estou aflito, preocupado ou qualquer coisa. Queria apenas entender isso que considero doentio. Quem sou? Sanderson, pobre Sanderson. Um empregado numa loja de sapatos como qualquer outro, que vive de comissões que fica em pé 12 horas por dia, que já foi empresário e que vivi na casa do sogro, por este ser muito generoso”, neste momento, Sanderson beijou Andreia, depois seguiu até a cozinha. Mexeu na garrafa de café. Serviu-se na sua xícara. Andreia detestava essa xícara. Um dos poucos objetos que trouxera de sua antiga residência.  Ela acreditava se tratar de algum presente de antiga companheira. Sanderson num gesto jocoso sentava-se sempre ao seu lado com sua caneca desbotada, segurando alguns biscoitos de maisena – não é dos seus favoritos – e, a cada gole olhava Andreia que, também, ria da situação.
Claro, que Sanderson, pretendia firmar-se no seu emprego. Doze horas em pé. Sempre que o cansaço batia pedia uma pausa ia até o banheiro: passava uma água no rosto ia, rapidamente, na copa, bebia algum isotônico. Às vezes chegava a gastar todo o lucro do dia para manter-se em pé, o que deixava claro que o importante naquela situação e na sua idade, não é o dinheiro mas, a capacidade de superação, de sentir-se útil. Tinha necessidade de mostrar a jovem esposa. Todo problema é que nesta sexta-feira só demonstrou estar cansado. Não se tratava de qualquer cansaço, do aspecto físico. Depois de quarenta anos de idade, de perdas e traições, às vezes os pequenos gestos tornam-se irritante dada a mesquinhez daqueles que estão envolvidos. Sanderson ao chegar em casa mostrava-se irritado, não ponto da briga. Nuca tinha sido um homem de briga. Andreia, apesar de nunca ter tido a necessidade do trabalho sabia as causas das humilhações, ela só não sabia qual seria o momento de conta-las.
Agora era a vez de Sanderson ser ajudado, assim como fez à Luciana, desta vez, isso voltada pra si num projeto ousado. Superar tudo com resignação, no entanto, cabia a sua nova companheira a tarefa de falar-lha algo tão evidente, mas que por circunstâncias de perdas ele tinha esquecido. Apesar de tudo não era loucura, tratava-se de um novo jeito do qual precisava acostumar-se.


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