quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Algumas impressões sobre o nada.

Tenho a impressão, que hoje, quanto mais pensamos igualzinho ao sistema político, econômico (e todas as outras crenças dominantes) melhor. Ou seja, menos problema você terá com as pessoas, as empresas, com pessoas que representam algumas (sei lá!). Todo mundo pensando igualzinho, ninguém criando nada porque criar é perda de tempo e não dá lucro ou não vai resultar num lucro no futuro. Tudo é muito imediato. Ninguém discorda de nada. Por vezes fazem coisas que prejudicam a todos, no entanto, todos vivem como se nada acontecesse. No melhor das hipóteses ficam em piadas, sem a menor graça e, tudo continua como está. Talvez, seja essa uma condição cultural nossa. Não vou entrar muito nesse assunto pra não ferir “egos”, deixa essa coisa de cultura pra lá. Essa coisa do igualzinho é interessante. Ninguém fala nada sobre tantas aberrações sociais desde que alguém diga: “isto vai ser bom pro nosso povo. Traremos inúmeros investimentos. Ou ainda: Este sistema de saúde é tão bom que dá vontade de adoecer” E não é que o camarada chegou a passar mal! A preocupação foi tamanha com a saúde que o tiraram do magnífico sistema de saúde que era elogiado para um outro que não precisa de elogios; os valores do boleto falam por si. As pessoas acham isso normal. Esta semana vindo de metrô entrou um desses pedintes que fazem muitos chorarem de tantas desgraças nas costas de um só; a conversa dele foi um pouco diferente: “Passageiros. Desculpa! Eu sei que não é fácil fazer o que estou fazendo: estou me humilhando...” (ele começa a chorar – duas senhoras, fixam olhar nele) “Tenho sopro no coração, a qualquer momento posso morrer. Posso morrer agora, ai, ai, um dia Deus vai me levar” (respiração ofegante e choro) “Quero pedir uma ajuda. Não posso trabalhar e minha mulher tem um problema na cabeça. Era pra tá internada mas não quero deixa-la num hospital do SUS, lá vai ficar jogada, lá ninguém cuida, vai ficar vendo gente morrer. Se tivesse dinheiro pagava um prano de saúde e botava no português, pra ser atendida pelo DOUTOR. Lá tem uma enfermeira que vai acompanha-la. Ai Meu Deus é muito sofrimento. (uma das senhoras que o olhava balançou a cabeça e chorou). Não sei como explicar muito bem mas, o clima não ficou bem. As pessoas pareciam culpadas ou sensibilizadas. Senti-me, também um pouco culpado mas, por não cair na conversa do senhor que pedia dinheiro. Mas o falatório não parou ai. Depois do momento sobre a família veio a parte dele: “pessoal, eu poderia estar fazendo coisa errada. Eu sei como buscar muito dinheiro mas, não faço, porque me entrego nas mãos de Deus” (ele parou de chorar, passou de um lado e outro do vagão depois complementou) “tem gente que dá dez centavos mas Deus vai dá muito mais a ele, tem gente que pensa errado e não dá nada, ignora (meu caso!) mas não pensa que é melhor pedir, ser honesto que uma ajuda não vai fazer falta. As vezes vem o ladrão com o espírito do mal, que quer matar, ai a pessoa perde tudo, às vezes até a vida” (vi que muitos davam atenção a ele, alguns concordavam, inclusive) Depois de quatro estações ele desceu. Correu pra dois vagões seguintes. Perai! Eu disse: ‘correu pra dois vagões seguintes’. Mas antes ele não afirmará de uma fragilidade? Esse senhor devia ter uns 45 anos. O que chama atenção nisso é que ninguém teve coragem de questionar. Alguns baixam a cabeça. Apesar de ter dito a verdade sobre a porcaria de sistema público de saúde, as pessoas concordam que a solução é adotar algo ainda pior. Sem falar do sentimentalismo, todos tem que ser sentimentais. Não estou dizendo que não devamos nos sensibilizar mas, mudar o foco. Como todo mundo pensa igual e acha que a caridade pode ser condição de alguma coisa, fica bem complicado. Por que este senhor não pode ser o ideal a ser buscado. Como? Ao invés da ‘pena’, porque não pensarmos o que ele representa? Falo tudo isso porque cheguei a fazer um comentário quando este pedinte saiu correndo do trem. Algumas pessoas que estavam do lado quase me agridem, por achar que estava blasfemando contra Deus ou contra o sentimento de piedade imposto sob ameaça de ser bom ou mal por este senhor. Esta é a sociedade que vivemos, na cidade que nunca cresceu tanto mas, que também, nunca viu tanta alienação e falta de criatividade de seus cidadãos (no sentido mais aristotélico da palavra). Só para terminar, ao vê este senhor - que pra mim soou tão ameaçador – lembrei de um livro muito bom e que mudou um pouco minha visão sobre problemas sociais (bem como classes sociais). Primeiro livro de autoria de Eric Artur Blair. Como o livro era bastante polêmico na época (por volta de 1932/33), e muitos editores o tinham rejeitado, nascia o pseudônimo George Orwell com seu primeiro livro “Na pior em Paris e Londres”. Orwell durante dois anos fez a experiência do que seria viver sem dinheiro. O é uma descrição de fatos e personagens e mostra muitos destes estereótipos que falei. Confesso que não sei as razões de está escrevendo isso diante de tanta coisa que tenho em minha mesa á dar conta. Talvez, seja este sentimento que não estamos indo a lugar nenhum, neste momento, onde tudo parece perfeito. Talvez, por um sentimento de indignação ante a hipocrisia, ou melhor, do sistema hipócrita do qual temos que nos submeter para garantir o pão nosso (no sentido mais cristão – só um detalhe: sou cristão), talvez caiba agora: “perdoai minhas ofensas ... assim como àqueles que não nos perdoam”. Talvez seja a necessidade de recomeçar, levantar a cabeça e seguir em frente.
Imagem retirada do site: http://fotos.sapo.pt/bloguecafes/fotos/evolution-humour/?uid=fUF2ymZ58KFCjaaReu4v

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