quarta-feira, 11 de julho de 2012

Pausa no Exílio

Queria escrever qualquer coisa. A mente fervia depois dias longe do exílio, na Republica Teocrática de Algum Lugar (sigla: RTAL). Revirei todas as gavetas. Encontrava pequenos pedaços de papel, receitas, manuais de celulares, panos de pratos, ferramentas, menos papel em branco. Lembro que na época em que morava em Picuiá, sempre tinha papel em branco. Sempre gostei de fazer garranchos numa folha em branco, mesmo escrevendo anotações no computador, vez por outra utilizo a folha em branco. No último domingo, precisava de uma folha em branco. Antes tinha tentado computador, mas, os dois estavam no colo: um ocupado e preocupado em visualizar a última luta de UFC e o outro, concentrado nos estudos. “Sem chance, melhor deixar” pensei. Fui pro quarto. Deitado, numa necessidade, quase uma compulsão fazia meu cérebro ferver. As. mãos mexiam de um lado pra outro. Levantei, procurei novamente. Perguntei aos que estavam na sala se sabiam onde tinha papel. “Tem um caderno na minha bolsa” Dei um sorriso. Podia, agora, satisfazer minha necessidade. Caderno grande, relativamente novo. Como sempre ando com caneta... Folhas branquinhas. Fui pro quarto. Antes de chegar do banheiro um som irritante, pelo menos aos meus ouvidos. Sempre tive dificuldades de compartilhar gostos musicais, tudo bem, me consola que a música não era hino evangélico ou alguém gritando algo parecido. Pretendia escrever alguma coisa sobre Picuiá, algo que pudesse somar ao romance (que por sinal está parado por falta de tempo...), a cabeça ferve neste lugar. Com a folha em branca percebo que não há nada à acrescentar. Diferença: só com alguns que ficaram mais velhos. Pra dizer que não há nada de novo, existe mais igrejas evangélicas. Alguns bares e restaurantes fecharam pra darem lugar a templos religiosos. Picuiá não podia ser diferente, acompanhou a tendência, com a diferença que o som em Picuiá é bem menor se comparado à República RTAL. Esses dias longe do exílio fez esquecer alguns problemas. Fez pensar que o tempo passa. Passa pra todos. Segundo, que apesar da cidade ter a possibilidade de desfrutar de tecnologias e está ligada por meio de seus usuários em redes, ou mesmo tendo acesso a outros tipos de informação, não significou mudança de comportamento na vida dos seus cidadãos. Isso de alguma forma reacendeu a vontade de continuar acreditando que é possível fazer algo além da própria existência meramente corriqueira do trabalhar, comer, trepar e morrer. A experiência de estar morando num lugar pobre, sem serviços de cidadania, com ausência de um mundo laico civilizado me faz pensar nas mesmas condições em que vivem a população de Picuiá. Resumir a existência a um projeto de eternidade sem dar conta de que é preciso se desenvolver, também, no mundo material. Procurar de alguma forma dar um sentido que vá além. Sem a presença de lideres políticos e religiosos sempre tão bondosos a nos falar o que é certo e errado e, a população como bom cordeirinho seguindo (a ideia de pastor e de rebanho que precisa seguir um caminho me faz pensar nisso). A experiência neste exílio social, onde todos àqueles que se diziam meus amigos se afastaram, tem feito me redescobrir, de pensar em possibilidades que mesmo se não forem alcançadas, servem de referência. Picuiá e o Exílio fazem parte de algo que é apenas um mural que preciso visualizar, espero que este segundo, passe logo, quanto ao primeiro, será a referência, sempre. Tudo isso foi apenas uma pausa. Em breve será preciso suportar a distância que não é apenas física, isso lembra o filosofo Jaspers citando Kant: “nenhum homem pode ser, para outro, apenas meio; cada homem é um fim em si mesmo”.

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