terça-feira, 17 de julho de 2012

O dia está horrível

Hoje o dia está horrível. O olho de Guilherme, também, está horrível. Minha cabeça e capacidade de pensar está horrível. Esta porra de favela no qual estou enterrado está horrível. Enfim, não há a menor possibilidade com que se alegrar, porque tudo simplesmente é cinza. A terça de cinzas, minha terça de cinzas, onde mergulho num cansaço eterno, onde a possibilidade de morte como todos os outros me assusta. Este dia horrível não é só deste dia horrível, vem de outras datas. Vem de mudanças inesperadas, de abandonos e inimizades que se formam ao longo dos tempos. Não é apenas hoje que o horrível toma conta dos meus pensamentos. Em alguns dias isso é ainda pior. Quando não há sol, quando não há uma palavra amiga, quando tudo perde a graça, quando suas referências não passam de baus cheios de velhas lições morais que nem eles acreditam. Enfim, quando você sente uma dor no peito tentando gritar e não consegue. O dia está horrível, não é de hoje. É de ontem de muitos anos atrás, hoje apenas o sol não apareceu e a pessoas que você mais amam, também, não acordaram bem. É horrível porque não consegui ainda me sintonizar. Dizem que tudo passa. Acredito. Não somos eternos. Enquanto isso vou seguindo sem fazer a menor questão de me conformar com tudo isso. Sem medo dos meus desafetos, engolindo a seco a pia suja, com pratos de três dias, a casa suja, os cadernos de anotações jogadas, minha baixa disposição pra continuar vivendo, porque não vejo sentido nesta porra. O dia está horrível. Espero que continue assim pelos próximos séculos. Enquanto isso, vou deixar tudo de lado, sentar no chão sujo pegar um livro e ler, ler sem preocupação, esperando esta merda de vida passar, esperando que as horas passem. O dia está horrível, no entanto, é o único que temos. Coisa meio parecido com o cú, só temos um, apensar de termos várias formas de jogarmos nossas merdas. O dia está horrível. Sinto fome. Meu coração bate descompassado. Não é a morte. É o sufoco da vida ou da vida que nos sufoca.

Nenhum comentário: