quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Só doido pra gostar disso

Tomou dois comprimidos. Precisava ficar calma, duas semanas dentro de casa sem poder sair causava-lhe verdadeiros arrepios. As consequências,l como sempre, desastrosas. Mal humor, nenhuma vontade de fazer sexo, ah! Desculpa, nenhuma vontade pra fazer amor com seu benzinho. De duas em duas horas, tomava um banho, depois olhava-se no espelho e dizia pra si: não vejo a hora de tomar meu rivotril. Os dois primeiros que tomara minutos antes não era o rivotril. Aspirina pra ficar com a cabeça doendo menos mas, afinal, porque a cabeça dela doía tanto. Que porra loca meu Deus, não tinha o que fazer. No final do dia, tomou outro banho. Dessa vez não foi pro espelho, não precisa, tá horaaaa, obaaaa. Tomou seu rivotril e disse: “pronto benzinho agora vou fazer uma coisa, vou viajar pra uma terra bem distante. Quero ver o pastoril, reviver as tradições de pessoas que moram bem longe da cidade grande”. Benzinho ficou calado. Fazer o quê? Benzinho sempre ficava calado, tudo que pretendia era ficar velho, porque sabe que ao chegar nessas idades pouca coisa importa, fica mais fácil esperar. Benzinho gostou da ideia e foi mais longe, comprou um carro zero quilometro para que sua paixão não viajasse nesses ônibus sujos e sufocantes. Se viajasse com transporte coletivo a viaje demoraria cerca de cinco horas mas, com seu novo e mega veículo chegou em duas horas. Foi pra uma cidadezinha bem tradicional, no final de ano sempre fazem a festa, tudo bem igualzinho. Decoram o poste com lâmpadas incandescentes com formato de imagens que lembrem o nascimento de Jesus e o surgimento da cidade. Na praça principal os fazendeiros doam suas cercas pra que um grande vão da praça seja interditado. O legal da festa é o seguinte. Durante todo o ano as pessoas vivem como se morassem num curral, cercados e se tentar sair vai parar no curral alheio, no final do ano nas festas, são os donos do curral que ficam encurralados. De frente ao curral um grande palco com as atrações locais e internacionais. Os que estão do lado de dentro do curral tem a dura missão de assistirem de dentro toda a programação, além disso, arrematarem galeto doado por alguma família, ouvirem o locutor chamar o nome de alguém e, serem observados pelas pessoas de fora. Os filhos da cidade que moram fora, como sempre, visitam casa por casa pra falar das novidades fora da pequena cidade e dizerem o quanto sentem morarem fora. É uma coisa realmente muito bonita. Quando nossa amiga chegou a esta cidade surpreendia-se. Um grande funeral. Seu carro seguia lentamente, fez questão de acompanhar até o cemitério. Interessante. O cemitério fica numa cerra, as pessoas sobem pra enterrar seus mortos. Nossa amiga subiu e de cima contemplava a vista das montanhas ao redor, escutava o assoviar do vento, sentiu um arrepio mas, tudo bem, era só um pingo de sua loucura. A terra seca levantava a poeira do último adeus. Ela não sabia quem era mas, viu muitos jovens chorando. Se fosse na cidade grande poderia dizer que tratava de algum artista tim pop popular mas, lá quem poderia ser? Ficou de longe pra sair por último. Um lugar calmo, nunca tinha pensado nisso, lá não há indiferenças pensou alto. Preferiu ficar com a indiferença. Desceu a grande ladeira, animada pra fazer turismo. Chegou no centro da cidade. O único hotel abrigava a delegação artística para as festas de final de ano. O que fazer? Sentou-se no capô do seu carro novo. Não demorou para que dois rapazes vestidos em roupa de couro aproximasse e perguntassem se precisa de alguma coisa. Eram muito feios, um deles só tinha um dente na boca. Ela ficou com medo, entrou no caro e ficou lá. Daqui a pouco chegam os seguranças do prefeito e fazem a mesma pergunta. Esses eram mais arrumadinhos mas só isso. Percebia-se que o único objetivo na vida daqueles miseráveis era agradar o prefeito. Também, não respondeu nada. Chegou a noite. Nossa amiga queria entrar no cercado. O cercado até que era bonitinho. Umas moças trabalhando pra servir bebida e cortar os frangos que eram arrematados, sem falar nos outros pedidos, muita gente com sotaque diferente e, cada frase sempre diziam “ôô locô meu”. Parecia algo de outro país, até porque eram pessoas mais gordinhas com relógios dourados, correntes grossas em penduradas no pescoço. Por que não entrar num local tão gostoso. Nossa amiga tentou mas, foi barrada pelo mesmo segurança que lhe abordara algumas horas atrás. Como não tinha o que fazer, ficou em pé ao lado da cerca, igual a muita gente que estava em volta. Percebeu que as pessoas prestavam mais atenção nas pessoas que estavam nas mesas do que propriamente nos shows. Os que não prestavam atenção, passeavam pelas ruas. Chegou a vê a mesma pessoa passar doze vezes no mesmo local, sempre acompanhada da mesma pessoa e rindo. Quando deu umas três horas da manhã resolveu ir embora e, procurar amarrar seu jegue em outro lugar.

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