quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Dia do aniversário


Dia vinte de algum mês na cidade de Picuiá. Marcos na fila do banco. Velhinhas e velhinhos de um lado pro outro querendo serem atendidos o mais rápido possível. Dia de pagamento, até a prefeitura resolveu fazer o seu depois de cinco meses. A cidade parecia mais feliz. Motoristas de lotações aguardavam ansiosos para que alguns fossem até a cidade vizinha realizarem suas compras mais sofisticadas. O que Marcos pretendia era pagar sua conta de luz, água e fazer um depósito para confirmar sua compra de livro. Depois de quarenta minutos, sentindo dor na barriga tamanha a náusea que sentia naquele lugar cheio e abafado desistiu. Do lado de fora encontrou com Dona Filó:
- Olá meu filho – era assim que chamava todos os amigos do seu filho – como vai? Não esteve no aniversário de Juninho! – completou.
Desde a coroação de Juninho como Mestre pela Casa do Saber, Marcos sentia-se afastado do grupo. Os negócios entre os dois diminuíram sem falar dos acordos políticos sendo feitos de maneira individual e todos sem a sua presença.
- Oi Dona Filó – disse Marcos gentilmente, na hora pensou em ter uma reação mais explosiva, no entanto, manteve a cordialidade e prosseguiu: - A senhora não está sabendo?
- De que? – Perguntou surpresa
- Sou um homem simples, muito longe da condição social da senhora e do seu filho que agora é um senhor ilustre, um MESTRE - disse Marcos com ênfase, fazendo gestos de firmeza com a mão – é um novo estilo de vida que só podem conviver com pessoas do mesmo nível – Marcos notou que a velha parecia surpresa com a reação dele – Tem mais – prosseguiu Marcos – sou considerado pela mulher de seu filho um bêbado alcoólatra, meu afastamento é a melhor coisa pra todos.
Dona Filó ficou pálida, no entanto antes que partisse Marcos conseguiu dizer algumas palavras:
-Sou pobre, alcoólatra, um idiota, não tenho família rica nem de tradição e muito menos, aliás muito muito longe disso, terei a possibilidade de entrar na Casa do Saber e ser mestre.
Depois quem saiu foi Marcos, bastante chateado pelo fato de mais uma vez ter sido escanteado . Tinha consciência que àquele era o momento de sair e recomeçar uma nova profissão.

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