domingo, 6 de novembro de 2011

Calor. Coco. Um miserável

Nove horas da manhã, muito sol pra variar. Mesmo cansado, por uma noite mal dormida, saímos em busca de resolvemos questões peculiares. Os ônibus, como sempre nesta cidade multicultural e maravilhosa, lotados, cheio de pessoas indiferentes a lotação e o sofrimento habitual mas, o que importa tudo isso? É provisório. Compro meu carro e pronto! Por isso seguimos todos os dias nesses tumbeiros ao nosso trabalho, tão digno. Enfim, chegamos. Resolvemos tudo tão rápido, seguíamos pra um lugar mais distante. Onze horas da manhã, o chão a ferver, a boca sedenta pede algo pra aguentar as intempéries. Avistamos um quiosque de água de coco.
Duas águas, por favor – pedi
Tamanha a sede que rapidamente sequei o coco. Esperava que A. bebesse, também, o seu. Enquanto aguardava chega uma mulher que pergunta o preço:
dois reais – disse o vendedor, enquanto recebia o pagamento pelas duas que acabará de abrir.
Eu quero – respondeu a mulher que parecia assustada.
E, estava mesmo assustada. Um homem, aparentando ter uns trinta anos, sujo e vestido apenas com bermuda vermelha aproxima e diz para todos:
Me dá um dinheiro, qualquer moeda.
Fiquei bastante assustado pela maneira como fez a abordagem. Chegou muito próximo de mim. Tinha, de longe, visto puxar a carteira do bolso e tirar o dinheiro. Ele insistiu:
Me dá ai qualquer coisa.
Desta vez tentou intimidar a A. e a mulher que bebia o coco. Vi que nessa hora o proprietário tinha pego o facão. Fiquei preparado para uma possível reação de ambos, pronto para avançar caso tentasse tomar a bolsa de uma das mulheres presentes. Um sentimento de ódio tomou conta, tinha vontade de chutá-lo, autocontrole nessas horas é importante. Isso fez que pudesse observá-lo melhor. Trata-se de um morador de rua, os olhos velhos, certamente, consequência de drogas , fedendo a merda e mijo – fendendo ao próprio cheiro da cidade. Depois que A. tomou sua água saímos. Olhei para trás duas vezes. O infeliz ainda insistia com a mulher que ficou, o dono do negócio dessa vez o enxota como se fosse um cachorro. Durante o caminho pensava nas possibilidades de saída àquela situação. Tinhas chegado a conclusão: “da minha parte, nenhuma”.
Algumas horas depois, já em casa pretendia sair, tomar uma cerveja gelada. Depois de alguns dias de fome, tinha o dinheiro mas, ninguém pra me acompanhar. Voltei a pensar naquele homem sujo e sem objetivo na vida, a não ser pedir algo à sua sobrevivência. Não tive razão ao ter raiva dele, porque pouca coisa me diferencia dele, muito pouca coisa. Ambos em algum momento é considerado a escória. Muitos amiguinhos, no habitual cinismo, quando riem ou trocam palavrinhas amigas nada mais fazem que esconderem todo o preconceito. Onde estão todos eles no momento como esse? Nas festinhas de aniversário, não me chamam porque sou tão sujo quanto àquele miserável, fudido na minha condição de quem viver sob a ajuda dos outros. Cometi um erro: não tinha me dado conta que era tão igual a criatura que todos repugnam pelo seu cheiro. É isso! Teria mais coisa a falar se não tivesse perdido a concentração por coisas banais, como sempre.

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